QUESTÃO DO IOF
A derrubada do reajuste no IOF diminui a arrecadação federal e abre espaço para que Brasília busque outras fontes de receita ou corte despesas. O problema central, porém, não é o imposto em si, mas o recado de instabilidade institucional: reformas andam devagar, o ambiente regulatório fica nebuloso e a tensão entre Executivo e Legislativo pode travar pautas vitais ao setor produtivo.
Para o empresário, é hora de reforçar liquidez e revisar cenários de curto prazo; quem tem caixa organizado navega melhor em mar agitado.
SELIC A 15%
Com a taxa básica de juros encostada nos 15 % ao ano por mais tempo, as instituições preferem ofertar capital para quem conta com projetos bem embasados, garantias sólidas e fluxo de caixa crível. Investimentos, renegociações e alongamentos requerem previsão conservadora.
Estratégia: alinhar a estrutura de capital à maturidade dos projetos e acessar o mercado de capitais (FIDC, CRA, CRI, debêntures, entre outros.) para driblar spreads bancários.
O FÔLEGO DA INFLAÇÃO
A prévia de junho veio menor que o consenso (0,39%), sugerindo perda de pressão inflacionária. Isso dá munição ao Banco Central para planejar cortes de juros no início de 2026, barateando o crédito adiante.
Setores mais beneficiados: Construção civil e varejo de massa, que sofrem diretamente com o custo do dinheiro e a sensibilidade da renda do consumidor.
MERCADO DE TRABALHO
O desemprego recua, mas a renda real cresce menos que a inflação, corroendo poder de compra. A produtividade tampouco acompanha a geração de vagas. Enquanto a política fiscal apertar justamente o caixa das empresas formais, veremos contratação tímida e salários contidos.
Olho vivo: incentive ganhos de eficiência interna e avalie incentivos regionais ou setoriais antes de expandir a folha. Crédito produtivo, taxa de juros reais menores e estabilidade regulatória ainda são pré condições para um ciclo sustentável de contratações.
EM SÍNTESE
IOF: instabilidade exige caixa robusto.
Selic a 15%: crédito caro pede projetos sólidos e talvez mercado de capitais.
IPCA 15 abaixo do esperado: sinal para cortes, fôlego ao crédito.
Emprego e renda: cuidado ao expandir; foque em produtividade.
Liquidez preservada, estrutura de dívida bem casada e leitura de cenário macro serão diferenciais competitivos. Quem se adiantar na reorganização financeira — e souber usar instrumentos de mercado de capitais para alongar passivos — transformará o momento de restrição em oportunidade para ganhar espaço quando a curva econômica finalmente virar.

Maicon Farina
Sócio-diretor da Lure Capital, administrador pela PUC-GO e especializações como Executivo-financeiro (FGV-SP), Estratégia (FDC-MG) e de Conselheiro de Administração (IBGC).