Os últimos três anos têm revelado uma dinâmica errática do Governo Federal na condução das contas públicas. A cada dois ou três meses, testemunhamos o anúncio de uma nova tributação, medida quase sempre apresentada como a solução definitiva para estancar o rombo fiscal. Contudo, como um náufrago incapaz de perceber que precisa nadar até a praia, o governo segue apenas mirando na próxima tábua, ignorando as causas reais do naufrágio.
A metáfora não poderia ser mais precisa. Ao invés de se dirigir firmemente a um porto seguro, onde cortes estruturais e reformas administrativas profundas fossem implementados, o governo prefere seguir se equilibrando sobre pedaços flutuantes da arrecadação extraída da população. O resultado é previsível e repetitivo: após cada nova tributação, os gastos públicos não diminuem, tampouco se tornam mais eficientes. Em poucos meses, surge inevitavelmente outro rombo, fruto exatamente da gastança desenfreada que não se resolveu, mas que apenas se alimentou da receita adicional recém-obtida.
Essa prática compromete seriamente a credibilidade da política econômica do país. O mercado financeiro responde com desconfiança crescente, investidores adiam ou cancelam seus planos, e a economia real permanece anestesiada por incertezas constantes. Em vez de um planejamento sério e estruturado, vemos um ciclo vicioso de tributação e gasto, cujo único efeito real é reduzir ainda mais a capacidade produtiva e econômica da sociedade.
Mais grave ainda é o impacto social dessa política errática. Cada tributação adicional imposta pelo governo para cobrir seu descontrole fiscal se transforma rapidamente em pressão inflacionária, redução do poder aquisitivo das famílias e aumento da pobreza. O que deveria ser uma exceção emergencial transforma-se em regra: as novas taxas e impostos vão se empilhando sobre os ombros do contribuinte, sufocando trabalhadores e empreendedores.
Em suma, vivemos uma gestão financeira pública reativa e imediatista, marcada pela ausência absoluta de visão estratégica. O governo, infelizmente, parece confortável em administrar crises sucessivas e previsíveis que ele mesmo cria. Enquanto isso, os cidadãos assistem perplexos ao triste espetáculo de um náufrago que nunca chega à praia, apenas salta desesperadamente de tábua em tábua, cada vez mais distante de um resgate efetivo.
É urgente romper esse círculo vicioso. Precisamos de líderes que encarem as causas reais do desequilíbrio fiscal, que tenham coragem para reduzir gastos supérfluos, eliminar privilégios e executar reformas estruturais consistentes. Só assim deixaremos de ser um país à deriva, sempre na expectativa da próxima tributação emergencial, e retomaremos a rota segura da estabilidade econômica e social.

Dênerson Rosa,
advogado, fundador da Sociedade de Advogados Dênerson Rosa, mais de 20 anos de atuação em Direito Tributário e Empresarial.