Sempre tive muito mais interesse em analisar as demonstrações contábeis de empresas públicas e/ou privadas do que em olhar o “balanço do Brasil”. No entanto, diante das diversas narrativas sobre a situação do País — das fake news, do aumento dos gastos públicos, das fraudes desenfreadas, da polarização e da falta de um plano de governo (o que não é novidade) – resolvi dar uma “olhadinha rápida” nas demonstrações contábeis de 2024.
Precisarei estudar um pouco mais as regras contábeis públicas, mas vou comentar assim mesmo, com a visão de um auditor e contador.
Então, vamos lá!
- 361 páginas com linguagem confusa, citações de diversas leis e regulamentos, além de termos de difícil compreensão. Precisarei de mais tempo para preparar um resumo para os colegas;
- Como contribuinte, usuário de serviços públicos e, “um dos pagadores” dessa “máquina de consumir dinheiro”, me dei o direito de fazer algumas considerações iniciais e colocar dúvidas para reflexão;
- Não encontrei auditoria independente opinando sobre essas demonstrações contábeis. Se, com auditoria, já encontramos problemas, imagine sem, principalmente quando “o papel aceita qualquer coisa”;
- As práticas contábeis adotadas divulgadas envolvem diversos normativos, desde a Lei 4.320/64 até o Manual que trata das normas internacionais de contabilidade aplicadas ao setor público. Tenho dúvidas se uma lei de 1964 ainda é capaz de gerar informações relevantes para os usuários;
- Logo na primeira análise do Balanço Patrimonial, o patrimônio líquido é negativo em R$ 5,91 trilhões;
- O déficit do exercício de 2024, aparentemente, é de R$ 628 bilhões, conforme demonstrativo denominado “Demonstração das Variações Patrimoniais”;
- Parece que, olhando apenas os gastos com pessoal e previdência, o nosso futuro parece sombrio. Se projetarmos a tendência, chegaremos a um cenário em que praticamente os recursos não serão suficientes para custeio no futuro. E os investimentos? E será que vou conseguir me aposentar mesmo como 36 anos de contribuição?;
- Na demonstração do fluxo de caixa, o montante destinado a investimentos é mínimo se comparado às despesas de custeio. Pelo valor, eu diria que é irrelevante;
- Apenas 17 empresas estatais estão consolidadas, aquelas definidas na Lei Complementar 101/2000 como dependentes. Fiquei em dúvida se não deveriam constar outras, como os Correios. Afinal, quem irá aportar recursos em uma empresa deficitária?
Não percam a oportunidade de olhar e analisar as demonstrações contábeis das quais todos nós, direta ou indiretamente, somos e/ou em algum momento seremos impactados.
Acho que você vai se surpreender (negativamente) com os custos e despesas!

Marcelo José de Aquino
Sócio da Ganplo Treinamento e Governança, Membro de Conselho de Administração e Consultivo de empresas.