O tempo é uma dimensão que nos escapa por entre os dedos. Medido por segundos, minutos, horas, dias e semanas, ele define o ritmo da nossa existência. É no tempo que os eventos ocorrem, que as transformações acontecem e que a vida, inevitavelmente, se move. O, cronos — representado pelo relógio — marca esse movimento constante e silencioso que nos envolve. No entanto, temos tratado o tempo como um vilão, o vemos com um inimigo e não como um aliado. O transformamos em um inimigo a ser combatido, um “diabo” que rouba nossa paz.
Vivemos hoje uma relação profundamente desequilibrada com o tempo. A tecnologia, com todos os seus benefícios e funcionalidades, trouxe junto uma avalanche de estímulos. Vivemos sob a tirania da dopamina: tudo precisa ser rápido, imediato, recompensador. As redes sociais aceleraram nosso consumo de informação, moldando nossa mente a uma velocidade enorme. Como advertiu Zygmunt Bauman ao falar sobre os “amores líquidos”, nossas relações se tornaram tão instáveis quanto um sinal de Wi-Fi fraco — e isso também revela a forma fragmentada com que nos relacionamos com o tempo.
Estamos lidando com os desafios certos, mas com as ferramentas erradas. A procrastinação virou hábito, e o foco passou a ser um artigo de luxo. A sobrecarga de informações nos tira da presença, empurra-nos para um futuro incerto e nos leva a uma constante distração. Ignoramos o valor do tempo — essa moeda irrecuperável que, uma vez perdida, não se recompõe nunca mais.
Fomos criados para viver o tempo com plenitude, não como quem foge dele, mas como quem o honra. O Criador da vida nos confiou essa dádiva invisível chamada tempo para ser desfrutada com sabedoria. E quanto mais os dias parecem breves, mais urgentes se tornam o equilíbrio e o bom uso do tempo.
É preciso desenvolver uma estratégia de uso consciente da tecnologia — não para demonizá-la, mas para colocá-la em seu devido lugar. Redes sociais, a internet e os algoritmos não podem estar num pedestal quase divino — como se fossem fontes de sentido, verdade e direção. É preciso estabelecer limites e cultivar hábitos que promovam bem-estar e crescimento pessoal.
O uso desajustado da internet nos aprisiona em ciclos de comparação, ansiedade e ilusões. Queremos que tudo aconteça na mesma velocidade dos downloads. Esperamos da vida o imediatismo dos reels. Mas a alma humana não opera nesse ritmo. O sucesso verdadeiro não é instantâneo, nem vem em formato de feed.
A tecnologia é um instrumento poderoso — mas perigoso quando ocupa o lugar errado. Quando a tornamos um “deus”, deixamos que ela defina nosso valor, nosso tempo e até nossas prioridades e perdemos a nossa essência e humanidade. E talvez esse seja o maior problema: estamos substituindo o sagrado pelo sintético, o eterno pelo viral.
No fundo, o tempo nunca foi o inimigo. Somos nós que, ao endeusar o algoritmo, invertemos a ordem das coisas. Talvez esteja na hora de resgatar a reverência pelo tempo — não como um ditador impiedoso, mas como um espaço sagrado onde a vida realmente acontece. Porque no silêncio entre um clique e outro, é ali que mora o que é eterno. O tempo foi nos dado como um presente, a tecnologia, como um recurso. Quando usamos a tecnologia para dominar o tempo, vivemos. Quando deixamos que ela o consuma, apenas existimos.

Fábio Rasi,
Autor e escritor. Mentor de futuros autores. Autor do livro “Minha Avó era Coach e Eu não Sabia”