Há décadas se discute a necessidade de uma Reforma Tributária no Brasil, mas foi apenas em 2019 que o tema ganhou força com as primeiras propostas no Congresso e avançou de forma decisiva com a promulgação da emenda constitucional em janeiro do ano passado. As mudanças já estão aí: a partir de 1º de janeiro de 2026 começa a transição, e as empresas terão que operar sob dois sistemas tributários até 2033. Mesmo após toda essa trajetória, muitos gestores ainda ignoram o que está por vir.
Resultado de pesquisa recente produzida pela NTT Data, com mais de 1.600 gestores brasileiros, revela reforça esse cenário de incertezas: 58% das empresas não fizeram nada ou ainda estão apenas pensando como implantar as mudanças que virão com a reforma. O estudo foi publicado em julho deste ano na Revista Capital Econômico. E o mais impressionante é perceber que profissionais da área também estão confusos diante da camada extra de complexidade à gestão empresarial. O estudo “Sondagem OMIE do setor contábil” diz que 48% dos contadores não se sentem prontos para as mudanças.
Mas o fato é que entraremos em uma fase que exigirá mais do que experiência, será preciso investir em soluções digitais e a capacitação constante será essencial para garantir eficiência, reduzir custos e minimizar riscos durante essa complexa transição. Se for encarada com inteligência tributária, a Reforma Tributária pode ser uma oportunidade para muitos, mas quem não estiver preparado pode estar correndo sérios riscos, principalmente as empresas que estão crescendo em faturamento e participação no mercado.
Pequenos negócios até podem sentir um certo alívio inicial, com simplificação no cumprimento de obrigações e menor custo de conformidade. No entanto, conforme prosperam, estas empresas devem enfrentar um aumento considerável na carga tributária. Nesse contexto de transição e incertezas, não dá para errar. É fundamental contar com soluções tecnológicas e tributárias de alto nível.
De olho nas oportunidades
Um ponto importante será a tendencia de ampliação da tomada de créditos fiscais. Com a chegada da não cumulatividade plena nos novos tributos IBS e CBS, praticamente todas as despesas vinculadas à atividade empresarial poderão gerar crédito, incluindo custos operacionais antes desconsiderados. Para aproveitar esse potencial, é fundamental que as empresas revisem as suas bases tributárias atuais e reclassifiquem despesas, garantindo ganhos já nos primeiros anos do novo modelo e evitando pagamentos indevidos.
Nesse cenário, o uso intensivo de tecnologia é essencial para auditar e identificar créditos fiscais não aproveitados, especialmente os de PIS e Cofins, que serão extintos e prescrevem em cinco anos. A recuperação desses valores e a adaptação de processos e sistemas para a nova lógica tributária fortalecem o fluxo de caixa e reduzem riscos fiscais. Assim, a transição deixa de ser apenas uma obrigação legal e se transforma em uma estratégia para aumentar a eficiência e a competitividade empresarial.
Não há espaço para amadorismo, por isso adoção de inteligência tributária avançada deve ser levada a sério para análises mais criteriosas, assertivas e estratégicas, reduzindo riscos e identificando oportunidades legítimas de economia. Nesse novo ciclo, a diferença entre ser penalizado ou prosperar estará na qualidade do planejamento e na capacidade de adaptação.

Ivan Lima,
CEO da KBL Contabilidade, boutique contábil sócia membro do Tax Group.