O avanço das apostas on-line no Brasil deveria soar um alerta generalizado — não apenas para autoridades, mas para qualquer cidadão atento ao que corrói, silenciosamente, o orçamento das famílias brasileiras. Aquilo que já foi considerado um passatempo esporádico, associado a jogos de loteria ou bolões entre amigos, tornou-se um hábito digitalizado, constante e potencialmente destrutivo. A legalização das apostas esportivas em 2018 e a recente regulamentação em 2025, abriram um mercado bilionário, mas sem o devido debate público sobre os riscos sociais envolvidos.
Dados recentes do Banco Central (BC) revelam que os brasileiros estão apostando até R$ 30 bilhões por mês em plataformas on-line — cifra que assusta mais pelo que representa: a transferência contínua de renda das famílias para ambientes de altíssimo risco e baixo retorno. Contudo, não se trata de demonizar o setor. O problema é o vácuo de proteção social e financeira em que esse consumo se instala. Outro estudo, este da Confederação Nacional do Comércio, dá conta de que R$ 68 bilhões foram gastos com apostas on-line entre 2023 e 2024, gerando mais de 1,3 milhão de inadimplentes associados a dívidas provocadas pelo vício em jogos e uma verdadeira financeirização da ilusão.
A situação se agrava ainda mais entre as camadas mais vulneráveis da população. O problema, portanto, transcende a esfera econômica: tornou-se também uma questão ética e social. Estamos diante de uma epidemia silenciosa de compulsão, impulsionada por algoritmos que transformam o jogo em vício e pela falta de uma cultura sólida de educação financeira.
Nesse sentido, a responsabilidade recai sobre o Estado, que precisa implementar políticas públicas de proteção e controle, e também sobre as instituições financeiras e a sociedade civil, que devem investir em educação e conscientização. Não se trata apenas de regular o setor, mas de enfrentar a raiz do problema: a falsa promessa de enriquecimento rápido que mascara o empobrecimento real de milhões. Dessa forma, é fundamental que medidas sejam adotadas para mitigar os impactos negativos das apostas on-line, e isso inclui a proposição e implementação de um marco regulatório robusto para o setor de apostas on-line, que inclua mecanismos de controle e fiscalização eficazes.
Em suma, o fenômeno das apostas on-line é complexo e multifacetado, exigindo uma abordagem integrada entre governo, instituições financeiras e sociedade civil. É preciso, sobretudo, que a sociedade brasileira recupere o valor do dinheiro como ferramenta de planejamento, uma vez que a banalização das apostas digitais compromete não apenas a renda, mas também a esperança de futuro. Enquanto se aposta no improvável, perde-se no essencial. Por outro lado, por meio da educação e do apoio mútuo, é possível construir uma sociedade financeiramente saudável.

Diogo Mafia,
é diretor-presidente do Sicoob UniCentro Br.