O Brasil não decepciona nunca, com um hiperfoco em um Congresso Nacional apequenado, liderado por uma meia dúzia de deputados duvidosos, sem brilho e com ficha corrida maior que a de muitos líderes de facção. Cerca de algumas centenas de neófitos com diplomas de deputado ou senador, mas com cheiro de vereador novato de currutela.
A pauta econômica ou desenvolvimentista não consegue entrar no radar, a desigualdade e os problemas sociais ficam no segundo plano e o País segue, indiferente, sem perceber o tamanho do buraco que está se enfiando. É um País onde só crescem o crime organizado e as máfias correlatas.
Vamos a fatos que muito corroboram com a fotografia acima. Nesta semana, o Congresso Nacional decidiu votar em regime de urgência um projeto que, na prática, cria um manto de blindagem para parlamentares acusados de crimes. Trata-se de um retrocesso vergonhoso, que afronta décadas de avanços em uma transparência que ainda está longe de se consolidar no Brasil.
Ao abrir esse atalho para a impunidade, o Legislativo envia uma mensagem clara e soletrada para a sociedade: quem ocupar uma cadeira na Câmara ou no Senado passa a gozar de uma espécie de indulto preventivo.
No passado, quando o crime ainda era desorganizado, essa blindagem já representava um desastre institucional. Matadores e criminosos eleitos para o Congresso conviviam com deputados respeitados (ainda tinha uma boa safra lá).
Imagine agora: com o crime altamente estruturado, transnacional e conectado às engrenagens do poder econômico, a lei permitirá eleger líderes ou representantes emergentes de facções ao Parlamento. O Congresso se tornará o covil dos malfeitores, e a Casa de Leis será rebatizada de Terra dos Sem Leis – o porto seguro para criminosos e para quem deseja conduzir projetos clandestinos.
Deputados de todos Estados estão assinando essa irresponsabilidade histórica. O Brasil, que já enfrenta dificuldades imensas para construir confiança no Estado de Direito, caminha para converter o seu Parlamento em abrigo dos fora da lei.
E a urgência dessa votação escancara a distância entre os interesses da classe política e os anseios da sociedade. Não é a mesma urgência do desempregado, dos produtores rurais, dos empresários, dos aposentados, todos inseguros diante de regras que sempre mudam para prejudicar.
Neste momento, é preciso reação. O cidadão comum não pode assistir passivamente à criação de um regime de exceção que permita que políticos usem o mandato como um escudo para a criminalidade. Neste debate, não existem partido, preferência política, polarização ou ideologia.
O Brasil precisa de uma política que inspire confiança, que atraia investimentos, que sirva de referência ética para a sociedade. O que vimos nesta semana foi o oposto: um aceno perigoso à cultura de privilégios e ao apadrinhamento criminoso.
Político sério não precisa de blindagem e vota contra a desmoralização deste projeto. Como sempre, se “colar”, ele tende a ser replicado nas casas de leis estaduais e municipais.
Já que político só se preocupa com voto, use essa proposta de emenda à Constituição (PEC) como base para começar a pensar sobre o seu para as vagas do Congresso Nacional em 2026. Aliás, pensem formas de dizer isso a eles. Já seria uma grande resposta a quem tem ignorado a sua opinião.
LEANDRO RESENDE,
editor-chefe
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