Um novo terminal portuário em construção no Porto de Santos, o maior da América Latina, promete movimentar até 14 milhões de toneladas de grãos por ano e reposicionar o Brasil no cenário global do agronegócio. O investimento, de 285 milhões de dólares, é liderado por uma estatal chinesa.
Em 2024, o Porto de Santos bateu recorde histórico, movimentando 179,8 milhões de toneladas de carga, com destaque para milho, açúcar e, principalmente, soja. Só em 2023, o porto foi responsável por 40% das exportações brasileiras de soja em grãos para a China.
O Brasil tem intensificado a importação de insumos, maquinários e sementes provenientes da China, fortalecendo a integração entre as cadeias produtivas dos dois países, além de visar a implantação de novas fábricas vindas da China para o Brasil.
A localização de Santos, com ampla malha rodoviária e ferroviária convergindo para o porto, foi decisiva para o projeto.
O terminal contará com silos verticalizados, climatização inteligente e esteiras automatizadas capazes de carregar 2 mil toneladas por hora e será dedicado exclusivamente à exportação, porém as atividades serão apenas com parceiros comerciais, garantindo agilidade em períodos de pico.
Inspirado em portos de referência mundial, como um dos portos chineses, o projeto prevê infraestrutura para navios de grande porte, tecnologias sustentáveis e práticas alinhadas a critérios internacionais de ESG. Entre os destaques, estão sistemas de contenção de particulados, isolamento acústico e captação de águas pluviais para uso operacional.
IMPACTOS INTERNACIONAIS
Em 2023, o Brasil exportou US$ 166,55 bilhões para a China — 49% de toda a sua pauta de exportações —, consolidando-se como o principal fornecedor de soja, milho, carne e celulose. O novo terminal permite que Pequim amplie significativamente suas importações diretas do Brasil.
Além de Santos, a China investe em iniciativas como a Ferrovia Bioceânica, que pretende ligar o Centro-Oeste brasileiro a um porto no Peru, reduzindo em até dez dias o tempo de navegação até a Ásia.
O novo terminal conta com vantagem estratégica: a proximidade entre Mato Grosso, Goiás e Paraná reduz custos logísticos e aumenta a margem para exportadores. Investimentos em ferrovias, rodovias e hidrovias garantem que os grãos cheguem mais rápido e barato a Santos, tornando o porto ainda mais atrativo para a China.
Outro diferencial é o controle acionário: o porto será operado diretamente por uma estatal chinesa, eliminando intermediários e garantindo contratos de longo prazo com produtores brasileiros. O terminal é uma declaração geopolítica embutida em silos, esteiras e navios graneleiros. Ele pode reduzir drasticamente a dependência chinesa de outros países e inserir o Brasil de forma mais profunda na logística global de alimentos.
Enquanto milhões de dólares entram pelo canal de commodities, o País enfrenta o dilema da baixa agregação de valor e do risco de desindustrialização silenciosa. O verdadeiro desenvolvimento depende de equilibrar crescimento exportador com tecnologia, indústria e educação, garantindo que o Brasil seja além de exportador, mas também produtor de inovação.

Chang Yung Kong,
Especialista em diplomacia econômica, desenvolvimento de negócios globais e articulação entre setores público e privado. Presidente da Corporação Chang.