Por Rafael Vaz
Por muito tempo, o câncer foi considerado uma doença de pessoas mais velhas, mas dados recentes mostram um fenômeno preocupante: adultos jovens estão sendo diagnosticados cada vez mais cedo. Tumores de mama, próstata, intestino e outros tipos têm aparecido em idades em que a doença era, até pouco tempo, rara, e com características muitas vezes mais agressivas.
O oncologista clínico Diego Machado Mendanha explica que a situação é global. “Diversos estudos vêm apontando uma elevação significativa na incidência de câncer em adultos com menos de 50 anos. Tumores de mama, intestino, próstata, entre outros, estão surgindo precocemente, e isso acende um alerta em nossa prática médica”, explica. No Brasil, a situação também preocupa: no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), a proporção de mulheres com menos de 40 anos diagnosticadas com câncer de mama passou de 8% em 2009 para 22% em 2020.
Segundo Mendanha, a explicação é multifatorial. “Diversos fatores comportamentais e ambientais estão em jogo: dietas ricas em carnes processadas e sódio, baixo consumo de frutas e leite, álcool, tabagismo e obesidade. A obesidade, por exemplo, provoca inflamação crônica e desregulação hormonal, fatores que favorecem o desenvolvimento de tumores”, afirma.
Ele ainda acrescenta que outros elementos, como alterações no microbioma intestinal e o aumento do consumo de ultraprocessados, estão sendo estudados. “No fim das contas, o aumento da incidência é resultado da soma de múltiplos fatores”, declara.
O oncologista também destaca que, em jovens, o câncer tende a ser mais agressivo: “Os tumores frequentemente se apresentam em estágios mais avançados, exigindo tratamentos mais intensivos e impactando diretamente a qualidade de vida”, ressalta.
Câncer de mama em faixas etárias menores
O mastologista Ruffo de Freitas Júnior chama atenção para os números. “A expectativa para 2025 é que mais de 75 mil mulheres desenvolvam câncer de mama no Brasil. Todas as faixas etárias estão aumentando, mas mulheres abaixo de 40 anos têm uma média de crescimento anual de 10% – duas vezes mais do que as faixas mais velhas”, avalia.

Entre os fatores de risco mais importantes, ele cita o histórico reprodutivo e mudanças no estilo de vida. “Ter filhos mais tarde ou não ter filhos, aumento do consumo de bebidas alcoólicas e terapias hormonais, como reposição hormonal, elevam o risco de câncer de mama. Além disso, fatores ainda em investigação, como estresse e distúrbios do sono, podem influenciar.”
Ruffo explica que o câncer de mama em jovens tem características diferentes: “Essas mulheres tendem a apresentar tumores hereditários, ligados a mutações genéticas, principalmente nos genes BRCA1 e BRCA2. Além disso, os tumores costumam ser mais agressivos e menos responsivos a hormônios, o chamado triplo-negativo, exigindo tratamentos mais eficazes e intensivos”.
A história familiar continua sendo determinante. “É fundamental que mulheres jovens diagnosticadas façam o sequenciamento genético para identificar mutações herdadas. Mas hábitos de vida também influenciam: falta de exercícios, consumo excessivo de álcool e uso inadequado de hormônios aumentam o risco”, diz.
Para prevenção, Ruffo recomenda alimentação saudável, atividades físicas, controle de peso e consumo moderado de álcool. “O autoexame é essencial. Qualquer alteração detectada deve ser investigada por um mastologista. Para mulheres com histórico familiar, exames como ultrassom, ressonância e mamografia a partir dos 35 anos são indicados”, alerta.
Câncer de próstata: alerta para homens abaixo de 50 anos
O urologista Rodrigo Trivilato observa que o câncer de próstata, tradicionalmente associado a homens acima de 50 anos, também tem aparecido em idades mais jovens. “Estamos identificando pacientes abaixo de 50 anos. Fatores genéticos, obesidade e sedentarismo contribuem para o aumento do risco, e a conscientização é essencial para diagnóstico precoce”, explica.

Trivilato também alerta que o tumor de próstata não apresenta sintomas na fase inicial. Quando surgem sinais como sangue na urina ou no sêmen, a doença muitas vezes já está avançada. Por isso, o rastreamento deve ser feito antes que os sintomas apareçam.
O médico reforça, ainda, a importância da genética. “Homens com pai ou irmão diagnosticado têm risco duas a três vezes maior. Mutação hereditária, tabagismo, sedentarismo e dieta inadequada aumentam a probabilidade. Já hábitos saudáveis, como dieta rica em fibras e atividade física regular, ajudam na prevenção”, afirma.
A triagem, segundo o especialista, deve seguir o histórico de risco. “A população geral deve iniciar o rastreamento aos 50 anos, mas homens com fatores de risco ou histórico familiar devem começar aos 45 anos”, conclui.
A importância da detecção precoce
Para Diego Mendanha, a detecção precoce é crucial. “Diagnósticos em estágios iniciais aumentam a chance de cura, permitem tratamentos menos agressivos e preservam a qualidade de vida, além de reduzirem os custos para o sistema de saúde. No entanto, o rastreamento universal em jovens ainda não é recomendado, devido ao baixo risco absoluto. O ideal é a vigilância individual, atenção a sintomas e acesso facilitado a serviços de saúde”, destaca o oncologista.
O oncologista destaca que mudanças no estilo de vida e políticas públicas são fundamentais. “Alimentação balanceada, atividade física regular, controle do peso, redução de álcool e eliminação do tabagismo continuam sendo medidas fundamentais. Além disso, campanhas de prevenção, vacinação, incentivo ao diagnóstico precoce e investimento em pesquisa são essenciais”, diz.
Segundo ele, o combate ao câncer em jovens depende de uma estratégia combinada: conscientização individual, hábitos saudáveis, políticas públicas eficazes e avanços científicos.
Dicas de prevenção ao câncer
Alimentação saudável: priorizar frutas, vegetais e fibras; reduzir ultraprocessados e carnes vermelhas.
Atividade física: exercícios regulares ajudam a reduzir risco de vários tipos de câncer.
Controle de peso: obesidade e sobrepeso aumentam o risco de tumores.
Evitar tabaco e álcool: substâncias associadas a maior incidência de câncer.
Autoexame e acompanhamento médico: mulheres devem se palpar regularmente; homens devem seguir rastreamento conforme histórico familiar.
Vacinação: HPV e outras vacinas podem prevenir tipos específicos de câncer.
Atenção aos sinais do corpo: sangramentos, nódulos, alterações de pele ou dor persistente exigem investigação rápida.