Um adolescente disse-me, na última semana, o seguinte: “Dr. Carlos André, não vou estudar. Não vejo sentido em estudar. Isso não leva a nada. Só cansa a gente e não dá dinheiro”.
Confesso que, em princípio, achei que fosse brincadeira dele… depois, vi que falava sério e…
Puxa vida! Essa fala me impactou muito. Muito mesmo. Mexeu comigo.
De fato, há algo errado com a juventude brasileira…
Todos os grandes empresários, os grandes servidores públicos, os grandes professores e os grandes advogados que conheço são bem-sucedidos porque estudaram; porque trabalharam muito.
A minha ascensão profissional e o meu crescimento pessoal são resultado de muito estudo e de muito trabalho.
Infelizmente, a fala desse adolescente reflete um fenômeno crescente que merece nossa atenção crítica. Jovens influenciados por coaches neoliberais e irresponsáveis, nas redes sociais, têm recebido mensagens desastrosas, que pregam o estudo como “perda de tempo” e o sucesso como resultado de ações de marketing existencial, sem qualquer esforço intelectual.
O que importa para eles é o culto à imagem, a devoção a investimentos fáceis e o culto à felicidade preguiçosa.
A lógica é botar botox aos 17 e parar de trabalhar aos 20.
Basta uma busca rápida no YouTube para encontrar inclusive “especialistas” juvenis que, com discursos simplistas, desmerecem a educação formal e vendem fórmulas mágicas de enriquecimento instantâneo.
É possível acreditar em um futuro sólido para o País com pensamentos e com atalhos tão frágeis e enganosos como esses?
A minha pergunta foi realmente retórica, e a reposta é “NÃO”. Repito, “NÃO”.
Estaríamos condenados à burrice e à subserviência eternas, no plano internacional, se a reposta fosse “SIM”.
Mas…
Vamos entender o contexto histórico dessa distorção de valores.
Vamos lá. Como toda essa loucura coach começou?
A partir da década de 70 do século XX, com o avanço do neoliberalismo, começou-se a valorizar, de forma exacerbada, o dinheiro e o lucro imediato, sem esforço, sem estudo, sem caráter, em detrimento de outras dimensões do ser humano: o trabalho sério, a dedicação, a cultura, a ética e o conhecimento aprofundado.
Esse modelo econômico-cultural enfatizou a competição feroz e a busca incessante pelo ganho financeiro, muitas vezes “embrutecendo” as relações sociais e a própria visão de sucesso.
A verdade é que foi ensinado que você pode ser até um crápula ignorante e corrupto, desde que você tenha dinheiro.
Saiba de algo importante:
A educação, como preceitua nossa Constituição Federal, é direito fundamental. É o alicerce sobre o qual se constroem não só carreiras, mas cidadanias e culturas ricas.
E o dinheiro? Nunca foi inimigo da educação; pelo contrário, o domínio do conhecimento frequentemente gera prosperidade. Exemplos não faltam: Jorge Paulo Lemann, com sua formação sólida e visão estratégica; Jorge Gerdau, que tem profundo apreço pela cultura; Miguel Nicolelis, que alia ciência e negócios.
Desvalorizar o estudo é ignorar essas trajetórias e render-se a uma cultura do imediatismo e da ignorância. Um País que forma gerações que rejeitam a educação condena-se a um ciclo de subdesenvolvimento, cultural e econômico.
É urgente, portanto, que o Brasil repense as mensagens que estão chegando ao jovem brasileiro. Estudar não é um peso: é uma oportunidade e uma necessidade. Para a vida, para os negócios, para a construção de uma sociedade mais justa e próspera.
Estudar sempre valerá a pena.

Carlos André Pereira Nunes,
Linguista, professor, advogado especializado em redação de atos normativos, conselheiro da OAB, diretor da ACIEG e Presidente do Instituto Carlos André.














