O volante está nas mãos dos homens quando o assunto é condução das empresas. E as mulheres estão ainda como passageiras. De fato, é uma realidade que muda pouco a cada década, uma lentidão que incomoda. Seria resultado de uma cultura machista, preconceito ou oportunismo?
Nenhuma das três hipóteses é satisfatória ou positiva e todas são verdadeiras. O que o mais recente estudo mostra – vamos a ele – é uma nova goleada. A Pesquisa Panorama Mulheres 2025, do Instituto Talenses Group em parceria com o Insper, foi divulgada nesta semana e aponta que, em 310 empresas, de variados setores e portes, 224 são lideradas por homens e 39 por mulheres. Ou seja, 17%. Na média mundial (estudo do Global Gender Gap Report, de 2023), esse número já bate em 29% de liderança feminina. Essa organização é do Fórum Econômico Mundial.
As mulheres CEOs perdem feio no Brasileirão e no Mundial. Outro número que incomoda: nem nos conselhos de administração, que normalmente têm muito mais vagas, pois são formados por número maior de executivos e acionistas, as mulheres conseguem se impor. Em 57,4% dos conselhos, a ausência feminina é total, com nenhuma vaga ocupada por uma mulher.
As pesquisas de gênero do IBGE deste ano trazem quadro tão preocupante quanto este, com relação à renda. Mulheres negras ganham 53,49% a menos que os homens brancos que fazem a mesma função. E, com ensino superior, para cargos de direção, a diferença continua absurda. Em média, as mulheres brancas que concluíram o ensino superior ganharam 9,3% a menos por mês do que os homens negros (R$ 5.991) e 61,53% do que homens brancos (R$ 8.849).
O muro não é por questão de cor ou estudo. Ser mulher tem sido uma barreira para cargos de alto escalão e para remuneração, mesmo com desempenho representativo de várias executivas. Além desses desfavoráveis números para acesso às melhores vagas e remunerações, as mulheres são as que mais sofrem assédio moral e sexual no trabalho, além da falta de respeito à autoridade feminina.
Diante de tanta evolução em várias frentes da sociedade, talvez seja essa uma das mais antigas, silenciosas e amplas das violências discriminatórias. E o quadro grave se dá porque se alonga há tanto tempo, mesmo diante de um esforço das mulheres em se posicionar e buscar amplo conhecimento. Só não veio o reconhecimento. Não veio nesta geração, e temo que não virá na próxima ainda, pois uma parcela significativa da nova safra de liderança empresarial vem fortemente influenciada por pais com discurso e bandeiras machistas, misóginas e pautadas por estereótipos antigos. Espero que não, mas um novo tempo de velhas ideias se apresenta.
Leandro Resende – editor-chefe da Revista Leitura Estratégica
Linkedin: leresende