No Brasil, quem empreende é muitas vezes tratado como suspeito. Tanto o governo quanto parte da sociedade olham para o empresário como alguém que precisa ser vigiado, punido e limitado — e não como um agente essencial de crescimento econômico e geração de bem-estar.
Essa mentalidade se reflete em uma combinação tóxica de excesso de burocracia, carga tributária elevada, insegurança jurídica e um ambiente de negócios marcado pela hostilidade. Em vez de fomentar a atividade produtiva, o Brasil tende a criar barreiras. Em vez de confiar, desconfia. Em vez de incentivar, penaliza.
Curiosamente, a resposta para essa distorção poderia vir de um exemplo simples e bastante atual: o pistache.
O consumo de pistache no Brasil vem dobrando a cada ano. Mas esse movimento não surgiu espontaneamente. Ele foi fruto de uma estratégia deliberada, conduzida pelo governo dos Estados Unidos — hoje o maior produtor mundial da castanha. Há pouco mais de um século, não havia sequer uma árvore de pistache nos Estados Unidos. O Irã dominava completamente o mercado mundial. Foi o trabalho de longo prazo, planejado e eficiente do governo americano, que transformou o cenário global.
Investimentos pesados em pesquisa agrícola, promoção internacional do produto, subsídios aos produtores, campanhas publicitárias bem estruturadas e incentivo logístico fizeram com que o pistache americano conquistasse mercados no mundo todo. Não apenas no Brasil, mas globalmente, o consumo da castanha explodiu.
Não foi preciso obrigar ninguém a consumir pistache. Bastou facilitar o acesso, reduzir entraves e construir uma imagem positiva do produto. O mercado respondeu naturalmente: mais oferta, mais consumo, mais prosperidade.
Com o empresário brasileiro, a lógica deveria ser a mesma. Em vez de enxergá-lo como uma ameaça a ser contida, o Brasil deveria agir como os Estados Unidos fizeram com o pistache: criar condições para que ele cresça, prospere e contribua ainda mais para a sociedade.
Infelizmente, o que se vê é o oposto. A cada nova legislação, a cada novo tributo, a cada novo entrave burocrático, o País reforça a percepção de que empreender aqui é um ato de resistência — não de parceria com o Estado e com a sociedade.
Essa visão distorcida não atinge apenas os empresários. Ela prejudica toda a cadeia produtiva, compromete a geração de empregos, reduz a inovação e limita o crescimento econômico.
É preciso mudar essa mentalidade. Fiscalizar, sim; estimular, também. Punir quem frauda ou age de má-fé, claro; mas sem generalizar, sem tratar todos os empresários como suspeitos.
O caso do pistache é uma metáfora poderosa: onde há estímulo, há crescimento. Onde há confiança, há prosperidade. O Brasil precisa entender que estimular quem produz é, em última instância, estimular toda a sociedade.
Menos desconfiança. Mais incentivo. Menos amarras. Mais liberdade para quem gera riqueza. Esse é o caminho para um país mais próspero — para todos.

Dênerson Rosa
Advogado, fundador da Sociedade de Advogados Dênerson Rosa, mais de 20 anos de atuação em Direito Tributário e Empresarial.