Vivemos em um momento em que a tecnologia nos permite medir praticamente tudo. Cada clique, cada acesso, cada comportamento é traduzido em números, relatórios e indicadores que tentam explicar o que deu certo e o que deu errado. Os dados se tornaram uma espécie de bússola moderna para a tomada de decisão e isso é, sem dúvida, um avanço. No entanto, há um limite que poucos enxergam: os dados mostram o passado, mas não apontam o futuro. Eles são o espelho retrovisor da jornada, não o para-brisa que revela o caminho adiante.
A verdadeira diferença entre quem apenas acompanha o mercado e quem o transforma está na capacidade de projetar além dos números. Ter visão estratégica é enxergar padrões antes que se tornem evidentes, é interpretar os dados com sensibilidade humana e perceber oportunidades que ainda não estão estatisticamente comprovadas. A visão nasce da observação, da curiosidade e da coragem de fazer conexões que a maioria não faz – e isso é algo que nenhum dashboard é capaz de entregar.
É comum ver empresas presas ao que os relatórios mostram, adaptando-se reativamente aos resultados, tentando corrigir erros ou repetir acertos. Mas quem trabalha com tecnologia há tempo suficiente sabe que os grandes saltos não nascem de métricas, e sim de percepções. A inovação surge quando alguém entende o comportamento por trás do número, o contexto além da planilha, o motivo real que move as pessoas. Dados revelam o que aconteceu, mas apenas a visão revela porque aconteceu -, principalmente, o que pode acontecer a seguir.
Quando comecei a lidar com sistemas que recebem milhões de acessos, percebi que cada número no painel escondia uma história humana. O aumento no tempo de permanência, a queda de engajamento, a mudança de horário de pico – tudo isso são reflexos de emoções, hábitos e escolhas que mudam todos os dias. Foi aí que compreendi que a tecnologia é feita de pessoas, e que toda decisão técnica precisa ser guiada por um entendimento humano.
O problema é que, em muitas empresas, a dependência dos dados virou uma forma de se proteger da incerteza. É como se o número validasse a decisão, e não o contrário. Mas a história mostra que as maiores transformações aconteceram justamente quando alguém ousou ir além das evidências. Steve Jobs não tinha dados que provassem que as pessoas queriam um smartphone sem teclado físico. Elon Musk não tinha estatísticas que garantissem o sucesso de carros elétricos em um mercado dominado por combustíveis fósseis. Ambos tinham algo que os números ainda não podiam provar: visão.
A visão é o elo entre a lógica e a intuição. Ela não ignora os dados, mas os interpreta sob uma perspectiva mais ampla, conectando o que já existe ao que ainda pode existir. É o que permite a um empreendedor entender que um comportamento em queda pode ser um convite à reinvenção, e não um motivo para desistir. É o que transforma um problema em insight e uma tendência passageira em modelo de negócio duradouro.
Por isso, quando penso em estratégia, não vejo os dados como ponto final, mas como ponto de partida. Eles são o mapa de onde estivemos, mas não substituem a bússola de onde queremos chegar. A visão é essa bússola. Ela não depende de certezas, mas de clareza – clareza de propósito, de valor e de futuro.
No fim das contas, empresas que crescem de forma consistente são aquelas que unem inteligência analítica e visão criativa. Usam os dados para compreender o presente e a visão para desenhar o amanhã. Porque, no mundo digital, a velocidade é importante, mas a direção é essencial. E direção se constrói com visão – não com planilhas.
Os dados continuarão sendo nossos melhores aliados para entender o que foi feito. Mas é a visão que continuará sendo nossa maior ferramenta para construir o que ainda está por vir.

Carlos Monteiro
CEO da CMX Tech e especialista em audiência digital