Por Izabella Pavetits
Brain rot: “Suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, especialmente vista como resultado do consumo excessivo de material (agora, principalmente conteúdo on-line) considerado trivial ou pouco desafiador”. Essa é a definição do termo eleito como a palavra do ano pela Universidade de Oxford em 2024.
Segundo relatório da We Are Social e da Meltwater, o Brasil é medalha de prata no ranking dos países que passam mais tempo na internet, e a maior parte desse período é dedicada às redes sociais. Que atire a primeira pedra quem nunca se flagrou rolando um feed infinitamente. Será que a internet está apodrecendo o seu cérebro?
Em tradução literal, brain rot significa “apodrecimento cerebral”. No ano passado, as pesquisas sobre o termo cresceram 230%, de acordo com a Oxford. Em sua publicação oficial, a universidade inglesa destacou que a palavra ganha força no contexto em que aumentam as preocupações sobre o impacto do consumo excessivo de material on-line de valor questionável, especialmente nas redes sociais.

O psiquiatra cooperado da Unimed Goiânia Flávio Augusto de Morais explica que se trata de um vocábulo informal, sem respaldo técnico ou científico, mas que tem levantado discussões válidas. Segundo ele, conteúdos virtuais como vídeos curtos e cheios de estímulos sensoriais causam uma liberação excessiva da dopamina, substância ligada à busca pelo prazer.
O desafio está no fato de que o algoritmo de plataformas como Instagram, TikTok e YouTube tem encorajado esse tipo de conteúdo, que capta usuários, engaja e se converte em lucro para as plataformas.
“Quando o cérebro libera a dopamina de forma saudável, ela estimula que tenhamos vontade de fazer atividades prazerosas, naturais e necessárias. Entretanto, quando esse incentivo é gerado artificialmente, há uma descarga exagerada de dopamina que resulta em sérias consequências para a saúde mental”, explica o médico.
O termo se popularizou com as gerações Z (nascidos entre 1997 e 2012) e Alpha (após 2012), que correspondem aos considerados nativos digitais. Estudante de 19 anos, Lucas Lobo conta que conhece muitas pessoas com idades próximas à sua que são, em sua opinião, “completamente viciadas em conteúdo de baixa qualidade na internet e em redes sociais”.
O jovem diz que considera a situação preocupante, em especial para os mais novos. “Pensamos que é só um meme, um vídeo ou uma dancinha boba para distrair a cabeça, mas, depois que já nos vemos com o vício, é muito difícil de tirar”, reflete. Vale ressaltar, entretanto, que o brain rot não é exclusividade dos jovens.
Telas em alta, cognição em baixa
O desequilíbrio dos níveis do neurotransmissor causado pela sobrecarga digital, ou pelo brain rot, se preferir, é responsável por sinais como dificuldade de concentração, redução da capacidade de raciocínio aprofundado, ansiedade, distúrbios do sono e comportamento depressivo. São sintomas inespecíficos, segundo o psiquiatra Flávio Morais, mas suficientes para ligar um alerta quando percebidos por alguém que passa muito tempo conectado.

De acordo com a psicóloga Isabela Brasiel, é necessário mais tempo para compreender plenamente os efeitos do aumento do uso da internet e das redes sociais na saúde mental, mas que já é possível observar indícios no comportamento das pessoas a curto prazo. “A baixa tolerância à frustração decorrente das recompensas imediatas que as plataformas digitais oferecem, o que dificulta o desenvolvimento de resiliência emocional, é um deles”, exemplifica.
Brasiel completa: “Outra consequência é a redução da capacidade de tolerar opiniões contrárias às próprias, influenciada pelo funcionamento dos algoritmos, que tendem a mostrar conteúdos alinhados aos gostos do usuário e criar uma bolha de reforço positivo”.
A incorporação do mundo digital ao dia a dia, seja por trabalho, diversão ou qualquer outro motivo, é um movimento intenso e sem volta, pondera Flávio Morais. O médico, a psicóloga e o jovem universitário convergem para a mesma opinião: é necessário estar atento para que o tempo gasto on-line não prejudique a vida off-line.
Proteja o seu cérebro
Confira dicas da psicóloga Isabela Brasiel para continuar na internet sem se deixar abater pelo brain rot:
Utilize timers com alertas: configure avisos nos dispositivos para limitar o tempo de uso do celular, ajudando a controlar o tempo dedicado às telas.
Engaje-se em atividades prazerosas fora das telas: pratique esportes, leia livros, envolva-se em atividades manuais ou passe tempo com amigos e familiares, buscando equilíbrio na rotina.
Atenção aos horários na rotina diária: estabeleça horários fixos para dormir, comer e trabalhar, evitando o uso de telas nesses momentos para preservar o descanso e a saúde mental.
Aumente o esforço para acessar o celular: deixe o aparelho em outros cômodos ou locais menos acessíveis, dificultando o uso constante e reduzindo distrações compulsivas.