Calma, não estou me referindo de prisão ou busca e apreensão. Muito menos sobre a Polícia Federal (PF) – o tema hoje é economia. Uma das joias da coroa da economia brasileira é, indiscutivelmente, o agronegócio. E o PF do título, claro, é ‘apelido carinhoso’ do nosso saboroso prato feito (PF) do restaurante, que tem uma forte adesão dos trabalhadores. Com pressa para comer no intervalo do almoço, pulam as opções os pratos do cardápio e já pegam direto o prato pronto no balcão.
Mas o assunto também não é o agro – nosso ativo maior da comoditizada pauta exportadora verde e amarela. Hoje, vamos voar em outros ares. Sabe aquela campanha “O Brasil que eu quero”, que a TV Globo lançou em 2018 nas vésperas da eleição presidencial? Se me aparecem na rua para perguntar, a minha resposta seria, na bucha, “por um Brasil com mais Embraers e menos Avestruzes Master”.
Brotou no meio das plantações de soja, bananais e laranjais, uma anomalia benigna, um monstro da economia mundial da aviação, a Embraer. Na verdade, não brotou. Foi fruto de um acerto incomum, de muito planejamento, estratégia e inovação, tão poderoso como a Embrapa, a gloria da ciência agropecuária e que há 50 anos distribui milhares (isso mesmo, milhares) de cientistas País afora para estudar, testar e transformar o campo e o Brasil.
Embrapa e Embraer é uma dupla do tipo Romário e Bebeto – passa a bola do meio pra frente que eles garantem. Só que a Embraer é mais emblemática. É avião. Não é milho ou mandioca. Não tem como plantar um avião. É um Brasil da alta tecnologia que poderia ser espelho de mais setores que pouco acreditam em inovação – gostam de modinha de IA e coisas que aparecem a cada seis meses. Se falar que metaverso vende, implantam metaverso, entram para vender.
O espírito da inovação é outro = propósito. Mas a Embraer é um case tão sofisticado e especializado, que passa despercebido em uma economia primária (que é uma baita ativo), mas que não olha com valor para a industrialização.
No passado, falavam: “Vamos industrializar.”
Depois: “Brasil desindustrializou.”
Mais recente: “Vamos reindustrializar.”
Em breve: “Desindustrializou de novo.”
Parece um puxador de quadrilha gritando. “Olha a onça”. “Foi embora”. “Voltou”. “Olha o pai da noiva” (…) Esse vai e vem, essa falta de convicção e compreensão do movimento da economia mundial, mesmo tendo algumas vantagens competitivas, nos coloca (ad aeternum) em uma série B da economia mundial. Nos falta mentalidade vencedora e menos protagonistas – onde a política exige o protagonismo, as outras áreas tendem a ficar do tamanho do cérebro do político – se ele tem cérebro pequeno (e nas últimas década, tivemos de sobra), as áreas estratégicas se apequenam.
Felizmente, um naco pequeno da indústria de altíssima precisão sobreviveu ao caos de ser industrial-inovador no País, com exportações relevantes em aeronáutica, espacial e médica. A Embraer tem clientes em 60 países. Na área espacial, o Brasil fabrica componentes de satélites avançados, colaborando em missões internacionais que monitoram desde mudanças climáticas até a agricultura global.
Na medicina, a indústria brasileira vai além dos medicamentos e vacinas: produz equipamentos sofisticados de diagnóstico por imagem, próteses altamente especializadas e até mesmo instrumentos cirúrgicos utilizados em procedimentos complexos, tanto aqui quanto no exterior.Esse é um Brasil que está meio escondido e precisa ser melhor estudado – não pela Nasa, melhor pelo ITA.
Leandro Resende – editor-chefe da Revista Leitura Estratégica
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