Por Rafael Vaz
O cenário financeiro dos consumidores goianos acende um alerta. Em abril deste ano, o valor médio das dívidas vencidas dos inadimplentes no Estado chegou a R$ 5.048,04, de acordo com levantamento da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Goiás (FCDL-GO), com base nos dados do SPC Brasil. Trata-se de um avanço preocupante, que dá sequência a uma escalada iniciada ainda no começo do ano, em janeiro, a média estava em R$ 4,7 mil.
Além disso, o número de consumidores com contas em atraso em Goiás cresceu 6,92% em comparação a abril de 2024, superando a média nacional, de 4,59%. Apesar disso, o índice ainda é inferior à média da Região Centro-Oeste (7,30%).
O cenário se agrava com a recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que no início de maio elevou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, alcançando 14,75% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas. A última vez em que a taxa básica de juros esteve nesse nível foi em julho de 2006. A justificativa do Banco Central inclui projeções de inflação acima da meta, pressão sobre o mercado de trabalho e resiliência da atividade econômica.
Com a taxa nesse patamar, o acesso ao crédito torna-se mais caro, e a rolagem de dívidas, mais difícil. “Essa política monetária, com juros altos, cria um efeito cascata na vida financeira das pessoas. Fica mais caro tomar crédito e mais difícil renegociar. Sem redução da Selic, é improvável vermos queda consistente da inadimplência no curto prazo”, analisa o controller financeiro, Newton Júnior.

Entrevista: Newton Júnior, controller financeiro
“A inadimplência deve persistir até que a Selic caia”
LEITURA ESTRATÉGICA — Há uma relação direta entre os juros altos e a inadimplência?
NEWTON JÚNIOR — Sem dúvida. Existe uma correlação diretamente proporcional. Quando a taxa Selic está alta, ela impacta o acesso ao crédito e encarece qualquer financiamento. Isso reduz o poder de compra, aumenta o custo das dívidas e eleva a inadimplência. É um efeito cascata que atinge desde as compras do dia a dia até a capacidade de quitar dívidas maiores.
LE — Há alguma previsão de melhora no cenário?
NJ — A reversão só deve ocorrer com uma redução significativa da Selic. Até lá, o cenário tende a permanecer como está. A expectativa é que essa mudança ocorra apenas no final de 2025, se não houver novos fatores de pressão na economia. Enquanto isso, os consumidores devem ser extremamente cautelosos.
LE — Qual é a orientação para os inadimplentes neste momento?
NJ — Minha recomendação é clara: evitem contrair novas dívidas agora. Esse não é o momento ideal para renegociar, a menos que as condições sejam extremamente vantajosas. O ideal é esperar por um ambiente de juros mais baixos. Enquanto isso, é fundamental reavaliar todas as despesas — pessoais e empresariais. Cada gasto precisa ser pensado de forma estratégica, com os pés no chão. O foco agora deve ser o equilíbrio, não o consumo.
Mapa do Score: a radiografia do crédito no Brasil
Para ajudar consumidores e empresas a compreenderem melhor o comportamento de crédito da população, a Serasa lançou o Mapa do Score, um novo indicador semestral que revela a pontuação média dos brasileiros. No primeiro semestre de 2025, a média nacional foi de 548 pontos, o que indica um perfil considerado “bom” (entre 501 e 700).
“O score reflete hábitos de pagamento, dívidas em aberto, tempo de relacionamento com o mercado e outros fatores”, explica Wesley Brandão, especialista da Serasa. “Consumidores mais jovens, por estarem iniciando sua jornada financeira, atualmente têm pontuações mais baixas. Já os mais experientes acumulam histórico positivo, o que pesa a favor na pontuação”.