Por Rafael Vaz
Levar um cavalo ou um pônei para dentro de um hospital pode parecer imprová- vel. Mas, para a psicomotricista e educadora física Graziela Salvagni, é exatamente essa a proposta capaz de transformar vidas, uma vez que está prestes a lançar em Goiás o Cavalos que Acolhem, iniciativa que vai oferecer terapias gratuitas em instituições como abrigos de idosos, centros de reabilitação e hospitais, sempre seguindo protocolos rigorosos de higiene e segurança.
A história de Graziela com os cavalos começou há 36 anos, quando a equoterapia ainda era pouco conhecida no País. Buscou aperfeiçoamento ao lado da médica italiana Daniele Citterio, em Milão, onde viveu por mais de duas décadas. “Na época, éramos muito crus. Fiz toda a formação com ela, me casei, tive meus filhos e, depois, voltei para o Brasil”, lembra.
Instalada em Goiânia há 11 anos, montou a Caballus Equoterapia & Equitação, espaço que hoje atende crianças, jovens e adultos com diferentes condições, como depressão, deficiências e transtornos do espectro autista. O Cavalos que Acolhem nasceu inspirado em um projeto suíço voltado a crianças em situação de vulnerabilidade, que ela adaptou e expandiu. “Acolhe todos: crianças, adultos, idosos, pessoas com deficiência, jovens em abrigos. É um trabalho que leva muito mais que terapia; leva afeto”, afirma.

A equipe multidisciplinar, formada por 12 profissionais, atua em atividades que combinam a presença dos equinos com aulas de equitação e momentos de convivência. As crianças atendidas em abrigos, por exemplo, participam semanalmente das atividades, recebem lanche e passam a tarde em contato com os animais. Agora, o projeto se prepara para ganhar um novo aliado: os pôneis. A ponyterapia, técnica introduzida no Brasil por Fernanda Pereira Ribeiro, abre novas possibilidades. “O pônei é pequeno, dócil e fácil de transportar, o que permite chegar a espaços antes inacessíveis, como hospitais”, explica Graziela.
A implantação, porém, exige investimentos significativos. Desde sapatinhos especiais importados — que custam 70 euros e não são fabricados no Brasil — até equipamentos de higienização, coletores, transporte e cuidados veterinários. “Hoje, alugo um trailer, mas o ideal é ter o próprio. Cada mini pônei custa cerca de R$ 15 mil, e o custo de manutenção dos animais e da equipe é alto”, ressalta.
Para viabilizar o projeto, foi criada a campanha Adote um Praticante, que convida empresas e pessoas físicas a patrocinarem atendimentos, custearem alimentação, transporte e insumos, ou mesmo doarem ração e feno. “Empresas do agro, por exemplo, podem contribuir com o que produzem. Há várias formas de ajudar”, diz Graziela.
A expectativa é que a grande inauguração da fase com pôneis ocorra no Dia das Crianças, em 12 de outubro. Para a idealizadora, a iniciativa vai muito além do contato com os animais. “É sobre criar vínculos, estimular os sentidos e oferecer um momento de alegria e acolhimento, especialmente para quem está longe de casa, dos amigos e até dos próprios pets. Os cavalos e pôneis percebem o que a pessoa sente e respondem com carinho. Isso é parte do processo de cura”, conclui.