Por Rafael Mesquita
Uma das primeiras curiosidades de quem conhece o executivo Edwal Freitas Portilho, 57 anos, é entender a origem do apelido “Tchequinho”. Ele logo entrega a explicação, com bom humor: “É porque eu sou filho do Tcheco, lá de Rio Verde. Então me tornei o Tchequinho”, brinca.
Para entender a história, é preciso voltar algumas décadas. O pai de Edwal, já falecido, era descendente de europeus e, por ter a pele muito clara, ganhou o apelido de “Tcheco” ainda na infância, em referência à antiga Tchecoslováquia, mais especificamente à atual República Tcheca (Tchéquia).
A família paterna de Tchequinho, de origem majoritariamente alemã, mas também com raízes tchecas, chegou ao Brasil antes da Primeira Guerra Mundial, inicialmente se estabelecendo no Rio de Janeiro. Mais tarde, mudou-se para Lavras (MG), onde um tio-avô formou-se em Agrimensura. Por volta de 1915, a família se fixou em Rio Verde (GO), onde esse tio passou a atuar profissionalmente.
A presença daqueles descendentes de europeus trouxe impactos significativos para o município goiano. “Minha avó, por exemplo, estudou em colégio protestante em Minas Gerais. Ela jogava basquete e andava de bicicleta pela cidade. Imagine isso, no interior de Goiás, naquela época? As pessoas viam como algo inadmissível para uma mulher”.
Do relacionamento do pai goiano e da mãe paulista, nasceram Edwal e outros três irmãos, todos criados em Rio Verde. Na cidade, Tchequinho fez o curso técnico em agropecuária e, em seguida, o superior de Zootecnia. Ainda na faculdade, o primeiro contato com o meio rural: iniciou a produção leiteira e de suínos na propriedade do pai. “Ali, foi o início para começar a lutar pelo setor. Aos 20 anos de idade, me tornei presidente da Comissão de Pecuária Leiteira do Sindicato Rural e, posteriormente, membro da Federação da Agricultura Pecuária de Goiás (Faeg)”, recorda.
O destaque do jovem Edwal no meio rural da região fez com que logo surgisse o convite para se tornar, aos 26 anos, secretário municipal de Meio Ambiente de Rio Verde, uma oportunidade de contribuir com o desenvolvimento da cidade. E assim fez. Tchequinho teve papel importante para levar a Perdigão (atual BRF), uma das grandes companhias de alimentos do Brasil, a instalar uma fábrica no município. “A disputa era entre a nossa cidade e Patos de Minas (MG). O mais difícil foi guardar segredo dos amigos, familiares, colegas produtores rurais e da comunidade sobre as tratativas com a empresa, que eram sigilosas”, explica. Foi então, que em 1996, o negócio foi oficializado. “Na época, foram R$ 700 milhões em investimentos (hoje, R$ 4 bilhões), algo muito significativo para o município. O então governador Maguito Vilela nos ajudou muito a conquistar essa vitória”, lembra.
Primeiro funcionário da Perdigão em Rio Verde
Em 1997, ao término do mandato do prefeito Osório Leão Santa Cruz, Tchequinho deixou o cargo de secretário e recebeu o convite que transformaria a sua vida: se tornou o primeiro funcionário local da nova fábrica da Perdigão em Rio Verde. Convite aceito, ele passou a ocupar a função de gestor de projetos agropecuários.
Foram 16 anos de empresa. Atuou nas áreas de venda, diretoria de novos negócios, implantação de infraestrutura e relações governamentais. “Na época, enfrentamos problemas de descumprimentos de acordos feitos com o governo estadual e a prefeitura na realização de obras de infraestrutura. Atuei muito para viabilizar o cronograma estabelecido”, afirma.
Além de Rio Verde, ajudou a levar a Perdigão para Mineiros (GO). Também atuou em Jataí (GO) e Nova Mutum (MT). “Foi um período de muito aprendizado, paciência, diálogo e equilíbrio. É importante respeitar cada cultura local. Conseguimos criar um programa de relacionamento da empresa com os produtores em Pernambuco e o modelo se expandiu para todo o Brasil (Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina)”, recorda.
A satisfação de ter contribuído como líder para o desenvolvimento de diversas regiões ainda move o executivo. “É gratificante, porque aplicamos o que aprendemos tentando transformar isso em realidade no dia a dia das pessoas. Onde há movimento econômico, surgem oportunidades para a população. Escolas e universidades se instalam. Empresas-âncora são fundamentais nesse processo, pois geralmente atraem toda uma cadeia produtiva”, destaca.
Saída da BRF e entrada na direção da Adial
Após a recusa de um trabalho na BRF em São Paulo, em 2011 surgiu a oportunidade de atuar na direção da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial). Na entidade, Tchequinho já representava a BRF, mas agora passaria a ocupar o cargo de diretor-executivo.
Em 2019, assumiu na Associação a função de presidente-executivo. O cargo foi unificado com a presidência do conselho e, em abril daquele ano, tomou posse como presidente único da Adial. A partir daí, entrou a experiência adquirida ao longo de 16 anos de BRF. “Antes, a entidade tratava muito fortemente apenas a questão dos incentivos fiscais. Eu abri o leque e, além desse ponto, passamos a focar em soluções de problemas como fornecimento de energia elétrica, questões de meio ambiente, estradas e regulação”, explica. Segundo Edwal, o objetivo é facilitar os investimentos e a operação industrial em Goiás. O resultado: crescimento no quadro de associados (são mais de 140 empresas).

Cerrado: motor da economia
O Cerrado ocupa 24% do território nacional, com 2700 quilômetros de comprimento, produzindo 53% da soja brasileira, 49% do milho e 85% do algodão. Ao todo, 30% da área é composta de pastagem e 52,2% de vegetação nativa. Por isso, o executivo entende haver a necessidade do avanço da agricultura na pastagem utilizada pela pecuária, transformando-a em intensiva (utiliza uma área menor) e a liberando para a produção de alimentos. “Isso elevaria o Cerrado a uma condição de grande produtor de alimentos sustentáveis para o mundo e com preços acessíveis devido a alta produção”, avalia.
Tchequinho entende que o bioma poderá não só alimentar, como diminuir o impacto das mudanças climáticas no mundo. Isso por meio da utilização dessas áreas para a produção de biocombustíveis que irão substituir os combustíveis fósseis. Além de produzir com sustentabilidade, irá gerar empregos através de agroindústrias instaladas. “O Cerrado poderá, assim, cumprir a base do ESG (sigla, em inglês, que corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança. O conceito tem o objetivo de construir um mundo que garanta qualidade de vida para todos)”, acredita.
A ideia é capturar recursos de instituições financeiras e outros países para que sejam investidos em transferência de tecnologia para pequenos e médios produtores do Cerrado. Uma das ações seria o reaproveitamento da água da chuva, que poderia ser armazenada para utilização na irrigação durante o período seco na região. “É uma equação perfeita para um mundo que tem fome, pobreza e mudanças climáticas como grandes problemas”, conclui.