Nesta semana, uma tempestade de notícias sobre Goiânia invadiu as redes sociais e sites, inclusive na franquia da londrina BBC News no Brasil – o que ajudou aos replicadores de notícias a explodirem o assunto. Essa matéria requentada (de capital do luxo) é como a chuva: vai e volta durante o ano, já há alguns anos. Para não parecer a notícia fria que é, traz sempre um neologismo pobre ou citação de uma personalidade ou uma trend de matéria em um veículo de grande repercussão.
“Capital do agroluxo do Brasil’’ e “cidade dos milionários’’ são batismos que pegam, colam, repostam e dão curtidas. Jatinhos, grandes marcas internacionais de luxo, venda recorde de carro premium, condomínios de casas faraônicas e, agora, um reality show ostentação com diferentes mulheres locais, com distribuição via Globoplay e GNT, que, querendo ou não, cria (ou recria) uma imagem nacional sobre a capital e a personalidade dos goianos.
Vou me eximir de comentá-lo (o reality) para não contaminar as reflexões e virar briga de mesa de bar. Também não farei juízo de valor para não ser injusto, pois não acompanho o projeto.
Prefiro navegar nas paralelas. Qual nossa imagem fora do Estado? Como somos vistos por outros povos? A reputação é falsa ou verdadeira? Esse programa de TV e vários outros que foram gravados nos últimos anos aqui deixam uma questão: no que contribuem para acentuar ou afastar a imagem ou preconceitos sobre nossa cultura e goianidade?
Com frequência, não posso dizer especificamente dessas Poderosas, nos colocam como um ser cordial, amigável, apegado as questões rurais (meio que o roceiro das tramas, meio bobo) e de uma cultura (nos dois sentidos) limitada ao mundo sertanejo. Quem nunca ouviu dizer de um mal-informado forasteiro ter perguntado a um goianiense se tem índio nas ruas e se andamos de cavalo? Pode parecer estranho, mas, há poucas décadas,, era comum ouvir isso. Hoje, talvez mudem os ícones, mas a forma jocosa a se referir a Goiás se mantém. Pagamos o preço de sermos pacíficos, lerdos ou incompetentes na formação da nossa imagem.
A imagem prevalecente do Estado é uma narrativa construída de fora para dentro. De São Paulo para Goiás. Os paulistas são donos da nossa imagem. E mesmo os nossos ‘personagens’ (cantores, influenciadores, políticos e outros que têm uma janela fora daqui) fortalecem esse perfil barnabé engraçado e cativante (o “caipira bãozinho”).
É fato que é um certo estrago ou mão de tinta forte que esse estilo sertanejo (antes era o roceiro) pendurou na imagem dos goianos – bem ou mal. Vamos demorar décadas ou séculos para acrescentar novas hashtags ‘poderosas’ à nossa imagem. Hoje, prevalecem: #sertanejo #agro #luxo #arrozcompequi #roça #fazenda e outras parecidas.
Mas eu vou puxar aqui o outro lado do disco. Não identifico qualquer esforço, privado ou público, para dar uma ampliada ou lustrada na imagem dos goianos. Mesmo os agentes políticos e empresariais, em suas mídias e interações com o povo de outros territórios, não agregam ou preocupam em mostrar um Goiás de cor diferente. Aquele real, da rua, do nosso cotidiano. Os ícones de Goiás não são pobres, são mal explorados. Se não são suficientes para ganhar impulso, não tem proposta para apostar em outros temas. O goiano mal conhece sua história para mudá-la. Para mim, tudo começa aí: bairrismo, coragem e educação.
Como diz o ignorado hino do Estado de Goiás, escrito por José Mendonça Teles, com música de Joaquim Jayme: “O cerrado, os campos e as matas. A indústria, gado, cereais. Nossos jovens tecendo o futuro. Poesia maior de Goiás!”. Tem algo mais em Goiás, só que nós mesmos não sabemos o que temos. Somos reféns da imagem que criaram de nós. É triste ver o Estado sucumbindo e sem personalidade.
Leandro Resende,
editor-chefe
Linkedin: leresende













