O Brasil está muito longe de ser relevante na área tecnológica. No supermercado deste segmento estratégico do mundo, o País é um consumidor. Um cliente comum, pagando caro nas prateleiras repletas de marcas onde quase nada é Made in Brazil. O protagonismo fica, como sempre, para quem vende e quem produz. Para alcançar esse fracasso, os anos 1970 e 1980 foram determinantes. Ali, o mundo pivotou e perdemos o trem da história.
O erro nos relegou à irrelevância. Faltaram políticas públicas e sobraram reservas de mercado. País fechado, mente fechada. Tudo isso temperado com um fraca ou ausente política nacional de informática (naquela época, a nomenclatura era outra: informática, CPD, homepage, disquete e por aí vai).
O erro do passado está sentado na sala pronto para vestir o Brasil, novamente, com a roupa da insignificância. É que uma nova transição digital está em plena evolução e o Brasil está ali, inseguro, meio atabalhoado, com aquela carinha boba de confiante mas no fundo está com medo. Pouco entrega, não reage.
Este é aquele momento em que se abre um portal para o futuro e, todos sabem, que logo vai se fechar. Quem entrar, alcança a Série A da tecnologia mundial – pode deixar o carrinho de compras de lado e passar a ser dono do supermercado ou da fábrica de softwares.
Precisamos pular para dentro deste portal e chutar para fora de casa a insignificância. Antes, o Brasil tem de superar algumas complexas questões, como unir forças em um projeto maior ao invés de polarizar e ter várias políticas públicas. Sem norte, vamos amargar o atraso. E sinais ruins já trazem mau presságio. Desde 2022, vários relatórios apontam atrasos do Brasil na transição digital e na evolução da inteligência artificial (IA).
Hoje, a transição digital almoça e janta em nossas casas. Já faz parte dos nossos dias. A matéria principal desta edição da Leitura Estratégica traz apenas um detalhe da “coisa toda”. Em Goiás, que já alcança autoridade no mercado nacional de IA, o estudante que ingressa na faculdade de IA já conquista uma remuneração mensal maior que profissionais experientes e com boas formações (muitos com mestrado e doutorado) de outras áreas.
Duas coisas saltam aos olhos neste momento: crime organizado e insumos. Sobre as facções, percebe-se que estão muito mais ágeis e já migraram do crime de rua e assalto a bancos, por exemplo, para crimes e ‘negócios’ digitais – em alguns casos foram apontados como ligados ao mercado de ‘bets’, só para citar um ramo. Sobre insumos, nessa virada global, a nova matriz energética será alavancada por minerais (terras raras) e Brasil tem segunda maior reserva do mundo (e só comanda 1% do mercado mundial). Na próxima década, vai se definir como vamos surfar a onda: donos da mina e da fábrica ou exportador desta commodities in natura.
Leandro Resende – editor-chefe da Revista Leitura Estratégica
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