Especializada em Direito Médico, a advogada goiana Caroline Barbosa Arantes Bittar tem rodado o mundo. Nesta semana esteve na Ásia, no Japão e na Coreia do Sul. O seu foco é atuar na internacionalização da Medicina, buscando soluções, tecnologia para grandes grupos brasileiros. O objetivo desta missão atual foi ampliar a expansão global do Instituto KOS, uma instituição brasileira sediada em São Paulo dedicada a curso de especialização médica de excelência em procedimentos de blefaroplastia, e o foco foi a disseminação de novas técnicas asiáticas no Brasil.
Leitura Estratégica – Qual a sua visão sobre a Medicina brasileira e sua incursão na tecnologia?
Caroline Bittar – Minha visão sobre a Medicina brasileira e sua incursão na tecnologia é de um cenário de progresso inegável e com um potencial gigantesco, mas com desafios significativos que exigem uma abordagem estratégica e colaborativa. Vejo um cenário de imenso potencial para aprimoramento da saúde, mas também de desafios significativos que precisam ser abordados com rigor jurídico e ético. Apesar do otimismo, é fundamental abordar os desafios que surgem com essa incursão tecnológica, especialmente sob a ótica do Direito Médico.
LE – Diante desses desafios, como você acredita que o Direito Médico pode atuar de forma mais proativa para garantir que a inovação tecnológica na saúde seja sempre ética e segura para os pacientes?
CB – Acredito que o Direito Médico pode atuar de diversas maneiras para assegurar que a inovação tecnológica na saúde seja sempre ética e segura para os pacientes com a Antecipação e Regulamentação Flexível, em vez de esperar que os problemas surjam para então criar normas, precisamos de um Direito Médico capaz de antecipar os dilemas éticos e jurídicos que as novas tecnologias podem gerar. Isso significa: Monitoramento constante, fortalecimento da governança, educação e capacitação contínua, e colaboração multidisciplinar internacional. O Direito Médico não pode ser um mero observador da revolução tecnológica na saúde. Devemos ser um agente ativo, guiando o processo com prudência e visão para garantir que a inovação sirva sempre ao bem-estar e à segurança dos pacientes, consolidando uma Medicina verdadeiramente global e humana.
LE – Quais dos pontos levantados você considera mais desafiador de implementar no contexto atual?
CB – Com certeza, a antecipação e regulamentação flexível, visto que para antecipar e regulamentar é preciso um profundo entendimento técnico das novas tecnologias. Isso exige que legisladores, reguladores e juristas estejam constantemente atualizados e sejam capazes de compreender as nuances de inteligência artificial, edição genética, biotecnologia e outras áreas de ponta, algo que nem sempre é fácil de alcançar em larga escala.
LE – Em resumo, quais as complexidades as empresas brasileiras podem enfrentar ao entrar neste processo de internacionalização?
CB – As diferenças regulatórias e legais, visto que cada País possui seu próprio arcabouço legal e regulatório para saúde. Adequação cultural e ética, a ética médica e as expectativas dos pacientes podem variar significativamente entre culturas. O que é aceitável em um País pode não ser em outro, exigindo adaptação de produtos, serviços e abordagens de marketing para respeitar nuances culturais e éticas locais. A internacionalização exige um planejamento estratégico meticuloso, uma profunda pesquisa de mercado e uma capacidade de adaptação significativa para superar os desafios legais, regulatórios, culturais e operacionais.
LE – Quais as formas das empresas se inserirem? E é uma realidade distante?
CB – Certamente não é uma realidade distante. As empresas brasileiras, especialmente hospitais, cursos na área médica e odontológico, têm diversas portas de entrada para o processo de internacionalização. No entanto, é fundamental compreender que não se trata de uma realidade distante, mas sim de um caminho que exige planejamento estratégico e adaptação. Algumas das formas são de inserção são por joint ventures (parcerias estratégicas), por cooperação e programas de internacionalização, ou investimento direto estrangeiro.

LE – A internacionalização é uma realidade distante?
CB – Não, a internacionalização não é uma realidade distante para as empresas brasileiras de saúde e tecnologia; ao contrário, está se tornando uma necessidade e uma oportunidade real. Embora as complexidades mencionadas anteriormente sejam reais e desafiadoras, a globalização e o avanço tecnológico as tornam cada vez mais acessíveis. O Brasil tem um grande potencial, especialmente no setor de saúde, dada a expertise em áreas como telemedicina, saúde digital e, em alguns casos, biotecnologia e dispositivos médicos.
LE -Qual perfil de empresa deve estar atenta a este movimento?
CB – Destaco as seguintes características que tornam uma empresa apta e, por vezes, compelida a olhar para fora, empresas com soluções inovadoras e escaláveis, Tecnologia Disruptiva, modelo de negócio replicável, empresas com foco em nichos específicos e alta qualidade, cursos de especialização, empresas que operam com padrões de qualidade e conformidade e empresas que buscam crescimento e acesso a capital. O cenário global, especialmente aqui na Ásia, oferece oportunidades vastas para quem estiver preparado.
LE – Pesquisa e desenvolvimento (P&D) é uma vertente deste olhar para o exterior?
CB – Com toda certeza a pesquisa e desenvolvimento (P&D) é absolutamente uma vertente crucial desse olhar para o exterior, e talvez uma das mais estratégicas no contexto da internacionalização da medicina e tecnologia. Ao colaborar com instituições de pesquisa, universidades e empresas estrangeiras, sua empresa ganha acesso a novos conhecimentos, tecnologias e metodologias que talvez não estejam disponíveis ou sejam menos desenvolvidas no Brasil. Isso pode acelerar significativamente o ciclo de inovação.