No mesmo ecossistema empresarial em que se fala de inteligência artificial, ESG, transformação digital e gestão por dados, há companhias que ainda lutam para implantar um simples fluxo de aprovação de compras. É a face mais visível da heterogeneidade corporativa: um mosaico de empresas convivendo em tempos diferentes — algumas no futuro, outras ainda presas à lógica dos anos 1990.
Essa disparidade não se resume à tecnologia. Ela reflete modelos mentais, estruturas de poder e culturas de decisão. Enquanto umas estimulam a experimentação, a autonomia e o aprendizado contínuo, outras vivem aprisionadas em feudos hierárquicos, nos quais inovar ainda soa como ameaça à autoridade estabelecida.
O curioso é que o atraso também tem sua engenharia. Ele se sustenta em processos rígidos, em lideranças avessas ao erro e em controles que anestesiam a capacidade de adaptação. Já a inovação, por outro lado, nasce da curiosidade e da inconformidade organizada — de líderes que sabem equilibrar prudência com ousadia e que enxergam o erro como etapa do acerto.
O mercado, entretanto, é impiedoso com quem insiste em permanecer imóvel. A competição não é mais entre grandes e pequenos, mas entre rápidos e lentos. Os lentos planejam, os rápidos executam, ajustam e evoluem. Nessa dinâmica, a heterogeneidade corporativa tende a se acentuar: os que inovam, criam novas fronteiras, enquanto, os que atrasam, reforçam o fosso de competitividade.
Para reduzir esse descompasso, é preciso rever incentivos internos e reprogramar a cultura. Empresas que premiam apenas a estabilidade tendem a repelir a criatividade. Já aquelas que valorizam a experimentação e o aprendizado criam o ambiente ideal para o progresso.
Em última instância, a heterogeneidade corporativa é inevitável — mas o atraso é uma escolha. Inovar não é estar na moda; é permanecer relevante. E no mundo empresarial atual, relevância é o novo sinônimo de sobrevivência.

Rondinely Leal,
executivo com 20 anos de experiência em gestão, com atuação em grupos nacionais e multinacionais. Contador por formação com especialização em análise e auditoria, MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria. Professor e consultor.