O ambiente corporativo brasileiro está diante de uma mudança silenciosa, porém decisiva: a atualização da NR-01, norma que exige das empresas o reconhecimento, avaliação e prevenção dos chamados riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Esses riscos envolvem situações como assédio moral, metas abusivas, sobrecarga emocional, jornadas exaustivas e outros fatores que impactam diretamente a saúde mental dos trabalhadores.
Prevista inicialmente para maio de 2025, a obrigatoriedade foi prorrogada para 26 de maio de 2026, conforme a Portaria MTE nº 765/2025. Até lá, as ações de fiscalização serão educativas, mas a fase de transição não deve ser confundida com permissão para inércia. A preparação técnica e estratégica precisa começar agora.
A nova redação da NR-01 exige que as empresas:
- Incorporem os riscos psicossociais no Inventário de Riscos do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR);
- Realizem escuta participativa com trabalhadores, CIPA e setores internos;
- Utilizem ferramentas e metodologias validadas, integradas à NR-17 (ergonomia);
- Documentem os indicadores, medidas e estratégias adotadas;
- Estendam a proteção a trabalhadores terceirizados e autônomos.
Em apoio à implementação, o Ministério do Trabalho já publicou o Guia Oficial dos Fatores Psicossociais, disponível em seu site, e criou uma Comissão Tripartite Temática Nacional, reunindo representantes do Governo, empregadores e trabalhadores. Um manual técnico complementar está em fase de finalização.
Entretanto, não é suficiente delegar essa responsabilidade exclusivamente aos setores de Recursos Humanos, Jurídico ou Segurança do Trabalho. O conteúdo e as exigências do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) requerem interpretação técnica especializada, imparcialidade e foco prático. Nesse contexto, a presença de uma consultoria independente e multidisciplinar faz toda a diferença.
Uma estrutura técnica externa pode:
- Diagnosticar o clima organizacional de forma neutra e fundamentada;
- Realizar escuta qualificada com uso de instrumentos científicos;
- Conduzir ações educativas e campanhas permanentes;
- Acompanhar indicadores de bem-estar, engajamento e produtividade;
- Traduzir os riscos mapeados em ações concretas e mensuráveis.
O objetivo não é substituir áreas internas, mas atuar em sinergia, garantindo que as medidas previstas sejam aplicadas de forma eficaz e documentada, fortalecendo a governança organizacional e evitando passivos legais futuros.
Negligenciar os riscos psicossociais pode gerar danos à reputação, aumento de afastamentos, queda de produtividade e, sobretudo, responsabilizações trabalhistas e administrativas. O Ministério do Trabalho e Emprego, com o tempo, não ignorará omissões.
Cuidar da saúde mental dos trabalhadores deixou de ser um diferencial: é exigência legal, estratégia de negócios e medida de sustentabilidade corporativa. Empresas que se antecipam nesse processo ganham vantagem competitiva, retêm talentos e constroem ambientes de trabalho mais humanos, seguros e produtivos.
Não se trata apenas de cumprir uma norma. Trata-se de assegurar a longevidade dos negócios por meio da valorização do capital humano. O momento exige ação consciente, planejamento técnico e compromisso real com o futuro das relações de trabalho.”

Leo Moreira,
Diretor da Acieg e mestre em Administração de Empresas pela MUST University (EUA).