No mundo corporativo, a culpa costuma ser o primeiro item identificado quando os resultados não aparecem. Diante de um prejuízo, de uma quebra de caixa ou de uma decisão mal-sucedida, a busca por um responsável acontece quase de forma automática. E, na maioria das vezes, o dedo aponta para o empresário.
Mas será que essa lógica é sempre justa?
O empreendedor convive diariamente com um ambiente de negócios cada vez mais complexo, marcado por pressão constante, margens reduzidas, insegurança jurídica, instabilidade econômica e decisões que precisam ser tomadas com informações incompletas. Nesse cenário, confiar passa a ser não apenas uma escolha, mas uma necessidade operacional.
Confiar em lideranças estratégicas responsáveis por executar planos, gerir equipes e sustentar resultados. Confiar em bancos que oferecem crédito, renegociações e soluções financeiras supostamente adequadas à realidade da empresa. Confiar em fornecedores que prometem prazos, qualidade e previsibilidade. Confiar em prestadores de serviço e consultorias que se apresentam como especialistas, capazes de corrigir rotas e antecipar riscos.
O problema surge quando essa confiança não é acompanhada de responsabilidade, compromisso e entrega. Lideranças que não executam, parceiros financeiros que priorizam seus próprios interesses, fornecedores que descumprem acordos e prestadores que diagnosticam problemas apenas depois que o prejuízo já se consolidou. Nessas situações, o erro não nasce de uma decisão isolada do empresário, mas de uma cadeia de relações mal geridas ou mal avaliadas.
Ainda assim, quando o impacto financeiro aparece, a conta não é compartilhada. No fim do dia, a responsabilidade recai sobre quem assina, investe, garante e responde legalmente pela empresa. O empresário pode até delegar decisões, mas jamais consegue delegar as consequências.
Talvez, portanto, a pergunta mais relevante não seja simplesmente “de quem é a culpa?”, mas “quem está assumindo responsabilidade de fato?”. Quem mede riscos antes de confiar? Quem acompanha indicadores e cobra entregas? Quem estrutura governança para reduzir a dependência de pessoas e promessas? Quem entende que relacionamento empresarial não substitui controle, processo e validação?
No ambiente corporativo, maturidade não está em procurar culpados, mas em compreender que confiança sem método gera vulnerabilidade. E vulnerabilidade, em negócios, quase sempre se transforma em prejuízo.
Confiar é necessário. Controlar é estratégico. Assumir sozinho o prejuízo não deveria ser regra, mas enquanto a gestão não evoluir para modelos mais maduros de governança e responsabilização, a culpa continuará tendo um endereço fixo: o do empresário.

Rondinely Leal, Executivo com 20 anos de experiência em gestão, com atuação em grupos nacionais e multinacionais. Contador por formação com especialização em análise e auditoria, MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria. Professor e consultor.














