Terroir do Cerrado: das garrafas ao turismo

Ana Helena Borges

Até o início dos anos 2000, a ideia de cultivar uvas próprias para a produção de vinhos, chamadas vitis vinifera, parecia impensável. O clima predominante quente e o regime de chuvas intensas por um período são contrários ao cenário considerado ideal para garantir a qualidade das uvas. No entanto, uma pesquisa realizada pelo agrônomo Murillo de Albuquerque Regina, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), permitiu uma mudança no cenário com a adoção da técnica de dupla poda, que consiste em induzir a floração no outono e realizar a colheita no inverno, invertendo a lógica do cultivo. A inovação permitiu a produção de uvas concentradas, sadias e adequadas para a produção de vinhos finos em Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, estados do Nordeste, e em Goiás.

Pouco mais de duas décadas após essa revolução, a produção goiana já aparece em destaque em premiações nacionais e internacionais, e busca se consolidar com o selo de “Vinhos do Cerrado”, a partir das características marcantes dos vinhos produzidos no Estado.

Municípios como Pirenópolis, Cocalzinho de Goiás, Rianápolis e Jaraguá despontam como referências na produção. Outros também aparecem na lista: Cristalina, Luziânia, Paraúna, Ipameri e Alexânia.

Com o consumo em alta em Goiás – dados da Wine Intelligence apontam 1,5 litro per capita- o surgimento dessa nova produção impulsiona outros tipos de negócio. Bares e restaurantes especializados, lojas conceitos, empresas de distribuição e representação, cursos de especialização e formação profissional, eventos e turismo.

Levantamento recente feito pelos próprios produtores, em parceria com o governo estadual, indica a existência de 60 vinícolas em atividade no Estado, com foco na produção de uvas do tipo vitis vinifera. A maioria ainda está em fase de consolidação, mas algumas iniciaram a abertura para o público, colocando Goiás na rota do enoturismo, como uma oportunidade de valorizar o terroir do Cerrado.

Goiás já conta com um produto turístico voltado para a experiência do enoturismo e gastronômico: a Rota dos Pirineus, que prevê a visitação em vinícolas e parreirais, colheita de uvas, apreciação de queijos, geleias, mel e pratos exclusivos, passando pelos municípios de Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás e Pirenópolis.

Mas outros municípios também começam a aparecer no mapa: Rianápolis, Águas Lindas, Paraúna e Itaberaí são alguns exemplos.

Ainda embrionário, projetos como o curso de formação profissional realizado pelo Senac Goiás em janeiro deste ano prometem impulsionar o mercado, do consumo ao enoturismo. A expectativa é que Goiás se consolide na fronteira da produção como um destino obrigatório para quem quer apreciar bons vinhos.

Vinícolas para colocar no roteiro:

Vinícola Assunção – Pirenópolis

Visitação: Aberta de terça a domingo, com visitas guiadas às 11h e às 15h.

Atividades: Visita informativa sobre a história da vinícola e processo de produção.

Contato, reservas e mais informações: https://www.instagram.com/vinicolaassuncao/

Vinhedo Girassol – Cocalzinho de Goiás

Visitação: Oferece o “Wine Tour”, mediante agendamento prévio.

Atividades: Passeios pelos vinhedos, degustação do vinho “Terroir Girassol” elaborado com uvas Syrah cultivadas no local.

Mais informações: instagram.com/vinhedo.girassol

Vinícola São Patrício – Rianápolis

Visitação: Aberta de quarta a sábado, mediante reserva prévia.

Atividades: Experiência “Cauré” com visita guiada e degustação de vinhos.