Confira a baixo a resposta do colunista Marcelo José de Aquino para a coluna O Conselho.
Tem crescido o número de empresas que implementam canais de denúncias como um importante mecanismo de governança corporativa. Quando bem estruturado, utilizado de forma adequada e apoiado por um código de ética ou conduta robusto e genuíno, o canal pode ser um grande aliado na redução de riscos de atos ilegais e na identificação de desvios de conduta, preservando a reputação da empresa e reduzindo perdas financeiras.
Deve ser acessível a todos os stakeholders da empresa, oferecendo garantias de anonimato e proteção contra eventuais retaliações. Em casos de desvios, devem existir medidas disciplinares claras para lidar com as violações, independentemente do cargo ou posição de quem as cometeu.
Conforme pesquisa divulgada pela empresa Aliant em 2025, os principais tipos de denúncias em 2024 foram: assédio sexual (22,3%), discriminação (11,1%) e práticas abusivas (20,5%), como assédio moral e agressões verbais. Esses dados evidenciam a urgência de ambientes corporativos mais seguros, inclusivos e eticamente responsáveis.
Entretanto, um problema recorrente é quando o canal de denúncias se torna apenas uma peça de marketing — negligenciado pela alta administração, colaboradores e demais públicos, e distante de seu verdadeiro propósito: coibir condutas ilegais.
Antes de implantar um canal de denúncias, é imprescindível ter um código de conduta alinhado com a legislação vigente e com os valores dos controladores. Deve-se deixar claro quais exemplos e valores se deseja transmitir aos colaboradores, clientes, fornecedores e demais parceiros? O que não será tolerado em nossa empresa? É um exercício complexo e o exemplo deve partir da alta liderança.
Em tempos marcados por disputas ideológicas estúpidas, violência desenfreada, crime organizado infiltrado em instituições, intolerância religiosa, racial e gênero, polarização política e corrupção em diversas esferas, entre outros fatores, os valores éticos e morais dos controladores, o respeito aos direitos humanos e a observância das leis devem ser inegociáveis.
Aos colaboradores, espera-se que o canal seja utilizado como uma ferramenta legítima de proteção contra atos ilícitos, e não como instrumento de fofoca, promoção pessoal ou perseguição.
Se bem estruturado e genuinamente utilizado, o canal de denúncias vale o investimento: permite à alta administração acessar informações relevantes, reduz perdas judiciais, inibe comportamentos inadequados como assédios, fraudes, e fortalece o ambiente organizacional.
Pesquise, estude e avalie cuidadosamente a implementação desse importante aliado. Você poderá se surpreender com as denúncias recebidas — ou com a ausência delas, o que pode indicar um ambiente empresarial ético, coeso e alinhado com os princípios da legalidade e valores da empresa.
Pense bem sobre esse investimento para reforçar o ambiente de governança da sua empresa!

Marcelo José de Aquino
Sócio da Ganplo Treinamento e Governança, Membro de Conselho de Administração e Consultivo de empresas.