Se o Sol tivesse o tamanho de uma bola de basquete e morasse em Uberaba, Minas Gerais, a estrela mais próxima — Próxima Centauri — estaria em Nova York. Nessa mesma escala, todos os planetas, cometas e corpos celestes entre esses dois astros formaram, no máximo, uma bolinha de pingue-pongue. Isso nos mostra algo curioso: mesmo dentro de galáxias, onde a matéria se concentra, o vazio ainda é o que predomina.
E não para por aí. As galáxias ocupam apenas 0,00008% do universo. Em outras palavras, se o universo tivesse o tamanho do Brasil, as galáxias ocupariam apenas o equivalente ao Bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. O resto seria puro vazio.
A coisa fica ainda mais fascinante (ou desconcertante) quando olhamos para dentro da própria matéria. Se ampliássemos um átomo até o tamanho de um campo de futebol, toda sua matéria — prótons, nêutrons, elétrons — não passaria de um grão de areia no meio do campo. Ou seja: até naquilo que pensamos como “sólido”, a regra é o nada.
Em resumo, o universo é feito quase inteiramente de vazio. O que tem “conteúdo” são as exceções.
Mas então nos voltamos para a política — e aí tudo parece funcionar ao contrário. Em vez do vazio como regra, temos a ocupação total. Espaços vagos são raros, e, quando surgem, são preenchidos quase instantaneamente — muitas vezes, não por quem deveria ocupá-los, mas por quem simplesmente pode fazê-lo.
Nos últimos governos, assistimos ao esvaziamento do Poder Executivo, ao passo que o Congresso Nacional passou a controlar o orçamento e outras atribuições que, historicamente, não lhe pertenciam. Ao mesmo tempo, o próprio Congresso se omitiu do seu papel principal: legislar de maneira clara, eficaz e responsável. Essa omissão abriu caminho para que o Poder Judiciário extrapolasse seu papel de intérprete da lei, assumindo também o papel de legislador — criando regras novas, preenchendo lacunas, interferindo.
O problema: quem vigia o vigia? Quando o Legislativo erra, o Judiciário pode corrigir. Mas quando é o Judiciário que toma a frente da criação das normas, mesmo que de forma torta, não há outra instância para corrigir a rota.
Nesse cenário de poderes que se expandem como gás em recipiente aberto, preenchendo todos os espaços possíveis, a sensação é de que estamos mesmo num universo paralelo. Um universo onde o vácuo não é ausência — é disputa. Onde a densidade é tamanha que dois corpos, ao que parece, ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo.
Diante disso, talvez seja o caso de pensar o impensável: começar do zero. Reinventar o Brasil. Redefinir os papéis, recuperar a clareza dos limites entre os poderes, fortalecer as instituições que deveriam proteger a democracia — e não sufocá-la.
Chama o Cabral de novo. Vamos regravar a cena. E, quem sabe desta vez, acertar o roteiro.

Dênerson Rosa
Advogado, fundador da Sociedade de Advogados Dênerson Rosa, mais de 20 anos de atuação em Direito Tributário e Empresarial.