O tema principal da campanha de 2026 já está na rua. Dá até para ver uma Kombi 1974 atravessando bairros com um alto-falante improvisado no teto e ostentando seus números e um discurso pronto. “Eu mato mais. Vou cancelar CPF delivery. Vou jogar bomba, vou dar porrada, tiros não vão faltar – puxe o gatilho, aperte o ‘confirma’ e o Brasil vai ganhar”.
Nesta toada, nas Assembleias e no Congresso, quiçá 80% dos parlamentares vão ter não sobrenome, mas prenomes: coronel Tanajura, tenente Wilson, guarda Belo, reco Tião, capitão Nascimento, segurança de boate Joãozão, soldada Trombeta (…).
Essa tendência se consolida como novo capítulo do País, pobre de assunto e polarizado. Conduzida pela realidade dos algoritmos dos tocadores de boiada de redes sociais. A manada se alegra com os números. Os comentários são histéricos (em vez de ser históricos). Se houvesse nas Olimpíadas uma prova de comentários de Instagram, os brasileiros levariam todas as medalhas (barba, cabelo e bigode). Vai ter um povo criativo e engraçadinho para comentar todo tipo de assunto, dos mais sórdidos aos mais cômicos.
Mas voltemos aos tiros no complexo de favelas cariocas. O Rio de Janeiro e São Paulo têm os dois maiores CNPJs das facções do crime organizado no País. Cancelar CPF dos aviõeszinhos, olheiros com fuzil na mão, gerente de boca famosinho, vigia de beco e alguns líderes ou gerentes do tráfico não vai fazer cosquinha na organização criminosa.
Levanta o alerta, claro, mas ela segue, porque sabe que é uma fase do marketing político. Sobrou para eles e vai ter muita bomba até outubro de 2026 – se chegar lá, porque o algoritmo cansa e, no meio do caminho, tem Copa do Mundo, né? De repente vão focar mais na operação Bolívia, conexão Paraguai, fortalecer as rotas do Pacífico, avançar nos negócios na Europa até a poeira baixar e o tema esfriar no Brasil.
Caveirão, helicóptero, drones, fileiras de corpos na rua… isso pode cansar mais rápido do que a novela Virgínia+Vini Jr. O tema é forte, mas as trends mudam rápido no Brasil. A violência há muito deixou de ser um fenômeno policial. É um sistema. Um organismo vivo que se adapta, lucra, negocia e se infiltra. A facção é uma ramificação sofisticada de CNPJs e não um mesinha com 120 CPFs de gente pobre que pega no fuzil pra ganhar um trocadinho para ir ao baile. O grosso do dinheiro e do comando não está na favela. O dinheiro circula no ecossistema do crime, paga juízes, delegados, polícia, compra mansões e iates, compra influenciadores, deputados e empresas limpas de segmentos variados, de concessionárias a posto, de bets e offshore a fintechs – e logo, quando aprovar, vai comprar cassinos (a máfia adora jogo). Esse tiroteio (meio teatrão de campanha) pega só os bagres, não vem um tubarão na rede. Faz mais barulho e imagem do que ameaça os donos do CNPJ do crime – aqueles que não morrem com tiro, porrada e bomba.
Se falta inteligência e sobra espetáculo, pelo menos abre o caminho na mata para uma mexida na verdadeira caixa de marimbondo. Se vão colocar a mão lá dentro, são outros quinhentos. O caminho e simples: rastrear fluxos, seguir o dinheiro, cruzar dados, mudar legislações, desmontar esquemas e, sobretudo, romper a promiscuidade entre o crime e as instituições que o protegem. Uma coisa eu digo, se for por aí, vão afetar interesses do mundo branco, rico e emergente.
Leandro Resende,
editor-chefe
Linkedin: leresende














