Por Ana Manuela Arantes
Goiânia figura entre as cidades com maior procura por imóveis no País no primeiro trimestre de 2025, segundo o Índice de Demanda Imobiliária (IDI-Brasil), ficando atrás apenas de Curitiba no segmento de famílias com renda de R$ 2 mil a R$ 12 mil e liderando a busca entre quem ganha de R$ 12 mil a R$ 24 mil. Apesar da capital contar com centenas de empreendimentos residenciais entregues nos últimos anos, outros quase 170 em andamento, e de manter o ritmo acelerado de lançamentos e vendas, o déficit habitacional não dá sinais de recuo, o que reflete no aumento da demanda por aluguel, que segue em alta e pressiona o mercado.
Enquanto Goiânia bate recordes em lançamentos e vendas de imóveis, morar de aluguel pode ser um desafio cotidiano para milhares de famílias. Em um cenário no qual a cidade figura entre as mais procuradas do País para a aquisição de imóveis, os reflexos no mercado de locação são inevitáveis: alta nos preços, escassez de opções em regiões valorizadas e exigências cada vez mais rigorosas por parte dos proprietários.
Mercado em alta e preços sob pressão
Em 2024, o preço médio do aluguel no Brasil subiu 13,5%, com o metro quadrado (m²) alcançando R$ 48,12, segundo o Índice FipeZap. Esse aumento é superior à inflação oficial, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que ficou em 4,83% no ano. Em Goiânia, o preço do aluguel residencial subiu para R$ 39,53 o m², mostrando que ainda tem valores acessíveis, comparado com outras capitais brasileiras, como São Paulo (R$ 57,59 o m²) e Florianópolis (R$ 54,97 o m²).
Bairros como Marista, Bueno e Jardim Goiás acumulam longas listas de interessados para cada imóvel anunciado. A equação entre crescimento urbano, demanda crescente e moradia acessível ainda parece longe de ser resolvida. Enquanto isso, morar de aluguel em Goiânia segue sendo um desafio que vai além da chave na mão.
Rentabilidade e verticalização
O presidente do Sindicato dos Condomínios e Imobiliárias do Estado de Goiás (SecoviGoiás), Antônio Carlos da Costa, acredita que a renda de aluguéis em Goiânia é atrativa, com boa rentabilidade. “Porém, o investidor precisa de uma boa assessoria, buscando locais que ainda terão uma boa apreciação no tempo, alinhando renda e valorização. Penso que bairros planejados verticais podem ser uma boa opção”, aponta.

A verticalização é uma tendência já apontada pelo último Censo do IBGE. Segundo Wanessa Rizzo, diretora comercial de locação e revenda da Rizzo Imobiliária, cerca de 70% dos goianos ainda vivem em casas, mas a demanda por imóveis verticais vem crescendo, impulsionada pela urbanização e pelos investimentos em infraestrutura. “Temos mais de 150 canteiros de obras espalhados por toda a capital, dois dos maiores prédios do País estão em Goiânia”, destaca.
Migração e qualidade de vida
O mercado de aluguel em Goiânia também sofre o impacto da migração. Para Wanessa Rizzo, a chegada de pessoas de outros estados pressiona os preços e reduz a disponibilidade de imóveis. “A busca por melhores oportunidades de emprego, estudo e a qualidade de vida são os principais fatores”, explica.
Segundo o IBGE, o Centro-Oeste é a Região com maior saldo migratório e crescimento populacional nas capitais. Goiânia, Campo Grande e Cuiabá cresceram mais de 10%. “Goiânia oferece boas condições de infraestrutura, acesso a serviços básicos e uma característica acolhedora, com muitas áreas verdes. Isso atrai novos moradores”, diz Wanessa.
Oferta, demanda e foco na locação
Mesmo com o boom imobiliário, a procura por aluguel surpreendeu o mercado. “Em 2024, quase ninguém apostava em uma alta demanda por locação em 2025. Mas isso mudou. Com as taxas de financiamento menos atrativas, a venda estagnou e os empreendimentos passaram a colocar unidades para aluguel”, afirma Wanessa.
Para o presidente do SecoviGoiás, o interesse de investidores em locar imóveis pode ajudar a conter os preços. “Sempre que alguém compra para alugar, aumenta a oferta e puxa o valor para baixo. Mas quando há muita demanda, os preços sobem. É a lei da oferta e procura”, afirma. Segundo ele, o retorno do aluguel varia entre 0,6% e 0,9% do valor do imóvel.

A pressão sobre famílias de baixa renda
A alta dos aluguéis e a inflação impactam fortemente as famílias com renda mais baixa. “Hoje, por exemplo, não tenho nenhum imóvel abaixo de R$ 1,8 mil. Para alugar esse tipo de imóvel, é preciso comprovar renda de R$ 6 mil, além de apresentar garantias como caução, fiador ou seguro fiança”, explica Wanessa.
Ela defende mais políticas públicas para locação popular. “É preciso ampliar a oferta de moradias, criar subsídios e incentivos à construção de habitações sociais, como ocorre no Minha Casa, Minha Vida, além de parcerias com o setor privado para recuperar áreas degradadas e estimular o aluguel acessível”.

Perfil dos inquilinos e novas exigências
O perfil dos inquilinos também tem mudado. Imobiliárias atendem cada vez mais jovens profissionais, nômades digitais e pequenas famílias que valorizam contratos flexíveis e processos digitais. “Nosso objetivo é conseguir fechar uma locação em até 24 horas. Hoje, conseguimos em até 72 horas, mas ainda é demorado para esse perfil”, comenta Wanessa.
O empresário Lucas Cruz, de 38 anos, decidiu alugar um imóvel há cinco meses. Ele já tinha uma casa própria para investimento e optou por viver próximo ao trabalho, para ter mais qualidade de vida. “Escolhi um imóvel mobiliado, bem localizado, com segurança, lazer e um valor que coube no meu bolso”, conta.
Mas o processo não foi simples. “Passei por situações constrangedoras: imóveis mal conservados, ausência de corretores, falta de estrutura. Com a Rizzo, o atendimento foi diferente. Me ouviram, entenderam meu perfil e intermediaram bem a negociação.”
Lucas também lembra dos custos extras da locação, como seguro residencial e condomínio. “É preciso considerar o que o condomínio oferece. No meu caso, há piscina coberta, sauna, academia, mercado e segurança 24h. É um custo-benefício justo”, conclui.