Na era digital, o panorama da comunicação foi drasticamente redefinido. Migramos de um modelo de difusão em massa, no qual poucos falavam para muitos, para uma arena onde, teoricamente, todos falam com todos, simultaneamente. Essa transformação, embora repleta de possibilidades, trouxe consigo uma complexidade que abalou um pilar fundamental: a confiança.
O debate público, por vezes, transforma-se num espetáculo de hostilidades, e a busca incessante por validação, na forma de “likes”, tornou as interações perigosamente superficiais. Adicionalmente, a proliferação de jargões e gírias de nicho cria barreiras de entendimento, fragmentando ainda mais o diálogo e alimentando a divergência, cada um fala mais para si que para o outro. Os tigrinhos e o último casal romântico que o digam, a comunicação virou uma torre de Babel com a sua diversidade linguística onde todos se comunicam, mas poucos se entendem.
O saudoso Umberto Eco já alertava para este fenômeno. Ao mesmo tempo que celebrava a internet por democratizar a expressão e dar voz a quem antes não a tinha, ele reconhecia, com sua acidez característica, que essa mesma plataforma amplificava vozes despreparadas, que ele não hesitava em classificar como uma “legião de imbecis”. O ponto crucial é que a informação, em sua essência, não pode ser um mero detalhe ofuscado pela emoção ou pela performance.
Confesso que há dias em que a vontade é de investir mais em Whey Protein para os músculos do que em lucidez para a mente, apenas para sustentar a lona deste grande circo digital que virou a internet. Há momentos que parecem exigir mais força do que clareza. No entanto, é a lucidez que deve prevalecer, pois é por meio dela que a comunicação se torna eficiente e, consequentemente, que os resultados aparecem.
Peter Drucker, o pai da administração moderna, afirmava que a maioria dos problemas em qualquer organização ou sociedade reside nas falhas de comunicação. Isso nos obriga a uma reflexão profunda sobre nossa própria responsabilidade no processo. É preciso aprender a se comunicar de forma consciente e estratégica.
Durante muito tempo, defendi a ideia de que não era responsável pelo que os outros entendiam da minha mensagem. Hoje, vejo essa postura de uma forma completamente diferente. Compreendo que sou, sim, o principal responsável. Se o receptor da minha mensagem a interpreta de maneira equivocada, a falha está na minha incapacidade de codificá-la com a clareza e a precisão necessárias.
Fica aqui um alerta e um convite. Que possamos utilizar os poderosos canais de comunicação à nossa disposição não como um reflexo de nossos impulsos, mas como um filtro, e não como uma máscara ou um rostinho maquiado escondendo a verdadeira realidade. Que a nossa comunicação cumpra seu verdadeiro papel: ser uma força motriz para a melhoria da sociedade, uma ferramenta de construção coletiva, e não um instrumento de segregação.

Fábio Rasi,
Autor e escritor. Mentor de futuros autores. Autor do livro “Minha Avó era Coach e Eu não Sabia”