Por Rafael Mesquita
Falar em colunismo social em Goiás é lembrar, de imediato, de Arthur Rezende Filho, ou simplesmente Arthur Rezende, 82 anos. Não só pela longa estrada nesse gênero jornalístico – são 50 anos -, mas também pelo legado que construiu ao longo da carreira. “Se você fizer a coisa bem-feita, com seriedade, equilíbrio e honestidade, você chega lá, seja em qual área for. É o conselho que deixo aos mais novos”, afirma.
O alicerce dessa vasta obra começou a ser construído lá atrás, ainda nos tempos em que o aparelho de rádio estava presente na casa de muitas famílias brasileiras. Antes mesmo de iniciar no colunismo social, Arthur Rezende já dava os primeiros passos na comunicação nos anos 1960, participando de atrações na Rádio Difusora e, posteriormente, ganhando o próprio programa A Juventude Comanda, na Rádio Brasil Central. Logo em seguida, tornou-se o porta-voz dos jovens goianos na Rádio Anhanguera.
Do rádio para a televisão foi um flash. Um ano após a inauguração da TV Anhanguera, Arthur criou e apresentou um programa dominical. De 1964 a 1969, os jovens goianos tinham seu espaço de música, entretenimento, notícias e modernidades na TV, comandados pelo líder em audiência Arthur Rezende Filho. Os grupos de rock se apresentavam e divertiam o público, sobretudo com grandes “hits” da Jovem Guarda.
O sucesso na TV abriu portas e, nesse período, o jornalista tornou-se também produtor de shows. Trouxe grandes artistas a Goiânia, que se apresentaram em clubes da capital. Entre eles, o rei Roberto Carlos, por 13 vezes, ainda no início da carreira. “As pessoas começaram a me chamar de amigo do Roberto”, diverte-se Arthur. Ainda contratou Erasmo Carlos, Wanderléa, Wanderley Cardoso, Rosemary, Elis Regina, Jorge Ben e Wilson Simonal. Até artistas internacionais se apresentaram em Goiânia a seu convite, como o cantor americano Johnny Mathis, a Orquestra de Ray Conniff e o cantor romântico Manolo Otero.
Arthur já assinava uma coluna no jornal O Popular e, por sugestão do amigo jornalista Lorimá Dionísio Gualberto, o Mazinho, recebeu o convite que transformaria sua carreira: seria o titular da coluna social diária do principal jornal de Goiás.
Aceitação e reconhecimento
Mesmo com a fama e o prestígio conquistados na televisão, Arthur temia ser rejeitado pela alta sociedade goiana da época. “Naquele tempo, essa classe social era meio impermeável, não gostava de intrusos. Meu antecessor na coluna já era consagrado (Lourival Batista Pereira)”, recorda.
Mas, aos poucos, Arthur ganhou o espaço que esperava. Foi se destacando e tornou-se uma referência para a sociedade da época. “Fui crescendo profissionalmente e as fontes vinham de graça. Eu raramente tinha que ligar para as pessoas e pegar informação. Elas queriam aparecer e me procuravam. Meu trabalho era selecionar o que publicar”, afirma.
Diante do sucesso que a coluna se tornou, o jornalista sempre se preocupou em não criar fofocas ou notícias inverídicas, além de realizar o trabalho com honestidade. O assédio financeiro de pessoas que queriam aparecer começou a surgir, mas a resposta de Arthur era precisa: “Eu não cobro pra sair na coluna, mas o que sai na coluna nem pagando”, brinca.
Algo que Arthur Rezende considera que o ajudou é que nunca se preocupou com a possibilidade de ser demitido do jornal. Daí, o compromisso com a credibilidade do trabalho falava mais alto. “Além do jornalismo, já ocupei outras funções, como, por exemplo, diretor do Centro de Convenções de Goiânia, que criei e consegui trazer grandes eventos”, destaca.
Amizade com empresários goianos
As relações que construiu com o trabalho marcaram para sempre a vida do jornalista. “Convivi muito bem com empresários e presidentes de entidades da época. Eles sempre queriam ver os eventos e as coisas deles noticiadas e isso me deu muita credibilidade. Eu circulava muito bem nesse meio”, afirma. Entre as fontes jornalísticas que se tornaram amigos estão José Evaristo dos Santos (ex-presidente da Fecomércio), Heno Jácomo Perillo (Alexstar), Paullo Brio (Galeria do Cinema 1), Ester Panarello e Paulo Panarello (Panarello) e Djalma Rezende (advogado).
Alguns desses amigos contribuíram para o seu próprio crescimento profissional. “O Sebastião Rodovalho (Polo Imóveis), por exemplo, me dava muitos conselhos e sugestões quando comecei. Sempre dizia para eu não sair do rumo, porque muita gente queria o meu lugar”, recorda.
Mesmo com as boas relações, um episódio marcou a carreira de Arthur. Nos anos 1990, a comoção em torno do sequestro de um empresário goiano o fez publicar uma nota na coluna para tocar o coração dos sequestradores. “Era domingo de Páscoa, e eu caí na besteira de escrever uma mensagem para que os criminosos se sensibilizassem com a data e o libertassem”, explica.
Mas a boa intenção não foi bem-vista por uma integrante da família, já que havia uma exigência dos sequestradores para que a imprensa e a polícia não fossem envolvidos no caso. “Uma neta dele chegou à minha casa me xingando. Fiquei com medo de que ele fosse assassinado, mas, graças a Deus, dias depois ele foi libertado”, diz.




Arthur empresário
De amigo dos empresários goianos, Arthur Rezende também se tornou um homem de negócios. A partir da experiência com os artistas e o setor cultural, decidiu, juntamente com os amigos Cícero Macedo, Mazinho e Vilmar Barbosa, criar o maior festival de música que Goiás vivenciou: o Comunica-Som.
Foram 13 edições entre 1971 e 1985. Foi um acontecimento em Goiânia. Criou-se até o troféu de melhor torcida, disputado pelos colégios secundaristas da época. Os alunos lotavam a plateia. Músicos goianos de renome, nos cenários local e nacional, também compõem a história do evento. Dele surgiram, dentre outros, Marcelo Barra, João Caetano, Fernando Perillo, Bororó e Pádua, além dos compositores Nasr Chaul, Carlos Brandão e Otavinho Daher.
Os talentos não pararam por aí. No júri, grandes jornalistas, compositores, cantores e produtores de gravadoras do eixo Rio-São Paulo. “Eu ia para lá, convidava os jurados nacionais e isso levava um grande público”, orgulha-se. Entre as personalidades que participaram estão os cartunistas Millôr Fernandes, Ziraldo e o compositor Sérgio Cabral (pai).
Quando o evento se encerrava, os integrantes do júri iam direto para a Pousada do Rio Quente, no município de Rio Quente (GO). Curiosas histórias de bastidores surgiram naquele período. “O cartunista Jaguar, logo que chegou na pousada, colocou o pé na água e disse: olha só, é quente mesmo. Já o Erasmo Carlos me falou, em outra oportunidade, que o filho dele com a esposa Narinha foi feito na pousada, após um dos nossos festivais”, diverte-se Arthur Rezende. O jornalista ainda se recorda da amizade criada no local entre Ivan Lins e os artistas goianos João Caetano, Otavinho Daher e Fernando Perillo.
Outro orgulho do jornalista foi ter criado, em 1991, a Agenda Sociedade Goiana. Trata-se de uma espécie de abecedário do colunismo da época. Em um período pré-internet, eram publicados os nomes, contatos telefônicos e histórico das personalidades da sociedade goiana, além de informações sobre órgãos federais, estaduais e municipais. O livro teve 16 edições que se encerravam com uma crônica feita por um jornalista ou escritor.
Família e saída do O Popular
Com tantas festas e eventos para cobrir para o jornal, principalmente no período noturno, a vida do pai e marido Arthur Rezende não era fácil. Além disso, havia muitas viagens a trabalho. “A minha esposa foi quem criou e educou meus filhos”, recorda. Sônia Souza Rezende, com quem é casado há 52 anos, ainda o acompanhava em vários eventos e o ajudava no trabalho. “Havia ocasiões em que, no mesmo dia, aconteciam festas em três ou quatro clubes de Goiânia. Ela dizia às amigas que, quando estava começando a ficar boa uma, já tínhamos que sair para fazer a cobertura de outra”, brinca.
Mesmo com a grande carga de compromissos profissionais, Arthur garante que sempre reservava as folgas para a família. “Nesses períodos, viajávamos de carro, minha esposa, eu e os meus filhos. Nos divertíamos bastante”, diz.


Mas a vida também é feita de momentos difíceis. Em 2020, durante a pandemia e a consequente falta de eventos sociais, veio a dura notícia da demissão do jornal O Popular, após 46 anos. Aquelas notas curtas, agradáveis, que faziam muito efeito e eram inspiradas no colunista social Zózimo Barrozo do Amaral, do Jornal do Brasil, nunca mais estariam no principal jornal de Goiás.
“Acho que a coluna social deixou de ter a importância que tinha no passado, porque, com a internet, todos podem virar colunistas sociais. Basta publicar o conteúdo que quiser, na quantidade que se deseja”, avalia.
O amor pelo que faz continua. Tanto que, há 22 anos, apresenta o programa Aplauso, que já teve até revistas publicadas e passou pela TV Brasil Central (TBC), PUC TV e Fonte TV. Atualmente, é exibido aos sábados e domingos, às 22 horas, na TV Capital, canal 32.1 na TV aberta.



