A atração de recursos privados e estrangeiros para infraestrutura logística em Goiás depende diretamente de percepções de estabilidade política, previsibilidade regulatória e boas relações exteriores.
No atual cenário, dois vetores concentram as maiores ameaças: o distanciamento comercial e diplomático do Brasil em relação aos Estados Unidos e à União Europeia, marcado por tarifas elevadas e dificuldade de diálogo e a insegurança jurídica interna, reforçada pela crise no Supremo Tribunal Federal (STF) e pelas sanções da Lei Magnitsky a autoridades brasileiras.
A escalada tarifária anunciada pelo governo Trump — com sobretaxas de até 50% sobre produtos brasileiros — sinaliza um ambiente hostil ao comércio exterior do País, elevando o risco-país e contraindo o apetite por novos projetos logísticos. Tarifas elevadas criam precedente de retaliação setorial e inibem financiamentos futuros. Dificuldade de interlocução formal com autoridades americanas e europeias reduz a confiança de bancos e fundos internacionais na capacidade de negociação do Brasil
As sanções impostas pela Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, e o receio de expansão de alvos, intensificam a percepção de instabilidade jurídica. Bloqueio de bens e proibições de transações nos EUA agravam a incerteza sobre a segurança de garantias oferecidas em contratos de financiamento estrangeiro. Possibilidade de retaliações secundárias a instituições financeiras que mantenham relações com autoridades sancionadas cria um obstáculo adicional à captação de crédito
Investidores e agências de rating passam a reavaliar suas exposições ao Brasil, o que pode resultar em: elevação do custo de capital; redução da alavancagem financeira em projetos de longo prazo, notadamente em ferrovias, hidrovias e terminais multimodais; despriorização de estados menos articulados diplomática e juridicamente, como Goiás, em favor de regiões com cenário regulatório mais previsível.
Para neutralizar esses riscos, Goiás já anunciou medidas e ainda pode adotar outras estratégias de mitigação, como o fortalecimento de parcerias multilaterais; a busca linhas de crédito junto a organismos como o Banco Mundial (BID) e o Banco Europeu de Investimento, que costumam atuar independentemente de crises bilaterais; ampliar garantias políticas e contragarantias estaduais, com a criação de um fundo de seguro político-jurídico para projetos de infraestrutura, assegurando indenizações em caso de instabilidade; focar em PPPs com cláusulas de ajuste automático, pelo qual prevê-se revisão tarifária sempre que indicadores de risco-país ou cotações de moeda estrangeira ultrapassarem patamares predefinidos; intensificar o marketing internacional, com a realização de missões técnicas em países do BRICS e no Oriente Médio, diversificando fontes de investimento e reduzindo dependência de EUA e UE.
Apesar do contexto adverso a curto prazo, a adoção proativa de garantias, mecanismos de ajuste e parcerias alternativas pode manter Goiás no radar de investidores que buscam mercados emergentes com potencial de crescimento estruturado.

Juscimar Ribeiro,
Advogado especialista em Direito Administrativo e Direito Constitucional.