Ele nasceu em Franca (SP) e só desembarcou em Goiânia aos 8 anos. Hoje, tem 70 ANOS. Ele é DIMAS ANTÔNIO DE PAULA. Filho de mãe goiana e pai paulista. O avô (Felicíssimo do Espírito Santo) foi telegrafista pioneiro na antiga capital do Estado, na cidade de Goiás. Pai (Durval) e Mãe (Anitinha) criaram um LUTADOR.
Dimas lutou 59 ANOS no tatame. Para fazer aula de Karatê, arrumou emprego no Ipasgo, como datilógrafo, aos 12 anos. “Meu pai não tinha dinheiro. Eu comecei a pagar meu karatê”, relembra, reforçan do que o esporte virou sua profissão.
Sua academia, a Banzai, foi fundada em 1986. Ano que vem, completa 40 anos. “Eu dei aula muitos anos no Jockey Club e na Escola de Oficiais da PM. Faço 59 anos de tatame em agosto. Eu comecei no karatê no dia 4 de agosto de 1966, com um pioneiro do karatê no Estado, o professor PEDRO MIZUKAMI.”
O karatê e caráter andam juntos. “A gente aprende com os alunos e ensina. A arte marcial é uma troca de disciplina, respeito, foco, direção, saber e formação de caráter. Hoje eu recebo na Banzai a terceira geração: avô, o filho e o neto.”
“Com meu tatame, eu criei três filhos, todos bem-criados: a Yasmin, o Declier e o Ian. O objetivo maior na minha vida eu alcancei, foi dar uma educação muito boa aos meus filhos.”
Dimas lutou 30 dias em uma cama de UTI. A covid-19 quase o levou, em agosto de 2020. “Eu tive praticamente 95% do pulmão tomado. Tive uma PARADA CARDIO RESPIRATÓRIA de cinco minutos. E essa vitória, eu fico emocionado (pausa). Foi uma luta. Um sufoco.”
“Eu passei praticamente 30 dias em uma UTI, entubado e pronado (de bruços). Eu fui no fim do túnel.”
E o que tem no fim do túnel?
“No fim do túnel, eu vi muita gente que eu amava demais. É difícil! Ali eu via tio, amigos, médicos me examinando com aparelho. Conversava com minha tia, com minha avó, sabe? Foi uma viagem louca. Eu ouvia, conversava, mas tudo sem reagir.”
“Eu não sabia que eu ia ser entubado, de repente aparecem médicos, enfermeiros… Aí eu falei, vocês vão fazer alguma experiência comigo? Eles falaram, não, vamos te dar uma dipirona. Aí eu fui entubado, depois quando eu saí eu nem sabia que tinha sido entubado. Eu voltei.” “Essa gratidão toda e a todos que eu tenho no coração. Quando você volta, você passa a valorizar tudo, cada momento, cada pessoa. Você vive com mais intensidade. Só sabe quem viveu. Quem sobreviveu. Só quem vai lá no fundo que entende o que é que é o primeiro pedaço de luz.”
“Tinha um katá (luta imaginária) que diziam que quem o que o fez, morreu, sem terminar o katá. Ele finaliza com três pulos para terminar no mesmo lugar. Então, uns falavam que você pulava na perna, na barriga e na cabeça do inimigo. Mas aí, lá, na UTI, eu descobri que, na verdade, os pulos eram o Pai, o Filho e o Espírito Santo.”
O karatê foi muito importante na minha salvação, vou te falar o porquê. No karatê tem o katá, que é a forma de luta imaginária. E cada um tem uma história. Uma de superfície, outra de montanha e outra de pântano. Na UTI, eu me senti no pântano, como se eu estivesse no fundo do túnel. E eu fazia o katá, que é como quando você vai no Araguaia, você pisa assim para não ter uma arraia, você sabe?
Dimas de Paula
Então eu fazia esse movimento todo mentalmente.”
Quantas vezes você fez isso por dia?
“O tempo todo. Milhares de vezes.”
