Dois mil e vinte e cinco acabou, praticamente. Está em pouso. Não entregou muito para quem espera demais, não decepcionou tanto a quem aprendeu a ler o que pode vir pela frente.
Hoje opto por pensar mais um pouco sobre o que nos cerca do que revisar o ano – não tenho retrospectiva e previsões para entregar, ao contrário desta boa edição da revista, com excelentes opiniões. Aliás, nosso editorial, neste ano, andou mais na contramão das demais páginas. E foi bom ser assim.
De fato, teria mortes e vidas para listar, preferências e indulgências amigas. Esta revista que folheia fechará o ano com (incrivelmente) 44 edições em quase 44 semanas. Foram 2024 páginas em 2025. Dar o óbvio editorial – a cara da geração do autoelogio. Mas, não obrigado.
Voou silenciosa e paciente como um louva-a-deus, sobrevivente, como rege a sinfonia dos novos tempos, e amadurecendo sem apodrecer – não quero falar tanto dela mais, um pouco apenas. Segue o fio.
Mas a boa notícia é que a Leitura Estratégica vai fechar o ano com alguns louváveis e poucos amigos abraçando a ideia. Se fosse ideológica, teria fila, mas se quer apenas lógica. É nesse canto discreto que escolhemos existir: sem estridência, sem idolatrias, sem se curvar ao espetáculo ou ao preço do mídia kit.
Sem a euforia dos holofotes e na teimosia de quem segue produzindo sentido, nós conectamos pontos, mentes, histórias de gerações cansadas.
Recusamos a pressa como única linguagem possível. Pessoas de nível elevados sentaram-se à nossa mesa.
E se sobreviveu assim, foi porque não precisou gritar para ser ouvida. Como um indie moderno ou uma velha índia (barriguda, estuprada por um branco), tivemos desafios. Preciso pensar mais nesta diagonal antes de publicar. “Vai, Carlos! Ser gauche na vida!.
A Leitura Estratégica resiste em levar valor e um novo olhar a quem nos lê.
Sair limpa já basta.
A reflexão do hoje é comunicacional. Nosso mundo comunica diferente. Todas as tribos unidas e uma enxurrada de microideias vindas de uma tempestade de superficialidades – fica difícil discerni o que vale alguma coisa e o que é modinha da semana.
Nesta toada, caminhamos. Não se fazem heróis como antes, nem estes morrem de overdose. Navegam nas modinhas que duram alguns posts na timeline social, preenchem um espaço necessário, mas não dão saltos, dão sorrisos. Na política, nas empresas, na cultura, os protagonistas seguem esse fluxo.
Pouco inspiram, orbitam. São bons intérpretes do instante, mas mal constroem o futuro. Fazem foto, sem compreender que estão presos na armadilha, como ingênuos ratos na ratoeira.
São necessários, pero no mucho. Jamais fundarão épocas. São borrões que duram um ciclo de engajamento.
Não é um editorial crítico, politizado ou útil. Não está a julgar, condenar ou anistiar. Não é jocoso, irônico, direcionado, pretensioso ou exigente. É fotográfico. A onda não exime, todos estão nela – na crista ou no fosso.
Quem escreve, quem lê, quem ri, todos no mesmo balaio. É o escárnio de uma geração nem nem nem que cristaliza, purifica e alucina antes do texto acabar (90% já parou no caminho). Sim, é uma geração vaga de legados, com gados de ambos os lados. Crescem o risco emocional e o medo invisível. Pólvora e churrasqueira, lado a lado.
Não é sobre os fatídicos vieses das narrativas (úteis a demonizar, paralisar, delimitar), é sobre o todo, o hoje que arrisca ser melhor que o amanhã – o pior de qualquer cenário.
O humano, que antes levava meio século para mudar, agora se refaz a cada meia década. Vamos nos tornar especialistas em transição, mas analfabetos em permanência. Rumamos para humanos mutantes – andarilhos que nada levam na bagagem.
O próximo ano não precisa ser grandioso. Ao menos que seja verdadeiro. Que permita a todos continuar pensando, observando, discordando, acertando pouco e errando com algum propósito. Se há uma meta possível para o tempo que vem, talvez seja esta: mais leitura, mais estratégia; menos ruído, menos muletas. Seja cada um a sua mudança.

Leandro Resende, editor-chefe da Leitura Estratégica.














