Por Rafael Mesquita
O Natal de 2012 foi decisivo para o futuro profissional da empresária Gina Facuri. Na época, a então advogada tributarista fazia mestrado em Londres e veio passar o Natal em Goiânia. “Percebi que aquilo não era pra mim e decidi ficar de vez. Voltei em dezembro de 2012 e em janeiro já recebi o convite para trabalhar na Pernod Ricard do Brasil, que é a segunda empresa mundial de destilados”, recorda.
Da cultura europeia, Gina trouxe grandes ideias que contribuíram muito para definir o caminho que iria seguir. “Quando morei em Londres, fiz a rota do whisky e me apaixonei. Conheci o mercado de luxo visitando mais de 30 países e pensei: por que não levar essas experiências para Goiânia?”, lembra.
Não demorou muito para a capital de Goiás conhecer um pouco daquele universo. Gina já acumulava vasta experiência no mercado de luxo. Na Pernod Ricard, entrou como consultora e saiu gerente de área. Depois, na LVMH (Moët Hennessy Louis Vuitton), uma das maiores e mais influentes empresas do segmento no mundo, atuou nas áreas de comunicação, expansão, vendas e eventos da marca em todo o país.
O ano era 2020 quando decidiu deixar Brasília, onde morava, para voltar a Goiânia e se casar com o médico oftalmologista Ricardo Bittar. O imóvel da família, a antiga casa em que Gina viveu a infância, a adolescência e parte da fase adulta no Setor Marista, em Goiânia, estava desocupado. Foi então, ainda no período da pandemia, que o sonho se concretizou: lançar, ao lado de quatro sócios, a Reserva 35. “Eu queria trazer para a nossa capital uma grande empresa do mercado de luxo e consegui. Somos a maior adega de vinhos e destilados do Brasil, com uma variedade de mais de 5 mil rótulos de 30 países”, orgulha-se.
Inicialmente, Gina seria a responsável apenas pela área de marketing comercial. Os setores administrativo e financeiro da empresa ficariam a cargo dos outros sócios. “Aquele início foi fundamental. É como se estivéssemos cuidando de um filho, em que é preciso entregar 100%”, afirma. Há 3 anos, a empresária adquiriu a parte pertencente aos demais sócios.
A Reserva 35 se tornou referência nas mais variadas marcas de vinho, gin, whisky, cachaça, vodka, licor e conhaque. “Busco exemplos de fora de Goiás e trago para cá. Trouxe os maiores enólogos do Brasil para a nossa adega. Elevamos o padrão da cidade em bebidas e experiências”, avalia. A empresária acredita que a novidade é fundamental para se sustentar no mercado.
“Sou referência nacional no mundo do vinho, porque inovo todos os dias. Quem não inova, fica pra trás. Para o empresário do varejo, então, isso é fundamental”, analisa.
O negócio expandiu e a Reserva 35 se tornou ainda restaurante durante o dia e espaço para eventos à noite. “Os clientes pediam para eu montar um restaurante. Começamos a testar com espaço menor. Neste ano, abrimos o segundo andar com esse objetivo. Está sempre lotado, inclusive com reservas do espaço todos os dias no período noturno”. É comum a presença de artistas, políticos e empresários no local.
Além disso, a empresa passou a atender todas as marcas de luxo de Goiânia em eventos externos, em que fornece o buffet e as mais sofisticadas bebidas, com direito à presença de um sommelier. Gina enaltece a equipe de 43 colaboradores. “Não faço nada sozinha, tenho um time muito bom que me permite estar à frente do negócio. Sem time, ninguém consegue crescer”, acredita.
Mesmo assim, ela avalia que a dificuldade de contratação ainda é um grande desafio do segmento. “O mercado de luxo em que eu atuo necessita de mão de obra qualificada. A falta disso dificulta até a capacidade de expansão”, explica. Ela entende que as características das novas gerações muitas vezes impedem que haja a continuidade do trabalho. “São jovens que não são acostumados a levar um não. Isso os torna mais fracos, incapazes de saber lidar com situações adversas”, afirma.
Se, por um lado, há a dificuldade de mão de obra qualificada, o crescimento de 28% em relação ao ano passado mostra que, com criatividade, fica mais fácil superar os desafios. As redes sociais se tornaram uma grande aliada. A própria empresária aparece nos vídeos mostrando o espaço e os produtos oferecidos. “O bom da Internet é que todos estão lá. A empresa que não está online não existe. Gosto de falar com os meus clientes, porque entendo que pessoas devem conectar-se com pessoas”. O resultado é que 60% das vendas da Reserva 35 são feitas de forma online.
A intenção é expandir os negócios nos próximos meses. “Quero promover o crescimento do nosso serviço de buffet e abrir duas novas unidades da empresa, uma em Goiás e outra em Mato Grosso”, afirma. A expectativa é que a Reserva 35 em Rio Verde, no sudoeste goiano, seja inaugurada em dezembro, e em Cuiabá, até julho do ano que vem.
A empresária acredita que o cenário em Goiânia favorece o modelo de negócio. “A cidade se tornou a menina dos olhos das grandes marcas. Referência não só para Goiás como para outros estados próximos. Pessoas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Maranhão procuram a nossa capital em busca dos serviços e produtos aqui ofertados”, explica.
Ela cita a presença com sucesso em Goiânia de empresas internacionais do mercado de luxo. Entre elas: Porsche, Louis Vuitton e Tiffany. Há ainda referências locais reconhecidas nacionalmente, como o chef Ian Baiocchi. “Dez anos atrás, havia poucos restaurantes de alta gastronomia na cidade. Ele conseguiu elevar o nível do setor”, admite. Mas o crescimento do mercado premium na capital não assusta. “Não vejo os outros empresários como concorrentes, mas sim como players do mesmo segmento, que ajudam a elevar a régua da qualidade do serviço prestado”, avalia.

Avô e a herança empreendedora
O senhor Jacob Facuri foi um dos primeiros libaneses a chegar em Goiânia, fugido da guerra civil do Líbano (conflito ocorrido entre 1975 e 1990). Era mascate e percorria o interior de Goiás para vender as suas mercadorias. Nessas andanças, já dormiu em banco de praça para que sobrasse dinheiro e pudesse mandar à avó de Gina em Goiânia. Abriu loja de brinquedos no Setor Campinas e no Centro e, depois, também empreendeu no ramo de enxovais.
Empreendedorismo e investimentos em imóveis o ajudaram a conseguir o sucesso que esperava. “Aprendi com ele a negociar e a ter caráter. Ele faleceu em 2017, tendo construído um império com muito trabalho”, emociona-se. O hospital da família leva o nome do avô e é o maior em leitos de UTI no Centro-Oeste.
Para Gina, a história de Jacob Facuri e da família explica o dom empreendedor que sempre fez parte de sua vida. “Nas férias escolares, independente da situação financeira, minha mãe colocava minha irmã e eu para trabalharmos nos negócios da família. Eu cresci atrás de um balcão”, recorda.

Talvez por isso, aos 14 anos, decidiu começar a ganhar dinheiro trabalhando. A história é inusitada e curiosa. “Eu queria ir a uma festa, minha mãe não quis me dar o dinheiro. Então, comecei a vender ingressos para ganhar o meu. Depois, percebi que aquilo poderia ser um negócio e passei a vender as entradas de várias festas para ganhar o meu próprio dinheiro”, lembra. Em pouco tempo, Gina já estava contratando os amigos para ajudá-la nas vendas.
Dali em diante, não parou mais. Anos depois, abriu uma empresa de produção de eventos e shows. Cuidava do camarim, buffet, backstage e cenário. Mas, em paralelo, já cursava Direito na PUC Goiás. Em um determinado momento, escolheu seguir na profissão que se formou, advogando por dez anos. “Isso me ajuda até hoje. Sou muito comunicativa e fiz vários contatos na época. Também me deu uma boa base jurídica. Tenho o conhecimento tributário que muitas vezes o empresário não tem”, afirma.

Agência, confraria e casamento
Além da Reserva 35, Gina Facuri investe em uma agência de marketing de experiências voltada para o mercado de luxo. Ao lado das sócias Amanda e Camila, abriram a AGCy. “Levamos pessoas para pertencer à marca. Atendemos grandes empresas de chocolate, roupa feminina, montadora de carros de luxo, panelas francesas e também realizamos trabalhos pontuais com companhias goianas”, explica.
A empresária ainda tem a própria confraria. Trata-se de um clube de quase 300 mulheres empreendedoras que se prestigiam. A Confraria da Gina é composta por empresárias do ramo de moda, gastronomia, médicas, dentistas. “Realizamos uma reunião por mês na Reserva 35 com jantar, vinho e troca de experiências. Fazemos questão de adquirir produtos e serviços ofertados por nós mesmas. Uma forma de uma apoiar e incentivar a outra”, afirma.
Tantos compromissos, mas sexta-feira, a partir das 17 horas, o encontro marcado é com o marido. “É quando começa o final de semana pra gente. Hora de fazermos as nossas programações”, diz. O casal já foi até a França assistir ao tradicional torneio de tênis de Roland Garros, uma outra paixão do médico Ricardo Bittar. “Claro que também aproveitei a viagem para irmos à região de Champagne (França) apreciarmos um bom vinho”, brinca.
Ela ainda destaca o apoio do esposo no seu crescimento profissional. “Ele sempre me incentivou a ir atrás dos meus sonhos. Nunca deixou de acreditar em mim”, conclui.

