Por Getúlio Faria
A decisão anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2 de abril de 2025, de impor uma tarifa universal de 10% sobre todas as importações, com sobretaxas para parceiros específicos — como os 20% sobre produtos da União Europeia — marca uma guinada protecionista de grandes proporções no comércio global. A justificativa oficial é a redução do déficit comercial americano e o fortalecimento da indústria doméstica, mas os efeitos dessa medida extrapolam as fronteiras dos EUA e reacendem o temor de uma nova guerra comercial entre grandes economias.
O impacto global pode ser imediato. Tarifas generalizadas encarecem produtos importados, aumentam o custo de vida para os consumidores americanos e pressionam cadeias produtivas que dependem de insumos estrangeiros. Ao mesmo tempo, países afetados tendem a retaliar, criando um ciclo de restrições que freia o comércio internacional, eleva a inflação e reduz o crescimento econômico. Em um cenário já sensível, com desafios geopolíticos e recuperação desigual pós-pandemia, a medida de Trump pode provocar uma instabilidade ainda maior nos mercados e nas relações diplomáticas.
Para o Brasil, o anúncio representa uma faca de dois gumes. Por um lado, setores estratégicos como o agronegócio e a siderurgia, que têm nos Estados Unidos mercados importantes, passam a enfrentar uma nova barreira de entrada com os 10% de tarifa. Exportações de carne, suco de laranja, aço e produtos manufaturados podem se tornar menos competitivas frente à produção interna americana. Isso exige das empresas brasileiras um esforço maior de eficiência, reposicionamento de preços e até diversificação de mercados.
Por outro lado, há brechas a serem exploradas. Como a União Europeia foi mais duramente atingida com tarifas de 20%, abre-se uma oportunidade para o Brasil ocupar espaço em áreas como alimentos, bebidas, têxteis e alguns bens industriais. Se o país conseguir garantir uma boa relação diplomática com os EUA, reforçar sua imagem como fornecedor confiável e oferecer produtos de qualidade a preços atrativos, pode expandir sua participação no mercado americano.
O desafio, no entanto, é equilibrar esse posicionamento com a complexidade do cenário internacional. Caso o Brasil opte por alinhar-se a blocos que respondam com retaliações, corre o risco de ser envolvido em disputas que comprometam seus próprios interesses comerciais. Nesse sentido, a diplomacia econômica terá um papel fundamental: o país precisa agir com pragmatismo, buscando defender seus setores estratégicos, mas sem fechar portas em um ambiente global cada vez mais imprevisível.
A decisão de Trump acende um alerta sobre os rumos do comércio internacional. Ela mostra que, mesmo em um mundo interconectado, as grandes potências ainda estão dispostas a adotar políticas unilaterais com impactos profundos. Para o Brasil, o momento exige estratégia, cautela e agilidade para transformar riscos em oportunidades, protegendo sua economia sem perder de vista as chances de ganhar espaço em mercados em transformação.

Getúlio Faria,
presidente da Câmara de Comércio Exterior da Acieg e CEO da Expert Brasil