Por Rafael Mesquita
Em todo o mundo, os CEOs das empresas travam uma batalha silenciosa para manter a saúde mental em meio à pressão constante. Muitas vezes, essa realidade ocorre pela visão que o próprio mundo corporativo tem desses profissionais. Existe um mito de que o líder é forte e que não pode mostrar vulnerabilidade. Não pode ter dúvidas nem fraquezas. “Aquela ideia de que dar conta de tudo é uma virtude começa a ser repensada. A conta emocional, uma hora, chega — e tem gente que só consegue parar quando o corpo ou a mente já não dão mais conta”, analisa a psicóloga Iardena Helou.
Uma pesquisa da operadora de saúde Omint entrevistou 15 mil pessoas para descobrir quais as doenças mais comuns no mundo corporativo. Rinite, alergia de pele, dor no pescoço ou ombros, excesso de peso e dor de cabeça frequente são algumas das enfermidades mais lembradas. Mas é preciso destacar que os especialistas em saúde tratam o corpo como um todo. Já não se separa mais o corpo da mente. “Atualmente, as pessoas adoecem tanto física como mentalmente. Mente e corpo não só estão interligados como são com plementares”, avalia a especialista em neuropsicologia e terapia cognitivo-comportamental, Jordana Helou.
Ansiedade, depressão, síndrome do pânico, esgotamento/ estafa e estresse ocupacional também estão entre os principais problemas relacionados ao trabalho. “É comum escutar queixas de ansiedade, crises de pânico, insônia, burnout (esgotamento físico e mental em decorrência de situações relativas ao trabalho, incluído na lista de doenças ocupacionais da OMS) e, muitas vezes, uma sensação de vazio, de desconexão com a própria vida. Esse ritmo acelerado não dá tempo de parar e olhar para si, e as pessoas não se percebem. E, quando isso acontece, a pessoa se dá conta de que já está num lugar muito distante de si mesma”, ressalta Iardena.
A diretora de Qualidade da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) e CEO do Hospital do Coração de Goiás, Jacqueline Rodovalho, afirma que, devido ao aumento do diagnóstico desses transtornos, tem crescido a procura por tratamentos holísticos (técnicas variadas usadas de maneira complementar aos métodos tradicionais da medicina), por atividades físicas e por hobbies. “Também têm ganhado destaque as terapias e acompanhamentos por especialistas em tratar a saúde mental, já que, por muitas vezes, os transtornos da mente resultam em doenças físicas”, explica.
Mas isso não quer dizer, necessariamente, que ocorreu um aumento dos casos de transtornos mentais relacionados ao trabalho entre os executivos de empresas nos últimos anos. “Acho que o que houve foi uma maior visibilidade das dores da alma. Durante muito tempo, o emocional era ignorado, até se manifestar em forma de dor física. Hoje, ainda vivemos adoecendo, mas a diferença é que conseguimos nomear esse sofrimento como aquilo que ele é: psíquico”, acredita Jordana. Ela complementa: “Não é que nunca tenhamos valorizado, mas hoje, mais do que nunca, sabemos o quanto a saúde mental — dos nossos trabalhadores e a nossa — é fundamental. Tanto para mantermos a capacidade de trabalho quanto para seguirmos vivendo com sentido”.
As próprias empresas estão mais atentas aos problemas que a rotina do meio corporativo pode provocar no corpo humano. Jacqueline Rodovalho destaca que existem serviços de saúde nos hospitais focados em executivos, como, por exemplo, check-ups periódicos em parcerias com empresas públicas ou privadas. Até a própria legislação tem ajudado a entender que cuidar da saúde emocional no trabalho é essencial. Recentemente, houve algumas atualizações na Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que passou a exigir que as empresas identifiquem e gerenciem não apenas riscos físicos, químicos e biológicos, mas também riscos psicossociais.
Isso inclui fatores como estresse, assédio moral e pressão excessiva por resultados, reconhecendo a importância da saúde mental no ambiente de trabalho. “Esse movimento é muito salutar e bom de estar ocorrendo, pois o trabalho de um executivo é de muita pressão por resultados, muitas informações e tecnologias envolvidas em um mercado dinâmico que exige talento e inovação como competência ao que se propõe, o que acende um alerta com o limite a ser colocado de carga de trabalho e tempo para o autocuidado”, avalia Jacqueline.
Principais doenças no mundo corporativo
PATOLOGIAS
Rinite: 28,97%
Alergia de Pele: 22,41%
Dor no pescoço/ ombros: 19,36%
Excesso de peso: 18,42%
Dores de cabeça frequente: 16,50%
Ansiedade: 18,19%
Asma ou bronquite: 13,47%
Insônia: 10,86%
Colesterol alto: 11,53%
Dor nas costas: 8,52%
Fonte : Omint
Caminhos para se cuidar
A vida de um executivo é marcada por uma rotina intensa, com altos níveis de responsabilidade, pressão constante e, muitas vezes, longas jornadas de trabalho. Esse estilo de vida, aliado ao estresse e à falta de tempo para cuidar da saúde, pode resultar em problemas que comprometem o bem-estar e a qualidade de vida. É nesse cenário que o check-up executivo surge como uma solução fundamental, permitindo o diagnóstico precoce de doenças e ajudando a manter a saúde em dia.
O check-up executivo é um exame preventivo completo, desenhado especialmente para atender às necessidades de profissionais que enfrentam altos níveis de estresse e têm pouco tempo para cuidar da sua saúde. Trata-se de um pacote de exames médicos personalizados para profissionais que vivem sob alta pressão e com pouco tempo disponível. Ele foca na identificação precoce de doenças e no monitoramento de fatores de risco que podem levar a problemas graves, como problemas cardiovasculares, diabetes, hipertensão, entre outros.
Ao contrário de um exame médico regular, o check-up executivo é feito de forma rápida, geralmente em um único dia, e conta com uma equipe multidisciplinar de especialistas. O objetivo é proporcionar uma avaliação completa e precisa da saúde do paciente, com foco na prevenção.
FATORES DE RISCO
Entre os principais fatores de risco no meio corporativo que podem levar a doenças estão:
Sedentarismo: Muitas vezes, devido à falta de tempo, os exercícios físicos acabam sendo deixados de lado, o que pode aumentar o risco de doenças metabólicas e cardiovasculares.
Má alimentação: A rotina corrida pode levar a hábitos alimentares pouco saudáveis, como o consumo de fast food ou refeições rápidas e pouco nutritivas.
Falta de sono: A sobrecarga de trabalho também afeta o descanso adequado, o que compromete o sistema imunológico e a saúde mental.
O check-up executivo permite que esses fatores de risco sejam identificados e tratados antes que se tornem problemas mais sérios. O diagnóstico precoce aumenta significativamente as chances de tratamento e cura, além de permitir ajustes no estilo de vida para melhorar a saúde a longo prazo
Brasileiros estão doentes
O Brasil vive uma crise de saúde mental com impacto direto na vida de trabalhadores e de empresas. É o que revelam dados do Ministério da Previdência Social sobre afastamentos do trabalho. Em 2024, houve quase meio milhão de afastamentos, o maior número em pelo menos dez anos.
Os dados mostram que, no último ano, os transtornos mentais chegaram a uma situação incapacitante como nunca visto. Na comparação com o ano anterior, às 472.328 licenças médicas concedidas representam um aumento de 68%. De acordo com psiquiatras e psicólogos, a realidade é reflexo da situação do mercado de trabalho e das cicatrizes da pandemia, entre outros fatores.