Há muito se diz que o Brasil é um país de oportunidades mal aproveitadas. O Centro-Oeste, esse território híbrido entre o agro e o digital, entre a tradição e a urgência do novo, ainda vive um dilema silencioso: empresas que faturam alto, mas valem pouco.
Sim, falo de valor simbólico. Falo de marca. De alma.
Na era da inteligência artificial, do agro 5.0 e do marketing de performance milimétrico, ainda vemos a esmagadora maioria das empresas colhendo milhares de dados mas esquecendo de cultivar significado. Que tratam branding como luxo estético enquanto queimam recursos competindo com o mercado para ver quem é a melhor commodity.
A verdade é cruel e chancelada pelo tempo: sem construção de marca, sua empresa está em risco de apenas ‘alugar’ resultados (para aproveitar o tema do nosso pujante mercado imobiliário). Não constrói patrimônio institucional. Adia-se relevância.
Naturalmente, é importante sermos cada vez mais eficientes enquanto empresas, mas e se isso for apenas parte da métrica? Goiás, com seu protagonismo no agro, no turismo ecológico, na tecnologia, no mercado imobiliário, na bioeconomia e na logística, não pode se contentar em ser apenas “eficiente”. A eficiência é o que te coloca no jogo para competir. Marca é o que te mantém nele quando o jogo muda. E ele está mudando rápido.
No ano passado, cruzei com um conceito que resume bem esse movimento: tech supercycle. Uma convergência acelerada entre IA, bioengenharia e hiperconectividade. O futuro chegando mais depressa do que conseguimos absorver. Mas o ponto é: não adianta implementar um CRM com IA se seu cliente não sente nada ao ouvir seu nome. Tecnologia sem narrativa é só ruído, e como sabemos, ruído não constrói fidelidade de clientes.
A maioria das empresas da Região segue presa ao vício da performance. Vendem hoje, mas não são lembradas amanhã. Estão como o pecuarista que engorda o boi sem cuidar da reputação da carne. Otimizam o presente e negligenciam o futuro. Pensam em resultado mas não em governança.
Está na hora de virar o jogo
Precisamos de marcas que se posicionem com clareza. Que tenham coragem de dizer a que vieram. Que se conectem com o público sem frases genéricas ou causas emprestadas. Marcas que falem como gente. Que tenham um ponto de vista, uma linguagem própria, uma coerência que resista ao tempo e aos algoritmos. Inovação, hoje, é saber o que faz sentido e deve permanecer. É parar de vender só produto e começar a vender sentido.
Branding não é sobre logotipo. É sobre legado. Sobre criar empresas à prova do tempo e futuro. Que vivem, não apenas na prateleira ou no feed, mas na memória afetiva de quem consome e recomenda.
No fim das contas, performance é aluguel. Marca é terra própria.

Ciro Ribeiro Rocha,
fundador da Enredo Brand Innovation.