Em tempos de margens apertadas e alta competitividade, empresas que não controlam bem os seus custos correm sérios riscos e um dos maiores vilões silenciosos é a má gestão da folha de pagamento. Segundo o Relatório Geral da Justiça do Trabalho 2024, houve aumento de 14,3 % no número de processos julgados na Justiça do Trabalho em relação ao ano anterior, sinalizando o crescimento de litígios trabalhistas. Isso mostra como a folha pode esconder um passivo invisível que, sem monitoramento, pode comprometer o caixa e até inviabilizar o negócio.
O problema está, muitas vezes, nos detalhes. Acúmulo de horas extras, adicionais noturnos ou percentuais de insalubridade sem controle, benefícios concedidos sem critérios, falta de política de cargos e salários, encargos trabalhistas e previdenciários não otimizados e ausência de planejamento financeiro de médio e longo prazo. Fatores que, somados, geram imprevisibilidade e dificultam o controle de custos e a tomada de decisão.
Muito mais que dos salários fixos, a folha de pagamento inclui encargos como INSS, FGTS, férias, 13º, horas extras, adicionais e benefícios, além das obrigações acessórias como eSocial e DCTF-web, EFD-REINF e Perdcomp-web. Todos esses elementos devem ser considerados desde o início para evitar erros que gerem passivos que só aparecem anos depois, por meio de ações judiciais ou fiscalizações.
Um adicional não pago corretamente, um benefício cortado de forma irregular, aplicação das alíquotas previdenciárias incorretamente, uma contratação sem respaldo legal, tudo isso pode gerar multas, indenizações e acordos que impactam diretamente no resultado da empresa. E o mais grave é que esses riscos costumam ser invisíveis para o empresário até se tornarem crises.
Outro ponto crítico é o impacto tributário. Muitas empresas deixam de aproveitar regimes mais vantajosos ou incentivos por não estruturarem corretamente as suas folhas. Isso significa pagar mais encargos do que o necessário ou ficar vulnerável a autuações fiscais. Um bom planejamento trabalhista e previdenciário empresarial, com apoio contábil, pode reduzir custos e dar mais previsibilidade financeira.
É aí que entra o papel estratégico do contador. Mais do que apurar impostos ou processar a folha, ele atua como um consultor, identificando riscos, propondo ajustes e estruturando políticas que alinhem a legislação trabalhista / fiscal (previdenciária) à realidade e às metas da empresa. Através de análises técnicas, simulações e auditorias preventivas, é possível transformar a folha de pagamento de um passivo invisível em uma ferramenta de gestão eficiente.
Em um cenário empresarial cada vez mais complexo, no qual a conformidade e a boa governança são exigidas por investidores, parceiros e até clientes, ignorar o planejamento da folha e das normas fiscais é um erro que pode custar caro. O segredo está na antecipação, no controle e na visão estratégica. Afinal, uma folha bem planejada é sinônimo de organização, transparência e sustentabilidade para qualquer negócio.

Bruno Prado,
Sócio e diretor de Operações Trabalhistas e Previdenciárias da boutique contábil KBL Contabilidade, sócia-membro do Tax Group