Fazer um hole-in-one é algo raro. É a tacada perfeita, quando o golfista acerta a bola no buraco com apenas uma jogada. Em alguns torneios, se o jogador consegue um hole-in-one, recebe prêmio em dinheiro ou carros. Estatísticos apontam que a probabilidade desta jogada ocorrer é 12.500 para 1. Aproveito o tema que abre a 20ª edição da Leitura Estratégica para fazer uma analogia com a expansão de Goiânia – recém-chegada a faixa dos 90+.
Goiânia, fundada em 1933, patinou nas primeiras décadas. Faltava água e energia. A cidade planejada, um dos símbolos da marcha para o Oeste (o Centro-Oeste, na verdade), a terra prometida, era um grande movimento político, mas, urbanisticamente, demorou a pegar. Ainda assim, já estava estabelecida nos anos 1950, quando um novo impulso se formou. Brasília: a transferência da capital federal para seu quintal, para um distrito dentro do Estado de Goiás. Duas novas capitais brasileiras nascendo no mesmo século – e criando um novo eixo de urbanidade e negócios.
A explosão demográfica veio escalando desde então. Hoje, registra quase de 1,5 mihão de habitantes (10ª capital mais populosa do País) e uma Região Metropolitana 2,5 milhões de habitantes (36% da população do Estado). Neste meio tempo, tentaram grudar marcas na capital – algumas foram desgrudando com o tempo. Cidade de eventos, capital do sertanejo e, mais recente, meca do agro e luxo. São ondas para surfar e aproveitar enquanto não passam, pois são temáticas que não difamam como em outras cidades, que ganharam títulos bem inferiores, como capital do PCC, cidade das favelas ou meca da informalidade.
Além de conservar e melhorar seus títulos positivos, Goiânia precisa prestar contas quanto a dois temas: feminicídio e educação. Violência contra as mulheres é algo que precisa ser combatido e Goiânia (Goiás como um todo) tem sido recorrentemente citada de forma negativa sobre o tema.
Estudos apontam que Goiás está no Top 10 Brasil do feminicídio – em 2023, foram 542 pedidos de medidas protetivas e muitos casos em destaque na imprensa nacional. Quanto à educação, ninguém concorda, mas a capital goiana foi apontada como a mais mal-educada do País. É impossível (reforço, impossível) concordar com essa pesquisa de baixa procedência – da Preply, plataforma de aprendizado de idiomas – mas é uma gota que pode formar uma onda e não tem lógica uma cidade acolhedora ganhar a fama de destino mais ‘mal-educado’ do País.
Entre a boa e a má fama, o movimento favorece Goiânia quando o tema é investimento e consumo. A cidade está sempre bem posicionada em boa parte dos rankings divulgados. O que precisa para um hole-in-one são outros indicadores melhorarem. Nos rankings de competitividade e ambiente para negócios, a capital despencou nos últimos quatro anos – uma gestão municipal incompetente é capaz de grandes estragos. Precisamos olhar com atenção a questão empreendedora, trânsito e violência para que possamos sonhar com uma tacada perfeita.
Leandro Resende – editor-chefe da Revista Leitura Estratégica
Linkedin: leresende