Rafael Vaz
A economia brasileira atravessou 2025 sob tensão permanente. Ao longo do ano, decisões duras de política monetária, conflitos entre governo e Banco Central, dificuldades fiscais, choques externos e mudanças tributárias moldaram um cenário de crescimento moderado, juros elevados e incerteza estrutural. Mais do que um ano de viradas, 2025 foi um ano de administração de riscos.
Juros a 15% e o protagonismo do Banco Central
O principal fato econômico de 2025 foi a manutenção da taxa Selic em patamar historicamente elevado. Ao longo do ano, o Banco Central sustentou juros que chegaram a 15% ao ano, consolidando uma das políticas monetárias mais restritivas do mundo.
A justificativa central foi a persistência da inflação de serviços, sustentada por mercado de trabalho aquecido e consumo resiliente. A Selic elevada atravessou todo o ano como variável dominante, impactando crédito, investimento, crescimento e o próprio debate político.
Inflação: cautela permanente
A inflação perdeu força em relação a anos anteriores, mas não permitiu conforto. O índice desacelerou, porém permaneceu acima do centro da meta durante boa parte de 2025, mantendo as expectativas sob vigilância.
Os preços de serviços continuaram sendo o principal foco de preocupação, refletindo renda em alta e baixo desemprego. O controle inflacionário avançou mais por compressão da demanda – via juros – do que por ganhos estruturais de produtividade.
Mercado de trabalho forte e o paradoxo do consumo
Mesmo sob juros elevados, o mercado de trabalho foi um dos principais sustentáculos da economia em 2025. O desemprego atingiu mínimas históricas, enquanto a renda real avançou, sustentando o consumo das famílias.
Esse cenário criou um paradoxo central do ano: a política monetária atuava como freio, mas o emprego aquecido impedia uma desaceleração mais intensa da atividade, reforçando a leitura do Banco Central de que os juros precisariam permanecer altos por mais tempo.
Consumo resiliente, crédito caro e endividamento
O consumo das famílias manteve dinamismo, especialmente nos serviços, mas o crédito caro passou a impor limites mais claros ao longo do ano. O encarecimento dos financiamentos afetou o consumo de bens duráveis e pressionou o endividamento das famílias.
Empresas, sobretudo pequenas e médias, também enfrentaram restrições de crédito, adiando investimentos e priorizando ajuste financeiro.
Crescimento do PIB: avanço moderado e investimento fraco
O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu em 2025, mas em ritmo moderado. O avanço foi puxado majoritariamente pelo setor de serviços e pelo consumo interno, enquanto a indústria e o investimento produtivo ficaram para trás.
A leitura predominante ao longo do ano foi clara: o Brasil cresceu apesar dos juros, e não por um ambiente favorável ao investimento de longo prazo.
Setores mais afetados pelos juros
Alguns setores sentiram de forma mais intensa o aperto monetário. A construção civil, o mercado imobiliário e parte da indústria enfrentaram desaceleração, com projetos sendo adiados diante do custo elevado do capital.
O agronegócio, que havia sido motor em anos anteriores, teve desempenho mais fraco em 2025, impactado por preços internacionais, questões climáticas e menor impulso externo.
Fiscal no centro do conflito político
A política fiscal foi um dos principais focos de tensão ao longo do ano. A ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil foi uma das medidas de maior impacto social e político de 2025, elevando a renda disponível de milhões de brasileiros.
Ao mesmo tempo, o governo enfrentou dificuldades para avançar em medidas de ajuste e compensação fiscal. Propostas encontraram resistência no Congresso, alimentando incertezas sobre a trajetória das contas públicas e intensificando o embate com o Banco Central.
Governo x Banco Central
O conflito entre governo e Banco Central deixou de ser apenas técnico e ganhou dimensão política ao longo de 2025. Críticas públicas à condução da política monetária tornaram-se recorrentes, refletindo a tensão entre a busca por crescimento e a defesa do controle inflacionário.
Esse embate contribuiu para aumentar o ruído institucional e influenciou o humor dos mercados ao longo do ano.
O “tarifaço” e o choque externo
No cenário internacional, 2025 ficou marcado pelo “tarifaço”, a escalada de medidas protecionistas adotadas por grandes economias, especialmente os Estados Unidos. O aumento de tarifas e barreiras comerciais elevou a incerteza global e pressionou cadeias produtivas.
Para o Brasil, o impacto foi indireto, mas relevante: maior volatilidade cambial, revisão de expectativas sobre exportações e aumento da cautela por parte de investidores.
Câmbio, mercado financeiro e humor: os investidores
O câmbio refletiu a combinação de juros elevados, ruídos fiscais e cenário externo adverso. Apesar do diferencial de juros favorável, o real enfrentou episódios de volatilidade ao longo do ano.
A Bolsa teve desempenho irregular, sensível às notícias fiscais e ao ambiente internacional, enquanto o fluxo de capital estrangeiro oscilou diante da percepção de risco.
A retrospectiva econômica de 2025 revela um ano intenso, marcado por freios e disputas. A economia cresceu, manteve emprego e evitou desequilíbrios graves, mas ao custo de juros muito elevados, investimento fraco, tensão institucional e dependência do consumo.
Economia brasileira em 2025
Selic (pico em 2025): 15,0% ao ano
Juros reais: entre os mais altos do mundo
Inflação (IPCA, 12 meses): em torno de 4,5% a 5%
PIB: crescimento próximo de 2%
Desemprego: mínimas históricas, abaixo de 6%
Renda real: alta ao longo do ano
Consumo das famílias: crescimento moderado
Crédito: restrito, com custo elevado
Investimento produtivo: fraco
Isenção do IR: até R$ 5 mil/mês
Câmbio: ano de volatilidade
Cenário externo: impacto do “tarifaço” e do protecionismo
Marca de 2025: crescimento sob forte aperto monetário














