Pergunta do José Vanderlei Leite, Consultor e Conselheiro de Empresas, para a Coluna Conselho. Confira a baixo a resposta da colunista Marcelo José de Aquino.
Corrupção, desvios, subornos, práticas espúrias, entre outras mazelas, abarrotam o noticiário diariamente há muito tempo. Se os números divulgados forem mesmo verdadeiros, o combate a essas práticas deveria ser uma prioridade nacional.
As vezes temos a impressão de que tais atos ocorrem apenas quando há um ente público envolvido — o que não é verdade. As empresas são desafiadas diariamente em transações que envolvem escolhas entre fazer o certo ou o errado. A pesquisa da PwC intitulada “Pesquisa Global sobre Fraudes e Crimes Econômicos 2024” revela uma percepção preocupante:
“…os riscos de corrupção estão avançando ou, ao menos, permanecem estáveis. Quase 7 em cada 10 entrevistados compartilham essa visão. 43% acreditam que esses riscos estão no mesmo patamar, 26% consideram que o cenário piorou e apenas 13% percebem redução. Há ainda um grupo significativo de 19% que não sabe ou não tem certeza. No Brasil, o cenário é semelhante: 42% dos entrevistados acreditam que o risco está estabilizado, enquanto 31% observam um aumento”.
Não existem controles suficientes que eliminem totalmente atos ilegais quando há intenção deliberada de praticá-los (Exemplo o caso da Americanas) — especialmente em casos de conflito de interesses. Contudo, não são necessários controles excessivos quando se tem pessoas com verdadeiro compromisso ético. Esse compromisso precisa vir do topo (o conhecido tone at the top) e fazer parte da cultura organizacional. A alta liderança deve dar o exemplo — e disseminá-lo.
Talvez a empresa perca alguns negócios e o concorrente, no curto prazo, obtenha resultados mais lucrativos. Mas manter-se ao lado da ética e da moral é um passo fundamental para a longevidade dos negócios.
Embora digam que o brasileiro tem memória curta, acredita-se que, no futuro, os negócios serão cada vez mais feitos com empresas comprometidas com a ética, a verdade e a responsabilidade social. Mais relevante ainda será a decisão dos colaboradores — atuais e futuros — ao avaliarem se querem associar seu nome a empresas envolvidas em atos ilegais, onde os valores éticos são apenas parte da decoração da recepção.
Mais do que quadros com missão e valores nas paredes, precisamos colocar em prática a ética e a legalidade no dia a dia. O tempo está passando, e precisamos assumir essa batalha antes que a praga dos atos ilegais se normalize e concretize a amarga frase de Rui Barbosa:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
Se isso ocorrer, estaremos todos perdidos.

Marcelo José de Aquino
Sócio da Ganplo Treinamento e Governança, Membro de Conselho de Administração e Consultivo de empresas.