Por Rafael Mesquita
A psicóloga Helena Ribeiro começou a empreender em um tempo em que poucas mulheres ocupavam espaço no mundo dos negócios. Não foi fácil, porque muitas vezes faltava acesso, credibilidade e até respeito a elas. Mas Helena tinha algo que ninguém poderia tirar: coragem, disposição para trabalhar e uma confiança profunda no próprio propósito.
No final da década de 1980, e após uma pós-graduação na Fundação Getulio Vargas (FGV), a psicóloga, na época com 29 anos, teve a ideia de criar a sua própria empresa para gerenciamento da área de recursos humanos (RH) para outras companhias. Era o nascimento do que mais tarde seria o Grupo Empreza — com “z”, letra em referência ao livro Zapp!, sobre motivação de pessoas, que fez muito sucesso entre os profissionais de RH naqueles tempos.
Os primeiros clientes foram duas empresas onde já havia trabalhado. “Nesse início, fazíamos consultoria especializada em startup de hotelaria”, recorda. Era o embrião do grupo que se tornou referência no Brasil nas áreas de terceirização, gestão de temporários e terceirizados, consultoria de RH e formação de executivos por meio de faculdade própria, a ESUP — única no estado de Goiás com certificação da FGV.
Em 1991, teve o primeiro filho, João Pedro. “Com ele, nasci como mãe. A aprendizagem floresce no caos”, acredita.
O nascimento do filho coincidiu com o início da empresa e, logo em seguida, com o fim de seu primeiro casamento. Maternidade, uma empresa por estruturar, o fim do relacionamento… “Aconselho todas as mulheres a terem ao menos um filho. Essa experiência nos dá uma razão maior para seguirmos em frente”, afirma.
Para a empresária, a feminilidade ajuda também nos negócios. “A verdade é que competência não tem gênero. Temos características que são peculiares às mulheres e outras, peculiares aos homens. O ideal é encontrar o equilíbrio. Não queremos abrir mão de nenhum dos nossos papéis”, avalia. Segundo ela, no caso da maternidade, o que a ajudou muito foi ter uma boa estrutura familiar e ser muito organizada para ser capaz de conciliar tudo.
Helena casou-se pela segunda vez. Seu marido, Luiz Antônio Ribeiro, se tornou seu grande companheiro na vida e no trabalho. Ele é sócio da empresária na faculdade ESUP, que oferece graduação, pós-graduação e programas internacionais a seus alunos. O casal está junto há 31 anos e tem uma filha, Isadora Ribeiro, de 25 anos.
Grupo goiano se torna referência no Brasil
O Grupo Empreza chegou a gerar mais de 100 mil empregos em diversas regiões brasileiras. Atuando com uma carteira diversificada de clientes, incluindo grandes nomes do varejo (Grupo Cical), indústria e telecomunicações (Americel — hoje, Claro; Telefônica — atualmente, Vivo; Brasil Telecom — hoje, Oi), a companhia goiana se tornou referência nacional em outsourcing (terceirização), logística, call centers, gestão de temporários e terceiros.
Conquistas que nasceram das ideias de alguém que acredita que empreender é uma filosofia de vida. “É desafiar todos os dias os nossos limites, sempre ousando sonhar e não desestimular até realizar e fazer acontecer”, acredita Helena. A empresa chegou a operar em todo o Brasil e também fora dele, com um escritório em Miami. “Nessa caminhada, tive o privilégio de gerar milhares de empregos diretos, e o mais bonito é saber que cada um deles é uma história, uma família, uma chance de recomeçar”, se emociona.
Após alguns episódios de inadimplência de grandes clientes, erros de gestão e altas taxas de juros cobradas por bancos, o grupo não viu outra solução senão a recuperação judicial como última alternativa para manter-se em funcionamento. Em 2023, foi apresentado à assembleia geral de credores o plano de recuperação, o qual foi rejeitado pela maioria, e decidido pela falência, conforme decisão judicial proferida em 21/08/2023.
Mas, para Helena, empreender nunca foi somente sobre negócios. Sempre foi sobre gente. Por isso, ela decidiu usar a experiência adquirida ao longo de mais de três décadas para oferecer à sociedade o conhecimento acumulado. “Mais do que fazer dinheiro, é sobre fazer sentido”, acredita.

Grupo Mulheres do Brasil e Codese
Entender o verdadeiro significado da palavra empreender foi o que levou Helena Ribeiro a cofundar, há 12 anos, o Grupo Mulheres do Brasil. Ao lado de outras mulheres bem-sucedidas no mundo dos negócios, como Luiza Helena Trajano (presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza), Chieko Aoki (CEO e fundadora da rede hoteleira Blue Tree Hotels) e Sonia Hess (fundadora da grife de moda Dudalina), elas atuam em causas sociais e de protagonismo feminino.
Entre as atividades do grupo estão: a participação em ações para oferecer oportunidades a pessoas refugiadas, impulsionar a ascensão profissional de jovens negras e palestras de inspiração a jovens mulheres brasileiras. Atualmente, o grupo é composto por mais de 130 mil mulheres de todas as classes sociais espalhadas pelo mundo. “A transformação começa dentro da gente, mas só ganha força quando vira coletivo. E, juntas, somos mais fortes. A sociedade civil é transformadora quando há união”, afirma Helena.
A atuação da empresária goiana ao longo dos anos rendeu importantes homenagens de reconhecimento internacional. Ela já foi destacada como uma das cem mulheres mais influentes do mundo pelo Global Power 100 Women in Staffing (2016) e premiada como Empreendedora Master pela EY, em 2012.
Nos últimos anos, aceitou outro desafio: liderar o Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável e Estratégico de Goiânia e Região Metropolitana (Codese). Ela preside a entidade até 2026, com uma missão clara para o centenário da capital. “Queremos figurar a cidade entre as melhores para se viver, propondo projetos estratégicos para serem cumpridos até 2033 e unir forças para melhorar a qualidade de vida dos goianienses”, explica.

Passado e futuro
Helena é filha do segundo casamento de sua mãe. Nasceu em uma fazenda em Rio Verde, no interior de Goiás, mas, quando completou três anos, a família se mudou para Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde o pai abriu um mercado.
Dos tempos da região Sudeste do Brasil, dois fatos a marcaram para o resto da vida. “Eu vi o Palácio Imperial e jurava que um dia moraria em um castelo como aquele”, lembra.
Em outro episódio, ainda quando pequena, ganhou do pai uma câmera fotográfica, que lhe pareceu difícil de manusear, mas ele logo ensinou: “Toda máquina complicada vem com um manual de instruções, vamos estudar o manual”. Quando ele a levou ao estádio do Maracanã para assistir a um dos clássicos cariocas, Helena não teve dúvidas: carregou o equipamento para tirar algumas fotos. Mas o que a interessou de verdade não foi a partida, mas sim fotografar o público. “Via as diferentes reações de tristeza, raiva e emoção. Então, logo falei ao meu pai que eu precisava descobrir o manual do ser humano para poder comprar o meu palácio. Ele me disse que as pessoas não tinham manual. Aquilo ficou na minha cabeça”, recorda.
Talvez por isso, anos depois, quando retornou com a mãe e a irmã para Goiás, decidiu fazer o curso de Psicologia na Universidade Católica e não Veterinária, como queria sua família. Com apenas 23 anos, foi contratada como coordenadora de RH em uma empresa de tecnologia e informática, a Politec. “Na época, começo dos anos 1980, era difícil encontrar profissionais da área de informática, diferentemente do que ocorre hoje. O jeito foi treinar profissionais muito jovens, lá mesmo, na própria empresa. Montei uma espécie de escola-modelo, improvisei um ‘Senai’, onde formávamos digitadores, programadores e técnicos em análise de sistemas”, explica.
Helena se tornou uma pioneira, no início dos anos 1980, na profissionalização de RH em Goiás. Segundo ela, na época, apenas a Celg, companhia de energia do Governo Estadual, tinha um departamento de Recursos Humanos em Goiânia.
Com 25 anos de idade, mas de novo ambicionando mais, Helena agarrou-se a uma nova oportunidade. Um hotel sofisticado estava sendo erguido em uma área nobre da cidade de Goiânia. Mas, antes da conclusão das obras, os proprietários do empreendimento começaram a buscar alguém para treinar, com excelência, os funcionários em hotelaria. “Concorri à vaga do Castro’s Park Hotel, o único cinco estrelas da cidade na época, e fui escolhida entre os mais de 30 candidatos”, recorda.
O serviço no hotel era realizado simultaneamente com o curso de pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos na FGV. Ela percorreu o Brasil fazendo pesquisa em hotéis cinco estrelas para desenvolver um modelo eficaz de desenvolvimento de pessoas para hotelaria. “Foi o meu trabalho de pós-graduação na FGV. Com ele, ganhei, em 1989, o prêmio da Associação Brasileira de Recursos Humanos”, orgulha-se.
Sobre o futuro, Helena garante que não pensa em se aposentar. “Não quero mais ser dona de empresa, mas quero continuar trabalhando. O que eu tenho hoje me satisfaz”, afirma. Ela complementa: “Não sou ambiciosa com relação a dinheiro, sou ambiciosa em deixar um legado, transformar ambientes e cidadãos em pessoas melhores”.