Por Rafael Mesquita
“Sozinho, a fragilidade é grande; compartilhando desafios, o caminho para soluções fica mais curto”
Saúde, trabalho e espiritualidade são os três pilares que guiam a vida desse paulista de nascimento e goiano de coração. Para ele, são fatores essenciais para manter o equilíbrio pessoal e profissional. “Se pelo menos um deles se arranhar ou trincar, haverá problemas sérios em algum momento”, acredita Rubens José Fileti, 49 anos.
Essa filosofia de vida, no entanto, ainda não existia em 1997, quando Fileti foi vítima de um grave acidente na Avenida 85, em Goiânia. Universitário, com apenas 22 anos, ele foi atropelado por um veículo que trafegava na contramão. O resultado: 135 dias engessado, 35 dias sem sair da cama, duas tromboses na perna (a última em 2019), uso contínuo de medicamentos e acompanhamento médico pelo resto da vida. “Na época, entendi que seria preciso diminuir o ritmo por causa da saúde, para depois acelerar novamente”, afirma.
E acelerou. Ainda na faculdade, começou a trabalhar na Ambev, concluiu duas graduações, uma em Ciências Contábeis e outra em Gestão Executiva de Negócios e, mais tarde, cursou três MBAs em Barcelona (Espanha), que culminaram em uma tese de mestrado. “O conhecimento que conquistei nesses cursos me fascina mais do que os diplomas que adquiri”, afirma.
A acomodação nunca fez parte dos planos. Em 2003, deixou a Ambev para trabalhar na empresa de tecnologia Microsiga (hoje TOTVS). Mas a grande virada veio em 2006, com a fundação de sua própria empresa de software.
Gigante goiana
A Dtec nasceu em 2006, inicialmente como Advanced Solution. A proposta era desenvolver software voltados à gestão de pessoas, empresarial, de acesso e de segurança. Em 2010, veio o convite para se tornar distribuidora da Sênior Sistemas, uma das maiores desenvolvedoras de software do Brasil.
O crescimento foi exponencial. Atualmente, além de representar a Sênior e desenvolver seus próprios produtos, como o MAXXSOFT, voltado para o agronegócio, e um software para planejamento estratégico, o Grupo Dtec atua em áreas como marketing, restaurante, infraestrutura e terceirização de mão de obra.
“Trata-se de um grupo goiano com nove empresas, presente em 23 Estados brasileiros e em 15 países, entre eles Argentina, Uruguai, Portugal e Estados Unidos”, orgulha-se o empresário.
Associativismo para superar desafios
Ainda em 2006, no primeiro ano da Dtec, Fileti recebeu um convite do então presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg), Pedro Bittar, para integrar a diretoria da entidade. “Nesse momento, me apaixonei pelo associativismo e nunca mais saí”, lembra.
Em 2017, tornou-se vice-presidente na gestão de Euclides Barbo Siqueira, assumindo interinamente a presidência em 2019. No ano seguinte, veio um dos maiores desafios de sua vida: foi eleito presidente da Acieg.
Mas o destino impôs um teste logo no início. No dia da posse, Fileti recebeu uma ligação do governador Ronaldo Caiado informando que, devido à pandemia de Covid-19, os estabelecimentos comerciais de Goiás teriam de fechar as portas. “A parte política falou muito alto nesse momento. Tomamos protagonismo para editar o ritmo junto com o governo estadual e definir o que poderia abrir ou não”, explica.
Segundo ele, houve um momento em que as discussões saíram da esfera empresarial e passaram para a da saúde mental. No último decreto estadual durante a pandemia, a Acieg teve papel fundamental para evitar o fechamento de empresas. “Saímos da pandemia com muitas cicatrizes, mas conseguimos curá-las com o apoio dos associados, do governo e da sociedade”, avalia.
Ao longo de dois mandatos à frente da Acieg – o atual termina em 2027 -, Fileti aprendeu que estar junto a outras pessoas é o caminho para se tornar mais forte. “Alguns se equivocam achando que estar lá é só para fazer negócio ou networking. Mas é preciso entender que, sozinho, você tem uma fragilidade muito grande. Quando começa a compartilhar as dificuldades do seu segmento, o caminho para a solução dos problemas se torna mais curto”, afirma.
Essa experiência também inspirou a criação da Federação das Associações Empreendedoras, Comerciais, Industriais, de Serviços, de Tecnologia, de Turismo e do Terceiro Setor de Goiás (Faciest-GO), da qual ele é presidente. “Durante a pandemia, muitas entidades de classe não tinham voz. Então veio a reflexão: por que não criar uma federação para apoiá-las?”, conta. Fundada em 2021, a Faciest já reúne mais de 30 instituições associadas.
Família e vida fora do trabalho
Natural de Bauru (SP), Rubens Fileti chegou a Goiânia com a família aos cinco anos de idade. A mãe sonhava que ele fosse médico.
Casado há 26 anos com Suzana Fontes Borges Fileti, o casal tem dois filhos e uma trajetória de companheirismo. “Ela me apoia muito e aceita meus desafios. Muitas vezes tenho que abrir mão dos momentos com a minha família pelo trabalho e pela causa que defendo”, reconhece.
Mas, nos fins de semana, a agenda muda de rumo. “Eu travo minha agenda e fico sábado e domingo com eles, em casa, em restaurantes, curtindo experiências gastronômicas”, conta. A família também adora viajar. Itália, França, China, Portugal e Estados Unidos estão entre os destinos já visitados.
Outra tradição é a ida à feira, todo sábado às 7h da manhã. Ele pesquisa preços, compra frutas e verduras e, claro, não abre mão de comer um pastel.
Apaixonado por tecnologia, é também um aficionado por videogames. Fifa 25 é tradição em casa, e ele tem uma coleção que vai do Atari ao PlayStation 5. “Tenho uma coleção enorme de videogames, de todas as épocas”, diz, com orgulho.
O futebol também é parte importante da sua vida. Palmeirense fanático, celebra os bons resultados do time paulista nos últimos anos. Mas mantém uma ligação especial com um clube goiano. “O amor pelo Atlético Goianiense dura por causa do meu pai. Era o time do coração dele”, relembra.
