A ampla discussão de fraudes empresariais, tema principal desta edição da Leitura Estratégica, debate, em última análise, a Educação. O propósito da matéria é trazer informações e atuar na prevenção, mas é importante que o olhar se amplie nas causas e consequências. O fraudador, em grande parte, se aproveita de falhas de informações ou brechas abertas nos sistemas tecnológicos para atuar.
Ao conseguir manipular pessoas ou o sistema, a fraude dá seus primeiros passos e a empresa começa a entrar em uma zona de risco. Por conivência ou ingenuidade, operar a fraude usando pessoas é entrar na empresa sem pular o muro, entrar pela porta principal.
Neste caso, a Educação falhou pelos dois lados: 1) O fraudador se mostra mais preparado que o operador – o crime vence a disputa. 2) A existência de um fraudador, revela um sujeito marginal, que não foi aproveitado pelo sistema, e foi mais seduzido pelo crime que pelo trabalho. Ele prefere o risco de ser preso ou morrer, a trabalhar. A Educação falha novamente.
Estas mesmas teses também se aplicam quando a brecha ocorre no sistema e não nas pessoas. Ao usar um ataque para fraudar – seja virtual ou criar uma confusão de informações para obter uma vantagem – pressupõe-se um artifício que supera o plano de defesa. O fraudador usa ferramentas a seu favor para desviar recursos ou mercadorias e impacta a empresa. Mas seu ataque, quando obtem êxito, foi melhor que a defesa. A sua inteligência para fraudar foi maior que a da empresa para se defender.
Os marginais são coaptados pelo crime – e para facilitar a operação, muitas vezes, dentro da empresa. Quando isso ocorre, temos a transformação de alguém que muda de lado. É uma derrota, pois transforma em marginal alguém que vivia sua rotina correta. Alguém que abre mão de ter um crachá para o risco de usar uma algema e viver atrás de grades.
Por que ocorre isso? Falhas educacionais da sociedade, que não consegue formar e moldar melhor o caráter, além de não mostrar e oferecer vantagens ante a ilusão do crime. Dentro da empresa, que recebe pessoas com propensão a falhas mais graves, é complexo reverter e engajar.
O quadro se agrava com o excesso de informação a que todos estão expostos atualmente, sendo que parte maior desta exposição está muito mais voltada para idolatria à ostentação ao consumismo – que explode em ilusões quando se tem um panelão de desigualdade social, o retrato do Brasil.
Esta união dos excessos, de riqueza ostentada e pobreza vivida, é uma escada rolante para a propensão à marginalidade. Ou seja, para tentar alcançar o “sucesso” não pelo trabalho (que paga mal e é inviável), mas por atalhos marginais e, quase sempre, criminosos. É o velho duelo do bem contra o mal. A matéria da edição vai pelo lado do serviço e da informação, mas o editorial abriu essa reflexão necessária de saber para onde caminha a humanidade.
Boa leitura.
Leandro Resende – editor-chefe da Revista Leitura Estratégica
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