Por Rafael Mesquita
Imagine uma empresa em que todo o banco de dados dos clientes é criptografado, e que esse sistema sofre um ciberataque que impede o acesso da máquina aos arquivos armazenados. Se a companhia não conta com um profissional de tecnologia da informação que realize as medidas preventivas necessárias — como a instalação de antivírus, a atualização dos computadores e a realização regular de backups (cópias de arquivos para segurança) —, poderá ficar sujeita à exigência criminosa, por parte de hackers, do pagamento de resgate para recuperar as informações.. Mesmo assim, segundo especialistas, o pagamento do valor não garante que a empresa conseguirá restabelecer o acesso aos dados. Nesse tipo de ciberataque (conhecido como ransomware), os hackers sequer costumam deixar rastros.
O cenário pode ser desastroso e levar a companhia até à falência. “Imagine se a empresa tiver 50 mil clientes. Nesse caso, como a empresa vai cobrar o que lhe é devido? Ela não sabe mais quem são eles, não tem mais faturamento. É preciso abrir os olhos, porque isso poderá gerar um prejuízo de milhões de dólares”, avalia Stéfany Souza, pós-graduado em segurança em redes de computadores e coordenador de programas finalísticos do Senac Goiás. Além disso, ele afirma que a situação pode piorar caso os dados dos clientes sejam postados na internet. O empresário ainda estaria sujeito a sérias sanções previstas na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
O Brasil carrega o título nada agradável de segundo país com mais ataques cibernéticos no mundo. Em um período de 12 meses, foram registrados mais de 700 milhões de ataques no País, totalizando 1.379 por minuto, segundo o Panorama de Ameaças para a América Latina 2024. O relatório Cost of a Data Breach, da IBM, aponta que o custo médio de uma violação de dados no Brasil é de R$ 6,75 milhões. A pesquisa ainda mostra que os ataques de phishing — que consistem em enganar a vítima para roubar suas informações — foram os mais comuns, com um custo médio de R$ 7,75 milhões por violação.
“Com o maior acesso do brasileiro à tecnologia, aumenta a facilidade para esse tipo de crime. Além disso, com a chegada da inteligência artificial, não é mais necessário ter um conhecimento tão técnico para desenvolver um código malicioso. Por isso, precisamos combater esses criminosos com informação, através de capacitação e treinamento”, destaca Souza. Especialistas apontam que os avanços da inteligência artificial implicam em golpes mais complexos e difíceis de detectar, como o vishing — quando o golpista usa recursos de voz para realizar o phishing, aumentando a vulnerabilidade das organizações. “A cibersegurança e outras tecnologias devem ser inseridas dentro de um plano de segurança nacional. Isso é muito importante para o País”, avalia Eduardo Gonçalves, presidente da Check Point Brasil, empresa referência mundial em segurança cibernética.
Faltam profissionais de TI
Com o aumento e a facilidade dos ataques virtuais, cresce a demanda das empresas por profissionais cada vez mais especializados. Mas onde eles estão? No mercado, a carência é uma realidade. “Existe uma falta de pessoas capacitadas nessa área no mundo inteiro. No Brasil, não é diferente. Oportunidades de trabalho em tecnologia da informação não faltam, faltam profissionais preparados”, afirma o presidente da Check Point Brasil.
“Estamos falando de carência de profissionais especializados que realmente sabem o que estão fazendo, não aventureiros”, explica o coordenador de programas finalísticos do Senac Goiás, Stéfany Souza. E não se trata de salários ruins — muito pelo contrário. “Atualmente, quem está ingressando na carreira em Goiânia e tem uma certificação internacional já tem salário inicial entre R$ 7 mil e R$ 10 mil, podendo chegar tranquilamente a cerca de R$ 40 mil. Esse valor aumenta se for em Brasília ou São Paulo. Caso o profissional se destaque muito, empresas internacionais estarão interessadas e contratam pagando em dólar”, diz o coordenador do Senac Goiás.
Curso Técnico em Defesa Cibernética do Senac
O Senac Goiás acaba de lançar, em parceria com a Check Point, o curso Técnico em Defesa Cibernética, oferecido gratuitamente. Com carga horária de 1.200 horas (cerca de dois anos), ele tem início previsto para 4 de agosto deste ano e será realizado na unidade do Setor Aeroporto, em Goiânia. As inscrições para o processo seletivo do curso já começaram e devem ser realizadas até junho, exclusivamente pelo site do Senac Goiás (go.senac.br).
Para participar, os candidatos deverão atender aos critérios do Programa Senac de Gratuidade (PSG). Voltado para a formação de profissionais em segurança digital, o programa é destinado a pessoas com 15 anos ou mais, que estejam cursando, no mínimo, o primeiro ano do ensino médio. Não é necessária experiência prévia na área.
Segundo o diretor regional do Sesc e Senac Goiás, Leopoldo Veiga Jardim, o investimento na formação profissional acompanha as demandas reais do mercado. De acordo com ele, foram feitas pesquisas e reuniões com empresários de diversas áreas até se chegar a um portfólio de cursos que são importantes para o mercado.
“A grande vantagem é que a parceria com uma líder global em tecnologia como a Check Point coloca o curso em outro patamar, já que os alunos têm uma alta empregabilidade”, diz. O presidente da empresa referência mundial na área, Eduardo Gonçalves, acredita que esse seja um primeiro passo para desenvolver e colocar o Brasil no lugar em que o país deve estar no mundo ciber.
O curso abrange uma série de disciplinas fundamentais para a segurança digital. Os alunos terão formação em administração e configuração de redes Windows e Linux, monitoramento e gestão de redes de computadores, avaliação e gestão de riscos de segurança da informação, testes éticos de intrusão (ethical hacking), análise de malware e engenharia reversa, além de investigação forense computacional.
“O Senac compreende seu papel de transformar vidas através da educação. São jovens que vão ter o seu primeiro grande emprego, o primeiro grande salário da família e que vai mudar de forma significativa a sua realidade social”, afirma o diretor regional da entidade.