Por Rafael Mesquita
As mudanças no perfil das famílias brasileiras têm grande impacto na relação entre humanos e pets. Houve um aumento de casais que optam por não ter filhos, ter apenas um ou adiar por mais tempo a chegada de um bebê. Nesse contexto, muitos buscam a companhia de um pet. Há algum tempo, os animaizinhos deixaram de ser apenas bichos de estimação para se tornarem verdadeiros membros da família. Para muitas pessoas, não é exagero considerá-los filhos que precisam de um adulto sempre por perto e exigem todo o cuidado e a assistência necessários.
São oferecidos planos de saúde — que incluem consultas, exames e internações veterinárias —, banhos, tosa, comida natural com carnes selecionadas, verduras, frutas e legumes, tapetes interativos e roupas temáticas que vão de Papai Noel e Bob Esponja a Pikachu. Mas não é só isso: há ainda produtos e serviços mais curiosos, como campainhas para o pet apertar quando quiser fazer suas necessidades, botas antiderrapantes para protegê-los em dias de chuva e até sorvete, cerveja (petisco líquido sem álcool) e chocolate (sem cacau, aditivos químicos ou conservantes).

O mercado está atento a essa nova realidade, que estima que o Brasil possui a terceira maior população “pet” do mundo — algo entre 150 e 160 milhões de animais de estimação.
“Essa transformação no formato familiar é a grande responsável pelo crescimento do setor. Temos clientes que gastam até R$ 10 mil em um único mês na nossa clínica”, afirma o médico veterinário Hebert Justo, sócio-diretor da + Pet, clínica iniciada há quatro anos em Goiânia e que atualmente tem unidades em Aparecida de Goiânia, Brasília, Águas Claras (DF), Campinas (SP) e São Paulo.
Oferecendo serviços como consultas, internações, cirurgias, UTI, ultrassonografia, raio-X, exames de sangue e vacinas, Hebert observou um crescimento de 300% nas vendas em comparação com 2024. “Mas o que mais gera surpresa nos clientes é o plano de saúde veterinário. Fomos pioneiros nesse tipo de serviço em Goiânia”, explica. A novidade chamou atenção também fora de Goiás, já que a empresa foi a primeira no Brasil a oferecer um modelo verticalizado — ou seja, com hospitais próprios para atender aos planos.

Lar mais alegre e feliz
A pequena Lila tinha apenas 60 dias de vida quando a assistente social Larissa Viana chegou em casa com a cachorrinha da raça shih-tzu para apresentá-la ao marido, o engenheiro civil Otávio Carneiro. Ele ficou surpreso com a novidade, já que o casal passaria a ter uma nova companhia no apartamento onde vivem, no Setor Oeste, em Goiânia.
Atualmente com 8 anos, Lila é o xodó da casa e ganha até festa de aniversário, seja na própria residência ou na creche que frequenta. As comemorações são temáticas, com decoração, lembrancinhas, bolo e docinhos próprios para pets. “No último ano, a festa foi na creche. Chamamos os amiguinhos e as tias que cuidam dos bichinhos. Mas é claro que a mamãe e o papai também foram para participar e tirar fotos”, brinca Larissa.
O custo médio mensal com a cachorrinha é de R$ 1.000, valor que inclui alimentação (ração, petiscos e carne), higiene (banhos e tapetes higiênicos), creche e cuidados com a saúde (vacinas, remédios, vitaminas e veterinários). “Mas tem mês que esse valor sobe até 60%, principalmente por causa de problemas de saúde, com gastos extras em exames e medicamentos”, explica Otávio. Para o casal, porém, vale cada centavo. “O amor e a amizade do pet não têm valor financeiro que pague. A casa fica mais alegre, a vida mais feliz com os nossos bichinhos”, emociona-se Larissa.
Mercado pet em alta no país
O mercado pet brasileiro faturou R$ 75,4 bilhões em 2024, um aumento de 9,6% em relação a 2023. Segundo a Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa), Goiás representa cerca de 3% da movimentação nacional do setor.
A venda de alimentos industrializados para animais de estimação encerrou o ano de 2024 com R$ 40,8 bilhões, o equivalente a 54,1% do total do setor. Em seguida, aparecem a comercialização de animais por criadores (10,8%), produtos veterinários (10,4%) e os serviços veterinários, que ocupam a quarta colocação com 10,2%.
Supermercados no universo pet
Atualmente, é difícil encontrar um supermercado que não tenha uma seção petshop em destaque. Os lojistas acompanharam as mudanças no comportamento da população. “Até pouco tempo atrás, nenhuma loja permitia a circulação de animais de estimação. Hoje, a realidade é outra. Esses animais são considerados filhos ou membros da família. Daí a importância desse segmento para os supermercados, que são espaços, por excelência, para atender toda a família”, avalia Augusto Almeida, superintendente da Associação Goiana de Supermercados (Agos).
A estimativa é que o mercado pet movimente cerca de R$ 90 milhões por mês nos supermercados goianos, o que representa de 2% a 5% da receita do setor no Estado. Os itens mais vendidos são ração e petiscos para cães e gatos, coleiras, acessórios, caminhas, brinquedos e areia sanitária, segundo o superintendente da Agos.
