Quando um vendaval interrompeu a operação da Toyota em Porto Feliz (SP), com reflexos em outras unidades, vimos um lembrete contundente: a natureza não negocia prazos. Ela chega, testa a nossa preparação e expõe o que foi bem pensado e o que ficou para depois. Em gestão de riscos, a diferença entre “parada total” e “retomada rápida” costuma nascer muito antes da primeira nuvem carregada — nasce no desenho do projeto, nas rotinas operacionais e no arranjo correto dos seguros. É como planejar uma viagem de carro: você não espera furar o pneu para aprender onde está o estepe; você verifica tudo antes de pegar a estrada.
A prevenção começa no papel. Um projeto arquitetônico resiliente considera ventilação cruzada controlável, fechamentos estanques, barreiras de vento, dimensionamento de calhas e ralos para chuvas intensas, análise de ancoragem de telhas e painéis, zonas de refúgio e redundância de energia e dados. Materiais e fixações devem seguir normas técnicas e mapas de vento/precipitação da região, integrando estudos de microclima do sítio industrial. O que parece detalhe construtivo, na prática é a “primeira linha de defesa” contra a interrupção do negócio.
Na operação do dia a dia, o básico bem executado evita o efeito dominó. Treinamento de equipes com procedimentos claros — como fechamento rápido de portas e janelas, travamento de portões, isolamento de áreas abertas, proteção de equipamentos sensíveis e desligamentos planejados — reduz danos e acelera a retomada. É aquela lógica de casa: antes da tempestade, você recolhe o varal, fecha basculantes e tira eletrônicos da tomada. Na indústria, muda a escala, não o princípio. Planos de resposta com gatilhos objetivos (alertas meteorológicos, níveis de vento/chuva, alarmes locais) e simulados periódicos transformam diretrizes em reflexos condicionados.
Estamos às vésperas de períodos de chuva forte. Então, como se prevenir? Comece por um diagnóstico de riscos climáticos: identifique pontos críticos (telhados, sheds, fachadas, docas, subestações, servidores, estoques), avalie a capacidade hidráulica (calhas, bocas de lobo, bombas de recalque), revise checklists pré-temporal (limpeza de drenos, inspeção de fixadores, posicionamento de paletes), alinhe com fornecedores de utilidades um plano de contingência (SLA reforçado, redundâncias). Integre monitoramento meteorológico com alertas internos, ajuste inventários para reduzir exposição (altura de armazenagem, layout de fluxo), e garanta contratos de manutenção prontos para intervenções rápidas. Por fim, registre lições aprendidas a cada evento — melhoria contínua salva margens.
E os seguros? Seguro patrimonial (risco nomeado ou operacional), com coberturas para vendaval, granizo e impacto de chuva; lucros cessantes e despesas extraordinárias para proteger o fluxo de caixa durante a paralisação; quebra de máquinas para falhas subsequentes; transporte para cadeias impactadas; e responsabilidade civil para danos a terceiros. O segredo é o “desenho fino”: somar engenharia de riscos (prevenção) com estrutura securitária (transferência do risco residual). Sem projeto e processos, o seguro vira guarda-chuva furado; sem seguro adequado, a melhor gestão ainda fica exposta ao imprevisível.
No fim, gestão de riscos é como levar guarda-chuva, capa e checar a previsão: você pode até não usar todos, mas quando precisar, farão toda a diferença. O vendaval em Porto Feliz mostrou que eventos extremos testam não só telhados, mas modelos de gestão. A pergunta que fica para cada empresário é simples e poderosa: você tem cuidado da sua empresa antes da nuvem escurecer? Um bom desenho de gestão de riscos e um programa de seguros bem calibrado não são despesas — são garantias de continuidade, segurança das pessoas e sobrevivência do negócio quando o vento sopra mais forte.

Alessandro Máximo,
CEO da RMx3, Estrategista em Gestão de Riscos e Seguros.