Por Rafael Mesquita
A data em que nasceu, ele prefere manter em segredo, mas o dia, mês e ano em que estreou o programa que se tornou um marco da televisão goiana, José Guilherme Schwam fala com orgulho. “Foi em um sábado, ao meio-dia, de 7 de agosto de 1993 que iniciamos o Pelos Bares da Vida, na TV Brasil Central”, lembra. Os primeiros convidados eram Erivan Bueno, ex-presidente da Associação Comercial e Industrial de Goiás (Acieg), João de Paiva Ribeiro, ex-presidente do Consórcio de Empresas de Radiodifusão e Notícias do Estado (Cerne), Benjamin Beze Júnior, ex-secretário de Indústria e Comércio do Estado, e a dupla musical-humorística Vira e Mexe, sucesso na época.
A ideia inicial era mostrar a gastronomia, os bares e restaurantes de Goiânia. Depois, a atração, considerada pioneira na TV do Estado, também passou a realizar uma ampla cobertura da sociedade, cultura e eventos em Goiás. A ideia deu certo e, em 32 anos, já são mais de 1.600 edições. “E nunca repeti um programa. Sem férias, sem melhores momentos. Até quando tive que me ausentar, anos atrás, por problemas de saúde, meus sócios me substituíram”, orgulha-se.
Tamanha longevidade tem explicação para Schwam. “Tivemos grandes programas na televisão goiana que não sobreviveram com o passar dos anos. A persistência é o segredo. É preciso acreditar”, afirma. Ter prazer no que se faz também é fundamental. “Acho que o segredo é fazer o que se gosta, para quem se gosta. A vida segue, e a minha sempre esteve concentrada nisso”, destaca.
Mas a conexão de José Guilherme com o público começou bem antes. O paulistano havia se mudado para Belo Horizonte em 1969 para trabalhar como representante comercial. Nessa época, surgiu o convite para a realização de um sonho: apresentar um quadro sobre os destaques da gastronomia local dentro de um programa conhecido da TV Belo Horizonte. O nome escolhido para a atração apresentada por José Guilherme é o mesmo que viria a se consagrar na televisão goiana anos depois: Pelos Bares da Vida. O sucesso foi tanto que, logo em seguida, ele recebeu a proposta de transformar o quadro em um programa na TV Alterosa. “BH era conhecida como a capital dos bares no Brasil naquela época”, recorda.
Na capital mineira, Schwam ainda tinha um jornal impresso: o semanal Mini Destaque. A publicação de 15 mil exemplares fazia a cobertura das áreas de gastronomia e turismo. “Éramos patrocinados pela Rede Globo de Televisão. O tabloide era distribuído envelopado com a figura do Topo Gigio (famoso personagem italiano de um ratinho que ganhou popularidade mundial, inclusive no Brasil)”, lembra.
Em 1975, uma pausa no trabalho televisivo. Um convite do então governador do Ceará, César Cals, o levou a fazer palestras para jovens no estado nordestino. José Guilherme era um dos fundadores do Clube de Castores, entidade filiada à organização global de voluntariado Lions Clube. A ideia era divulgar o trabalho realizado, incentivando campanhas para ajudar a coletividade. Foi em uma dessas viagens de mais de quatro mil quilômetros de carro entre Belo Horizonte e Fortaleza que o veículo de Schwam colidiu com outro carro. Foram oito meses de internações e cirurgias, mas, incrivelmente, tudo terminou bem. “Foi um acidente muito grave, quase perdi a vida, mas graças a Deus não tive sequelas no corpo”, explica.
A mudança em definitivo para Goiânia seria questão de tempo – e aconteceu em 1977. José Guilherme já vinha muito à cidade para fechar negócios pela própria empresa de representação comercial, Jó Representações, quando decidiu ficar de vez. Nos primeiros anos, fundou a Associação dos Vendedores e Representantes do Estado de Goiás. Em 1982, foi convidado a ser o mestre de cerimônias da Associação Goiana dos Supermercados (Agos) e logo se tornou conselheiro da entidade.
A boa relação com a sociedade goianiense na época o levou a ocupar um cargo inusitado. Era 1989 quando recebeu o convite do prefeito Nion Albernaz e se tornou o primeiro secretário de Turismo de Goiânia. A atuação agradou tanto que voltou a ocupar a mesma função em outro mandato de Nion na prefeitura, entre 1997 e 2001. “Para mim, foi o maior administrador que a capital já teve. Ficou conhecido como o prefeito das florzinhas que embelezavam a cidade. Também deu o start para tornar Goiânia conhecida em todo o Brasil com vários programas sociais desenvolvidos”, afirma.


Mais do que apresentador, Schwam se tornou uma figura central no turismo e no setor de eventos em Goiás. Em 1999, fundou o Skal Goiás, associação global que une profissionais da indústria do turismo. Na seccional da entidade no Estado, foi presidente por 12 anos. Também se tornou presidente de honra do Goiânia Convention Bureau (entidade de apoio ao turismo e eventos em Goiânia), padrinho do Sindicato dos Bares e Restaurantes (Sindibares-GO), da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel-GO), além de sócio benemérito da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih-GO) e um dos diretores, desde os anos 1980, da Acieg.
Um dos momentos mais marcantes na vida do comunicador aconteceu em 2001, quando venceu, na Alemanha, o Oscar do Turismo: International Award of Tourism. Uma comissão julgadora avaliou o trabalho realizado por jornalistas da área de turismo do mundo inteiro. “É um prêmio muito falado e nós ganhamos. Foi uma emoção muito grande”, lembra.
Pelas Parcerias da Vida
Artistas e celebridades sempre foram ingredientes importantes do extenso cardápio de convidados do programa Pelos Bares da Vida. Alguns deles já falecidos, como João Paulo (da dupla com Daniel), Inezita Barroso, Elke Maravilha e o comandante Rolim Amaro (fundador da TAM Linhas Aéreas).
Mas são os empresários que acreditaram no projeto que se tornaram os grandes parceiros e amigos para a vida de José Guilherme Schwam. “São criaturas maravilhosas como Walterdan Fernandes Madalena (Cristal Alimentos), José Alves Filho (Grupo José Alves), Marcelo Baiocchi (Fecomércio) e Leopoldo Veiga Jardim (Sesc Senac) que passamos a ter uma relação de família”, emociona-se.
O comunicador ainda cita o Restaurante Árabe, que está anunciando desde o primeiro programa, e outras empresas que acreditam há muitos anos no projeto, como o Grego Restaurante, Celsin Bar e Restaurante e Bomlixo. “Devo tudo a eles. Faço muita coisa de graça e nunca pedi reajuste para patrocinadores”, afirma.
Schwam destaca que não aceita qualquer tipo de patrocínio — uma filosofia de trabalho que se baseia na ideia de que, caso não goste de determinado produto ou serviço, não faz publicidade dele. “Só anuncio o que acho válido e posso indicar para quem quer que seja. Só faço reportagem dos lugares que vou e gosto”, explica.
Com tantos anos de convivência com empresários da atual geração e do passado, José Guilherme vê uma evolução no comportamento dos homens e mulheres de negócios em Goiás. “Eles estão muito mais preparados tecnicamente falando do que antigamente, mais antenados com as coisas que acontecem no mundo. Por isso, os admiro”, avalia.
Outros Programas
Além do consagrado Pelos Bares da Vida, Schwam tinha outro sonho na televisão goiana: fazer algo similar ao famoso programa Almoço com as Estrelas (exibido entre 1956 e 1980 na extinta TV Tupi). Em 2007, foi ao ar o primeiro Almoçando com os Amigos, na Fonte TV. O programa durou 13 anos, sempre aos domingos, ao vivo, a partir do meio-dia. Participaram convidados das áreas gastronômica, turística e artística do Estado.

Na mesma época, fez o programa Turismo Goiás, na PUC TV. Nessa fase, Schwam viajava pelo Estado, onde mostrava a gastronomia e o turismo goiano. A atração durou 12 anos. “Nessa época, eu fazia três programas de TV. Era trabalhoso, mas também uma satisfação muito grande”, explica. A partir da pandemia, o apresentador optou por manter apenas o tradicional Pelos Bares da Vida, que atualmente vai ao ar pela PUC TV, aos domingos, a partir das 19h30, e no canal do programa pelo YouTube.



Família
Nascido em São Paulo, no bairro da Barra Funda, José Guilherme foi criado pelos avós maternos Fanny Hussid e Angelo Hussid, devido à separação dos pais. “Meus avós foram a minha base de vida”, emociona-se.
Na capital paulista, foi engraxate, vendedor de bolo, de livros e de discos. Formou-se em Jornalismo, em 1953, pela Faculdade Cásper Líbero. “Desde o primário, eu era o orador da turma. Sempre queria apresentar alguma coisa”, recorda.
A vida paulistana ficou no passado e deu lugar ao marido, pai e avô de coração goiano. José Guilherme é casado há 41 anos com Luzeni Aparecida da Costa. Ele tem sete filhos e três netos. Se antes apresentava três programas de televisão e estava até aos domingos na telinha, chegou a hora de mudar as prioridades. “Hoje, para mim, sábado e domingo são dias de família. Não saio de casa nem para ganhar dinheiro”, brinca.