Nas empresas, a proatividade costuma ser tratada como um diferencial competitivo. Em processos seletivos, líderes e recrutadores frequentemente afirmam buscar pessoas com “atitude”, que “tomem iniciativa” e que “façam acontecer”. No entanto, há um equívoco silencioso e custoso: acreditar que agir rápido e muito é sinônimo de gerar valor. A verdade é que, sem direção, conhecimento e alinhamento estratégico, a ação pode se transformar em um risco operacional disfarçado de virtude.
O chamado “burro proativo” é a face mais perigosa dessa distorção. Ele age antes de entender, muda processos sem compreender as razões que os sustentam, toma decisões sem embasamento e, pior, faz isso com absoluta confiança. No curto prazo, pode até transmitir a impressão de engajamento, mas, no médio e longo prazo, gera retrabalho, desgasta equipes e compromete resultados. No mundo dos negócios, isso significa perda de produtividade, desperdício de recursos e danos à reputação — interna e externa.
A confusão entre atitude e competência nasce de um problema cultural: a crença de que agir é sempre melhor do que esperar. Em mercados acelerados, o senso de urgência se tornou quase uma religião corporativa. Mas, em gestão, velocidade sem direção não conduz a resultados; conduz a desvios. O profissional verdadeiramente valioso é aquele que alia iniciativa à capacidade analítica, que entende o “porquê” antes do “como” e que considera os impactos antes de executar mudanças.
Para líderes, a lição é clara: não basta incentivar a ação, é preciso orientar, treinar e criar um ambiente em que a proatividade seja sustentada por conhecimento e estratégia. A liberdade de agir deve vir acompanhada da responsabilidade de compreender o negócio, suas prioridades e consequências. Isso exige comunicação clara, alinhamento constante de objetivos e uma cultura voltada à tomada de decisão consciente.
O problema, porém, não se limita ao nível executivo. Muitas vezes, encontramos essa postura até mesmo entre os sócios da empresa, gerando desorientação e um ambiente de incerteza sobre qual direção seguir: a estratégia aprovada ou o impulso do momento. É claro que ajustes e mudanças podem ser necessários, mas alterações constantes, motivadas por impulsos, tendem a criar insegurança e confusão na equipe, minando a execução consistente do plano de negócios.
Em negócios, iniciativa é um ativo — mas apenas quando guiada por inteligência e propósito. Proatividade sem competência não é diferencial; é desordem. E, como todo gestor experiente sabe, consertar o caos custa muito mais do que preveni-lo.

André Ladeira,
empresário e sócio da AM Investimentos, que administra um pool de empresas no Brasil e nos Estados Unidos